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Criptomoedas

CONTEÚDO JORNALÍSTICO APOIADO POR

Quais são os riscos para quem investe em criptomoedas?

Mudanças nas regras e a alta incidência de golpes respigam nos preços desses ativos

Bitcoin, criptomoedas e criptoativos.
Ilustração: João Brito

As criptomoedas estão com a bola toda — não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Gestoras internacionais e locais lançaram produtos financeiros com exposição a ativos digitais, companhias estrangeiras têm moedas digitais em seus caixas, com montantes superiores ao valor de mercado de várias empresas brasileiras, e a B3 tem mais de uma dezena de fundos associados a criptoativos. Além disso, investidores de varejo e institucionais demonstram cada vez mais interesse por ativos digitais.

Apesar de toda essa popularidade, as criptos ainda são instrumentos de alto risco. A volatilidade continua alta, quando comparada a outros ativos conhecidos, como índices de ações ou commodities. Embora os países estejam discutindo a regulação delas, as incertezas quanto às futuras regras podem respingar nos preços e na adoção. Para completar, golpistas e hackers continuam de olho nos investidores e nas plataformas que oferecem serviços na área.

Neste guia, o InvestNews explica quais são os principais riscos para quem investe em criptomoedas, como identificá-los e como investir com segurança. Conta como fugir dos golpes existentes no mercado e como fazer pesquisas adequadas. Por fim, reúne recomendações de especialistas sobre alocações adequadas para cada perfil de investidor (conservador, moderado e arrojado).

O que são criptomoedas?

As criptomoedas são moedas digitais, semelhantes a dinheiro, que funcionam em uma blockchain, espécie de livro contábil descentralizado que armazena todas as transações realizadas por usuários — de forma transparente e imutável. Diferentemente das moedas fiduciárias, como real, dólar e euro, as criptomoedas não são emitidas ou controladas por governos e bancos centrais. Tudo é regido por meio de algoritmos de computador e regras previamente estabelecidas no código.

A primeira criptomoeda do mercado, o Bitcoin (BTC), foi criada no final de 2008, época em que o mundo ainda lidava com a crise do subprime. Ela foi desenvolvida por Satoshi Nakamoto, cuja identidade até hoje permanece um grande mistério. Na sequência, outros criptoativos também foram lançados — alguns dos principais são Ethereum (ETH), Solana (SOL), BNB Chain (BNB), Tether (USDT), Dogecoin (DOGE), Cardano (ADA) e USD Coin (USDC).

Como as criptomoedas são criadas?

Há duas principais formas de criar criptomoedas. O Bitcoin, por exemplo, usa a mineração de criptomoedas, um processo regido por um algoritmo de computador chamado Proof of Work (prova de trabalho, na tradução para o protuguês). Em resumo, computadores (chamados de mineradores) resolvem problemas matemáticos complexos para validar transações na blockchain e, como recompensa, recebem novos tokens pelo trabalho. Quanto mais força computacional, mais chances de ganhar criptos. São esses pagamentos que mantêm a emissão de novas unidades de Bitcoin no mercado. Todas as regras são definidas no whitepaper (guia) do projeto, publicado no final de 2008.

A segunda forma mais famosa é o Proof os Stake (Prova de Participação, na tradução para o português), usada pelo Ethereum. Esse sistema é considerado mais ecológico, pois não exige o alto consumo de energia característico do modelo do Bitcoin. Por meio dele, novos tokens são gerados por participantes que “bloqueiam” suas criptomoedas em smart contracts (contratos inteligentes). Ou seja: os participantes são recompensados pela participação no sistema, não pela força computacional.

Com a popularização das criptomoedas, no entanto, desenvolvedores e plataformas criaram formas mais simples para dar vida a novas moedas virtuais. Hoje em dia, é possível lançar uma criptomoeda preenchendo formulários simples. Um dos exemplos é a plataforma Pump.Fun, criada na blockchain da Solana, que permite a criação de memecoins (aqueles criptoativos baseados em memes ou piadas da internet) em poucos minutos.

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Riscos de investir em criptomoedas

As criptomoedas oferecem boas oportunidades de retorno. O Bitcoin, por exemplo, não valia nem um centavo quando foi lançado, mas pulou para perto dos US$ 100 mil no final de 2024. Apesar do desempenho, superior a muitas empresas conhecidas, as cripto oferecem vários riscos. Confira abaixo alguns dos principais:

Volatilidade: A variação dos preços das criptomoedas ainda é alta na comparação com outros ativos financeiros. A volatilidade do Bitcoin foi de três a quase quatro vezes maior do que vários índices de ações, como S&P 500 e o índice de small caps dos EUA, entre o início de 2020 e o começo de 2024, de acordo com estudo da Fidelity Digital Assets. Para não ser totalmente injusto com a criptomoeda, a mesma pesquisa mostrou que a volatilidade do BTC foi parecida a de algumas big techs no mesmo período.

