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IN$ Entrevista

Brasil não tem crise de crédito, mas já enfrenta restrição, diz analista

Para Samer Serhan, da Jive Investments, oferta excessiva, eleições e crise na Americanas impulsionaram retração.

Com a alta de juros, inflação elevada, desaceleração da atividade econômica, empresas nacionais e bancos estrangeiros com dificuldades financeiras, o temor que o Brasil enfrente uma “crise de crédito” tem sido cada mais frequente. Para o analista Samer Serhan, sócio da Jive Investiments, ainda não dá pra caracterizar como uma crise efetivamente, mas sim uma restrição.

“A gente tem menos oferta de crédito. Existe uma demanda muito grande reprimida de crédito, seja para o investimento em infraestrutura, capital de giro, consumo das famílias, e tem menos oferta de crédito no mercado. Então, acho que a melhor definição é uma restrição. Você tem menos agentes financeiros emprestando dinheiro no mercado.”

De acordo com Serhan, no ano passado o país teve um excesso de oferta de crédito pelos agentes oficiais, bancos públicos, agências multilaterais e pelo próprio mercado de capitais. Mas, a partir de setembro de 2022, essa oferta começou a diminuir porque a economia não respondeu ao montante de dinheiro injetado.

Outro motivo da restrição foram as eleições que resultaram na volta do presidente Lula ao poder.

“Eleição é um momento de incerteza, você nunca sabe exatamente como vai ser o rumo do próximo poder executivo, do legislativo que vai entrar. Independente de ser uma reeleição ou não, isso não importa, é um novo governo de qualquer maneira|” ressaltou.

E o terceiro motivo da restrição de crédito no país foram os casos de pedidos de recuperação judiciais de empresas, como o caso da Americanas (AMER3), que fez com que essa oferta retraísse.

No entanto, o especialista diz que a restrição atingiu um platô e comparando o início do mês de abril com o fim de março, é possível ver uma pequena melhora na oferta de crédito em relação aos meses anteriores.

Sobre a crise nas lojas Americanas, Samer Serhan diz que o caso provocou um efeito direto no “apetite” tanto dos agentes do mercado de capitais como do sistema financeiro em conceder crédito a outras empresas e pessoas físicas que podem estar saudáveis, por medo de contaminação.

“Teve um impacto, principalmente no mercado de capitais, a oferta de debêntures e outros tipos de operações equivalentes no mercado, até que o mercado financeiro entendesse um pouco melhor até onde iria essa onda de pedidos de recuperação judicial e restruturação de dívidas”, disse ele.

Questionado sobre a crise bancária na Europa e Estados Unidos chegou afetar o Brasil, ele negou e disse que as agências reguladoras dos países agiram rapidamente estancando uma possível contaminação.

“O que poderia ter afetado é a capacidade das empresas brasileiras que se financiam no exterior ter menos acesso a dólares ou euros, porque esses mercados estariam mais fechados. Mas foi tão rápido, tanto o problema quanto a solução, que a gente viu um pouco de volatilidade no mercado, mas rapidamente voltou para uma normalidade.”

Medidas do governo para aumentar a oferta de crédito

O Ministério da Fazenda anuncia nesta quinta-feira (20) um conjunto com 13 medidas que pretendem estimular o mercado de crédito e impulsionar as Parcerias Público-Privadas (PPPs) nos estados e municípios.

Entre as medidas está a alteração do valor mínimo existencial para R$ 600, aval da união para PPPs nos estados e municípios, financiamento de novos setores por debêntures incentivadas, novas regras do mercado de crédito, uso de recursos de planos de previdência complementar aberta para empréstimos bancários, acesso a dados fiscais, proteção de investidores minoritários no mercado de capitais, entre outras.

Para Samer Serhan, além do que foi anunciado, outras microreformas e microprojetos que estão sendo encaminhados, tanto pelo Banco Central, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e pelo Ministério da Fazenda que vão ter que destravar do mercado de crédito.

“Isso é um facilitador, o empresariado vai ter que reagir a essas medidas, não adianta não reagir. Então quer dizer o que? Eles irem atrás do crédito, mostrar bons projetos, mostrar que existe de fato demanda para essas medidas que o governo está trazendo. O próprio mercado financeiro também precisa mostrar disposição, ajudar o governo e o empresariado a construir soluções para a oferta de crédito. Mas foi um excelente começo.”

Ele ressalta que boa parte das medidas anunciadas pelo governo precisa serem aprovadas por decreto ou por projeto de lei.

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