Se tem algo que a globalização fez bem foi colocar produtos estrangeiros cada vez mais perto das pessoas. E faz sentido: de aparelhos celulares a bens de consumo, trazer algo de outro mercado pode ser mais simples e barato do que produzir internamente.

Para os investimentos, não tão é diferente. E é nesse contexto que entram os chamados BDRs de ETFs, uma alternativa barata que permite aos investidores brasileiros acessar uma gama vasta de produtos em mercados globais.

Um Brazilian Deposit Receipts (BDR) corresponde a um “recibo” de um ativo negociado no mercado americano. É o equivalente a negociar no mercado local uma ação que está listada lá fora. Já os ETFs são fundos que seguem um índice e têm cotas negociadas na bolsa, como se fossem ações.

No mercado americano, há diversos ETFs com propostas variadas, desde acompanhar o desempenho dos maiores índices de mercado, até reproduzir o retorno de ações menores ou de títulos de renda fixa. Replicar esses ETFs no Brasil poderia tornar o produto mais caro e sem a liquidez da versão original.

É aí que entram os BDRs. Como eles são a versão local de um produto financeiro de fora, tornam-se uma maneira de importar um fundo de índice estrangeiro para o Brasil, sem precisar de corretoras internacionais.

Os BDRs de ETFs são acessíveis a qualquer perfil de investidor, sejam do varejo ou qualificados (com mais de R$ 1 milhão). A taxa de administração varia de 0,2% a 0,6% ao ano sobre o patrimônio líquido – entre as mais baixas do mercado.

Um exemplo: para um investimento de R$ 10 mil, uma taxa de administração de 0,2% vai custar R$ 20 anualmente. Mas essa taxa já está embutida na rentabilidade lá fora. O investidor brasileiro vê o retorno já líquido da taxa, sem cobrança extra.

Sobre os ganhos com esses produtos também há incidência de imposto de renda, de 20% para o chamado “day trade”, ou seja, operações de compra e venda no mesmo dia. Para negociações mais longas, a alíquota cai para 15%. Isso se o investidor vender o BDR e tiver lucro. Enquanto o investidor não vender, não precisa pagar o IR.

O que tem na prateleira?

São 260 tipos de BDRs de ETFs disponíveis na B3. O cardápio é variado. Quer aplicar em renda fixa dos EUA? Tem vários BDRs de ETFs de títulos públicos americanos, com diversos prazos de vencimentos, como o iShares US Treasury Bond (BGOV39) ou o iShares 7-10 Year Treasury Bond (BIYT39).

Busca exposição em mercados diferentes, como ações da Suíça? Pois a B3 oferece um recibo de um ETF para isso, o iShares MSCI Switzerland (BEWL39). Se o seu negócio é cripto, pode optar pelo BDR de iShares Ehtereum Trust (ETHA39) ou de Bitcoin (IBIT39).

O maior importador de ETFs para o Brasil é a gigante americana BlackRock, que domina 60% desse segmento na B3 em número de ofertas. A maior gestora em ativos no mundo, com US$ 11 trilhões sob seu guarda-chuva, já trouxe 152 BDRs de ETFs de sua família iShares. Parece muito, mas essa quantidade representa pouco mais de 10% dos 1,5 mil ETFs da linha.

A BlackRock quer mais. Ao longo do ano, vai trazer mais 20 estratégias internacionais para cá. “Esse é um mercado que a gente acredita e vai seguir investindo”, afirmou o chefe da operação brasileira da gestora dos EUA, Bruno Barino, em conversa com jornalistas na sede da gestora.

Além da gestora dos EUA, a B3 oferece ainda BDRs de ETFs de outras cinco casas, as americanas First Trust e Pimco, a sul-coreana Global X, a escocesa Aberdeen e a alemã DWS. Os produtos incluem estratégias vinculadas a computação em nuvem, IA, segurança cibernética, commodities metálicas e crédito privado, entre outras.

Para quem busca renda, há também os BDRs de ETFs que pagam dividendos, como os de ações e de Reits, que são os fundos imobiliários do mercado americano. Nesse caso, os proventos recebidos têm retenção na fonte, que obedece a legislação do país de origem. Nos EUA, por exemplo, as alíquotas variam de 15% a 30%.

O dividendo recebido também vai compor a renda tributável, junto com outras fontes como salário e aluguéis. Por isso, o investidor precisa recolher o IR devido sobre o provento por meio de carnê-leão, mas pode compensar o imposto já pago no exterior. Há ainda a cobrança de 0,38% de IOF sobre o câmbio. Isso porque o investimento na bolsa é feito em reais, mas o recurso é convertido para dólares quando aplicado.

Barino, da BlackRock, conta ainda que muitos investidores institucionais têm usado os ETFs como forma de operacionalizar estratégias de diversificação, tanto em classes, quanto geograficamente. “Hoje em dia, já é possível montar qualquer tipo de carteira só com os ETFs disponíveis no mercado brasileiro.”

O gestor cita, por exemplo, uma situação na qual um investidor quer ter recursos aplicados em ações asiáticas. Mesmo sem conhecer os mercados orientais, é possível montar uma posição com ETFs que seguem índices acionários do Japão ou da China.