Liquidez: Plataformas podem ter dificuldade de pagar os investidores após eles solicitarem a conversão de criptomoedas em reais. “As vulnerabilidades nos mercados de criptoativos que aumentam os riscos de liquidez são a centralização da negociação em grandes corretoras, a incompatibilidade nas reservas de stablecoin (criptomoeda estável), a propensão a corridas de investidores e as vulnerabilidades operacionais relacionadas ao trilema de escalabilidade (refere-se ao desafio de blockchains alcançarem segurança, escalabilidade e descentralização ao tempo)”, segundo o Banco de Compensações Internacionais (BIS), em documento publicado em meados de 2023.

Custódia: Há três principais maneiras de guardar as criptomoedas compradas: em exchanges, em hot wallets (carteiras conectadas à internet) ou em cold wallets (carteiras fora da rede mundial de computadores, parecidas com um pen drive). No caso das corretoras, há riscos de gestão — a FTX, cuja falência foi decretada em 2022, que o diga. Por isso, segundo especialistas, é importante pesquisar bem a plataforma escolhida. Em relação às carteiras, são os próprios investidores os responsáveis pela segurança e por guardar as chaves de acesso às criptos. Se não tomam cuidado em esconder senhas ou mesmo proteger as carteiras, eles podem ser alvos de hacks e perder os valores.

Operacionais: A indústria de criptomoedas depende muito da tecnologia. As blockchains de moedas digitais famosas, como Bitcoin e Ethereum, já foram testadas pelo tempo, mas sistemas de novos projetos, especialmente as plataformas das finanças descentralizadas (DeFi), podem apresentar problemas. “Erros de codificação, bugs, apagões e outros problemas técnicos podem levar a perdas significativas para investidores, bolsas e outros participantes do mercado”, disse o BIS.

Regulação: Os países têm se esforçado para regular as criptomoedas. O governo federal do Brasil sancionou, no final de 2022, o Marco Legal das Criptomoedas, que determina as diretrizes para as empresas que prestam serviços na área. O parlamento europeu aprovou um pacote regulatório em 2023 e os Estados Unidos ainda discutem planos. Incertezas com as mudanças regulatórias, no entanto, podem impactar nas criptomoedas. Em 2021, por exemplo, a China proibiu a mineração de BTC (processo de emissão de novos tokens), o que afetou o preço.

Golpes: Em 2023, segundo o “The 2024 Crypto Crime Report”, relatório da empresa de análise de blockchain Chainalysis sobre atividades ilícitas com ativos digitais, os endereços de criptomoedas associados a fraudes receberam um total de US$ 24,2 bilhões, queda de quase 40% em relação aos US$ 39,6 bilhões de 2022. Apesar do recuo, segundo o levantamento, o mercado ainda está repleto de scams, ransomware e outros tipos de softwares maliciosos, o que exige cuidado redobrado dos investidores. Além dos esquemas na internet, também há golpistas que operam pirâmides financeiras disfarçadas de investimento em criptos.

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Como reduzir os riscos ao investir em criptomoedas?

Alexandre Senra, procurador da República e coordenador do MBA em criptoativos da Trevisan Escola de Negócios, disse que há estratégias para lidar com os riscos associados ao mercado de criptomoedas. Sobre a volatilidade dos preços, ele falou que a recomendação para os investidores é a seguinte: “Não se alavanque, não invista valores de que possa precisar no curto prazo, maneire na exposição”.

O especialista falou que, se o investidor resolver deixar o dinheiro em exchanges, é preciso que ele “confie nelas”. Já se decidiu fazer a própria custódia dos ativos digitais, é necessário que “domine conceitos como carteira (local onde as criptos são armazenadas), chave privada (senha que dá acesso às criptos), endereço público (semelhante a uma conta para receber pagamentos), frase de recuperação (espécie de chave mestra para recuperar sua carteira) e senha (usada para proteger acesso local)”

Sobre os golpes associados a criptomoedas, Senra afirma que, se a oferta é boa demais para ser verdade, então não é séria. “Rendimentos mensais garantidos de 10% ou até mais com baixo risco não existem. Nem em cripto nem em nenhum outro mercado. Se existissem, com apenas R$ 50, ao final de dez anos você já teria quase R$ 5 milhões e, no vigésimo sétimo ano do seu investimento, teria mais dinheiro do que todo o dinheiro existente sobre o planeta, ultrapassando a cifra de R$ 500 trilhões”.

