As memecoins são um tipo peculiar de criptomoeda. Elas normalmente são inspiradas em memes da internet, piadas ou animais, como gatos, sapos, pássaros, entre outros. Há períodos em que a indústria de criptoativos pode parecer um zoológico, tamanha a diversidade de moedas digitais associadas a bichos. A mais famosa delas é a Dogecoin (DOGE), ligada ao famoso cachorro da raça Shiba Inu que viralizou na web.
Mas não se enganem. Embora pareçam fofas e divertidas à primeira vista, essas criptomoedas são extremamente arriscadas e voláteis. Além disso, como podem ser criadas em poucos minutos, elas atraem golpistas que lançam novas memecoins a todo momento com o objetivo de enganar investidores desavisados e embolsar uma grana.
Neste guia, o InvestNews explica o que são memecoins, como elas são criadas, quais os riscos envolvidos nesse tipo de investimento (spoiler: são muitos) e que fatores influenciam exatamente seus preços, que são mais instáveis que os das demais criptomoedas.
O que são memecoins?
Memecoins são criptomoedas inspiradas em memes ou piadas da internet. Normalmente, elas são criadas como brincadeiras e não têm nenhum propósito sério, ao contrário de outros criptoativos do mercado, como o Bitcoin (BTC), que funciona como “dinheiro virtual”, ou o Ethereum (ETH), usado para construção de outras aplicações.
Como as memecoins são criadas?
Assim como as demais criptomoedas, as memecoins normalmente são criadas em uma blockchain, sistema usado para administrar as transações dos ativos virtuais. As principais redes usadas para o desenvolvimento desses tokens são o Ethereum (ETH) e a Solana (SOL). Lembrando que, no mercado cripto, tanto o ativo digital como sua blockchain costumam receber o mesmo nome.
Até pouco tempo atrás, os desenvolvedores precisavam ter certo conhecimento em programação para lançar memecoins, especialmente sobre smart contracts (contratos inteligentes). Esses contratos inteligentes são programas executados de forma automática quando termos e condições pré-determinadas são atendidas.
No início de 2024, no entanto, o pseudônimo Alon criou na rede Solana um protocolo chamado Pump.fun, que permite que qualquer pessoa dê vida a uma memecoin em poucos minutos, mesmo sem ter conhecimento de programação. No primeiro ano, pouco mais de 5 milhões de tokens foram criados, segundo dados da plataforma de análise de blockchain Dune.
Quais as principais memecoins do mercado?
Dogecoin (DOGE): Primeira memecoin do mercado, foi lançada originalmente como uma piada, no final de 2013, por Billy Markus e Jackson Palmer. Os dois achavam que o setor cripto estava sendo levado muito a sério e queriam criar algo divertido. O token, baseado na imagem de um cachorro da raça Shiba Inu, conquistou um público fiel – inclusive de bilionários e famosos, como o empresário Elon Musk – e se tornou uma das 10 maiores criptomoedas em capitalização. O token tem uma blockchain própria.
Shiba Inu (SHIB): Foi lançada em meados de 2020 por alguém que se esconde sob o pseudônimo de Ryoshi. A memecoin nasceu como uma rival da Dogecoin, oferecendo mais funcionalidades e plataformas para os usuários. Além do token, o projeto também tem uma exchange descentralizada (plataforma que permite negociações de criptos sem intermediários) chamada ShibaSwap, um metaverso nomeado de Shib the Metaverse, além de outros tokens adicionais. Funciona na rede Ethereum.
Pepe (PEPE): Também foi criada por desenvolvedores anônimos, no início de 2023. Conseguiu se diferenciar das demais memecoins, normalmente ligadas a cachorros, porque é baseada no meme do famoso Pepe the Frog, um personagem criado pelo artista e cartunista norte-americano Matt Furie. Apesar da associação, a criptomoeda não é ligada oficialmente a Furie ou ao personagem criado por ele. Roda no Ethereum.
Bonk (BONK): A Bonk também é inspirada no meme de um cachorro da raça Shiba Inu, como Dogecoin e Shiba Inu, mas com um estilo visual mais “cartoonizado”. Foi lançada no final de 2022, na rede Solana, por usuários anônimos, no momento em que a SOL enfrentava problemas por causa de sua associação com a exchange FTX, que entrou em colapso naquele ano. O objetivo do token, portanto, era unir a comunidade da Solana em um momento difícil — e deu certo.
Dogwifhat (WIF): É outra memecoin desenvolvida inicialmente na blockchain Solana. Foi lançada por desenvolvedores anônimos e rapidamente ganhou popularidade por causa de suas características simples e divertidas. Ela foi inspirada no meme de um cachorro usando gorro rosa. A cripto, lançada no final de 2023, não tem funcionalidades inovadoras ou casos de uso, servindo mais para especulação.
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Quais os riscos das memecoins?
Memecoins são altamente especulativas e extremamente arriscadas, mais do que as criptomoedas estabelecidas no mercado. Confira abaixo os principais riscos associados a essa classe de tokens.
Baixa taxa de sobrevivência: Segundo dados do estudo “State of memecoins”, feito em 2024 pelo hub de blockchain Chainplay, 97% das memecoins criadas morreram – ou seja, o preço caiu a 0. Além disso, o tempo médio de vida útil delas é de apenas um ano.
Volatilidade extrema: O preço é impulsionado principalmente pelo hype nas redes sociais. Como resultado, investidores podem experimentar grandes ganhos em um dia e perdas substanciais no dia seguinte, segundo Caio Leta, head of content e research da fintech Bipa.