Como escolher plataformas confiáveis?

O mercado de criptomoedas é relativamente novo e, por isso, conta com poucos especialistas, na comparação com o “mercado tradicional”. Diante desse cenário, é recomendado que o investidor faça sua própria pesquisa — ou “Do Your Own Research” (DYOR), em inglês —, expressão que ficou bastante popular na indústria.

Na prática, significa que o interessado em comprar criptomoedas precisa analisar bem não só as exchanges e demais plataformas escolhidas para investir ou armazenar suas criptos, mas também as moedas digitais adquiridas. A ideia é mergulhar na internet em busca de informações confiáveis sobre as empresas para a custódia, equipes envolvidas nos projetos cripto e fundamentos dos ativos digitais, de modo a diminuir os riscos. Veja algumas dicas:

Reputação: O ditado popular “falem bem ou falem mal, mas falem de mim” funciona bem para cripto. Qualquer pesquisa na internet, nas redes sociais, fóruns ou plataformas de defesa do consumidor, como o Reclame Aqui, pode fornecer informações e opiniões de terceiros sobre plataformas de criptomoedas.

Liquidez: Como a falta de liquidez é um dos riscos apontados para o investimento na indústria, vale também averiguar o volume de negociações das exchanges em agregadores de dados sobre criptomoedas. Os mais populares do mercado são o CoinGecko e o CoinMarketCap.

Equipe: A experiência da equipe influencia diretamente o negócio. Por isso, segundo especialistas, vale verificar os perfis dos integrantes no Linkedin e em outras redes sociais, avaliar outros projetos que eles participaram, investigar se essas iniciativas anteriores tiveram êxito ou fracassaram e pesquisar se algum integrante participou de esquema fraudulento no passado.

CNPJ e selo: Segundo a Anbima, em sua plataforma Se Liga na Fraude, vale também conferir se a empresa tem CNPJ. Uma empresa formalmente registrada no Brasil costuma seguir as regulamentações locais. É possível conferir no site da Receita Federal essa informação. Presença de selo de garantia de segurança também é um indicativo positivo, de acordo com a associação.

Quanto investir em criptomoedas?

Criptomoedas são consideradas ativos de alto risco por causa da volatilidade e dos outros pontos indicados ao longo deste texto. Por isso, segundo especialistas, elas são indicadas apenas para investidores com estômago para suportar as constantes variações. Antes de investir, é importante que a pessoa analise bem seu perfil antes de fazer qualquer alocação e aloque apenas o dinheiro que não será usado no dia a dia. Veja, abaixo, as recomendações:

Uma carteira conservadora deve ter no máximo 3% de cripto, segundo Luiz Pedro, analista-chefe de criptoativos da Nord Research. “A volatilidade de cripto, frente à proporção mais elevada de produtos de baixo risco em uma carteira conservadora, pode ter papel preponderante na performance geral”.

Para investidores moderados, o recomendado é entre 3 e 6%. Já para carteiras de investidores mais arrojados, segundo o especialista, vale arriscar um pouco mais. “10% são o limite para que a posição de cripto ajude no sharpe a longo prazo e não tenha uma inferência dominante no resultado da carteira”.

Quais criptomoedas escolher?

O analista-chefe de criptoativos da Nord Research recomenda aos investidores iniciantes começarem pelo Bitcoin para entender o funcionamento e a volatilidade. Seria um “teste de apetite a risco”. Ele afirma que o curto prazo em cripto pode ser cruel e deve ser ignorado. “O foco deve ser no longo prazo”. Depois desse teste, ressalta, vale buscar a diversificação no setor cripto com altcoins (termo usado para identificar qualquer criptomoeda diferente do Bitcoin), de maneira gradual.

Mychel Mendes, sócio da Tokeniza, sugere uma segunda estratégia. Para quem está começando agora no mercado, vale focar em três tipos de ativos na carteira cripto: 50% em Bitcoin, 30% em Ethereum e 20% em outros tokens. “Seria fiel a esses percentuais independente do perfil, pois o fator conhecimento dentro do mercado cripto é crucial. Aqui nesse modelo ele teria 80% nas duas maiores moedas e os outros 20% para conhecer o mercado enquanto aprende”.

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