Falta de valor fundamental: As memecoins geralmente não têm valor intrínseco ou fundamentos sólidos, segundo Leta, “ao contrário de investimentos tradicionais, que têm valor baseado em métricas econômicas”.
Baixa liquidez: Diferente do Bitcoin, Ethereum e outras altcoins conhecidas, as memecoins têm pouca liquidez, o que significa que qualquer movimento mais significativo de capital pode afetar drasticamente os preços, de acordo com Leta.
Quais fatores influenciam o preço das memecoins?
O preço das memecoins é influenciado principalmente por narrativas nas redes sociais. “No geral, memecoins com comunidades grandes e engajadas tendem a ter maior visibilidade e suporte”, diz Leta.
Endossos de figuras públicas também tendem a afetar o preço. O principal exemplo vem do bilionário Elon Musk, um fã declarado de Dogecoin. Qualquer comentário que dele sobre a criptomoeda faz seu preço disparar.
Especulação e FOMO (Fear of Missing Out, ou medo de ficar de fora, em português) também podem influenciar o preço. Se muitos investidores decidem comprar determinada memecoin com receio de ficar de fora de uma possível valorização, há mais demanda pelo token e, consequentemente, ele sobe.
Como escolher memecoins?
Memecoins são arriscadas por natureza. A recomendação dos especialistas é que o investidor só invista nesse tipo de token aquele dinheiro que não vai fazer falta. Confira abaixo algumas dicas sugeridas, que ajudam a diminuir e aproveitar possíveis valorizações.
Comunidade: Prefira memecoins com comunidades grandes e ativas, pois isso aumenta suas chances de sucesso, recomenda Renato Duarte, especialista em investimentos do Grupo Fractal.
Blockchain utilizada: Memecoins criadas em blockchains populares, como Solana (atualmente a mais utilizada para esta finalidade), têm maior probabilidade de atrair investidores e desenvolvedores confiáveis, de acordo com Duarte.
De olho nos dados: Segundo Duarte, vale a pena verificar informações detalhadas dos projetos em plataformas como CoinMarketCap e CoinGecko, que são ferramentas para pesquisar criptos, verificar capitalização de mercado, acompanhar volume de transações e analisar o histórico de preços.
Redes sociais: As memecoins são movidas puramente por narrativas sociais e hype, segundo Leta. Por isso, o investidor que investiu para especulação e quer ganhar uma grana com valorização “deve acompanhar onde essas narrativas nascem e se espalham, como X, Discord e fóruns especializados da internet”.
Onde comprar memecoins?
Os investidores podem comprar memecoins nas exchages de criptomoedas. Elas normalmente custam centavos. Para transferir dinheiro para as corretoras, basta fazer um cadastro e abrir uma conta. Essas plataformas geralmente pedem alguns dados, como CPF, data de nascimento e e-mail. Na sequência, basta transferir dinheiro e escolher as criptos. Não há taxas de manutenção e custódia nas corretoras. No entanto, há tarifas para negociações.
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Como identificar golpes?
O setor de memecoins é repleto de esquemas fraudulentos e golpes. De acordo com o hub Chainplay, 55,2% das memecoins são maliciosas. Além disso, cerca de um terço dos investidores que investiram nesse tipo de criptomoedas sofreram perdas financeiras por causa de fraudes. Há, no entanto, algumas maneiras de identificar possíveis problemas e reduzir os riscos.
Anonimato: Algumas memecoins de sucesso — assim como o próprio Bitcoin — foram criadas por desenvolvedores anônimos. No entanto, esse é um fator que deve acender um sinal de alerta em tokens novos. Projetos legítimos no mercado de criptomoedas geralmente contam com equipes que podem ser facilmente identificáveis pelo Linkedin, por exemplo.
Exageros: As memecoins dependem de propagandas e do apoio de suas comunidades nas redes sociais. Por isso, vale tomar cuidado com promessas irrealistas ou exageradas, do tipo “essa criptomoeda será a nova Dogecoin do mercado” ou “não perca a oportunidade de faturar alto com essa memecoin”.
Liquidez: Se a equipe responsável pelo projeto bloquear o saque e a liquidez, cuidado, pois isso pode ser um indicativo de “rug pull”, golpe em que os preços são inflacionados artificialmente e depois despencam. “Os rug pulls são a norma, não a exceção, o que aumenta o risco para investidores”, diz Leta, da Bipa.
Listagem: As exchanges de criptomoedas sérias normalmente têm um rigoroso processo para verificar e listar novos tokens para negociação. Portanto, pode também ser um sinal de alerta o fato de determinada memecoin estar listada apenas em corretoras desconhecidas e obscuras.
Memecoins: moda temporária ou oportunidade?
Guilherme Nazar, vice-presidente regional da Binance para a América Latina, diz que a capacidade de criar novos tokens a praticamente nenhum custo vai gerar uma oferta significativa de diversas memecoins no mercado. “No fim, a atenção e os recursos provavelmente vão se concentrar em algumas poucas memecoins que mostrem longevidade e resiliência. Alguns exemplos de memecoins duradouras incluem DOGE e SHIB, que mantiveram sua relevância ao longo dos anos”.
Nazar destaca ainda que a Binance reconhece o potencial de algumas memecoins se tornarem players relevantes no ecossistema, apesar da taxa de sobrevivência baixa e da especulação. “Embora muitas memecoins possam não sobreviver, elas refletem a natureza inovadora e dinâmica do espaço cripto, além de ressoarem com um público jovem e conectado à internet. Isso faz com que valha a pena compreendê-las como parte da evolução mais ampla da tecnologia blockchain”.