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Ação do Grupo Mateus recupera fôlego após ‘tombar’ com briga de rivais

Novata na bolsa, varejista ainda precisa provar seu valor ao mercado, mas analistas apontam que ela tem condições de consolidar seu crescimento.

Apesar da crise econômica e da incerteza com a reabertura do comércio, o mês de março deixou nítida a liderança do varejo alimentar que tem conquistado consumidores e investidores. Com novas aquisições no setor, uma empresa recém-chegada à bolsa, o Grupo Mateus (GMAT3), sentiu os efeitos colaterais da concorrência, mas não abandonou os planos de expansão e mostra que pode entrar na briga pela liderança.

Mesmo com os grandes players de mercado (Carrefour, Pão de Açúcar, Magazine e B2W disputando em uma briga acirrada o varejo de alimentos), outra disputa também chama a atenção, com o atacado e atacarejo (que reúne atacado e varejo) representados por Assaí (ASAI3) e Grupo Mateus (GMAT3).

Está em jogo a procura por descontos maiores, em decorrência da diminuição de renda do brasileiro e a frequência de compra.

Neste contexto, em março outro gigante entrou na briga. O Carrefour (CRFB3) anunciou a compra do Grupo Big, dando lugar a um conglomerado com com faturamento de R$ 100 bilhões, 137 mil funcionários e 876 lojas.

Não contente com a liderança do varejo, o Carrefour também apostou suas fichas no segmento de atacarejo e atacado, na tentativa de ganhar capilaridade a nível nacional, com dominância no Norte e Nordeste, além da possibilidade de oferecer os menores preços do mercado.

Ameaça dos rivais

Com o Big na jogada, o Grupo Mateus sentiu os efeitos colaterais, aponta Pedro Serra, gerente de análise da Ativa Investimentos. Ele destaca que muitos investidores institucionais e pessoas físicas chegaram a se questionar até que ponto o peso destes novos concorrentes poderia afetar o futuro promissor da companhia.

A desconfiança do mercado foi também sentida nas ações do Grupo Mateus, que em março, atingiram seu fundo do poço. Após a aquisição do Grupo Big pelo Carrefour, os papéis GMAT3 sofreram um pouco de estresse, de olho na concorrência acirrada do setor. No entanto, em abril foi perceptível um movimento de readequação.

“Muitos investidores institucionais conversaram com a empresa para entender de que forma esta competição poderia afetar o Grupo Mateus. E, aparentemente, o Grupo Big não é um negócio capaz de jogar os planos deles por água abaixo”, explica Serra.

Movimento natural

Já para Eduardo Guimarães, especialista em ações da Levante Investimentos, o movimento foi natural para uma companhia que fez IPO recentemente, em outubro de 2020. “Toda empresa que abre capital na bolsa tem o desafio de se provar no mercado. No varejo alimentar, Pão de Açúcar, Assaí e Carrefour já têm um histórico de liquidez e resultados”, defende.

Restou ao Grupo Mateus o desafio de fechar este gap com os concorrentes. Além disso, Guimarães destaca a redução do auxílio emergencial, de R$ 600 para parcelas de em média R$ 250, que fariam grande diferença no poder aquisitivo das famílias do Norte e Nordeste, principal praça da companhia.

“É um ano difícil para a economia, incerteza da continuidade dos incentivos fiscais dados pelo governo, tudo isso gera volatilidade nas ações do Grupo Mateus”, comenta. Para Guimarães, esse vaivém nos papéis da companhia pode ser resumido a um ciclo de pânico e euforia, enquanto o atacado se consolida como um segmento muito atrativo no mercado.

Serra avalia que a recuperação das ações em abril confirma que o Grupo Mateus (GMAT3) continua firme no plano ambicioso de expandir suas lojas para outras cidades e estados além do Norte e Nordeste, além dos resultados fortes que a companhia vem entregando. “Após as quedas, a ação do GMAT3 também ficou mais barata, e esse movimento de retorno foi natural”, acrescenta.

No 4º trimestre de 2020, o Grupo Mateus reportou lucro líquido de R$ 241 milhões, crescimento de 142,7% sobre igual período em 2019.

No ano de 2020, o lucro líquido ajustado da empresa somou R$ 776 milhões, alta de 112,2%.

Desde seu IPO, em 13 de outubro de 2020, a ação do Grupo Mateus (GMAT3) acumula queda de 6,47%, enquanto o Ibovespa valorizou 21,37% no período, segundo dados da Economatica Brasil.

De acordo com a Economatica, o Grupo Mateus encolheu de tamanho. Antes da estreia na bolsa, a companhia valia R$ 19.760 bilhões. No fechamento do dia 8 de abril, o valor de mercado era de R$ 18.536 bilhões.

Para destravar este valor, Serra aponta que a cereja do bolo do Grupo Mateus seria crescer no e-commerce e implementar soluções financeiras para os consumidores.

Conhecer seu público

Com forte presença no Norte e Nordeste, o Grupo Mateus é conhecido pela estratégia de entender a cultura do estado, cidade e praça de atuação antes mesmo de inaugurar uma loja.

Serra explica que, após essa análise e de acordo com a necessidade da região, a companhia escolhe entrar com o formato que será mais lucrativo e atenda melhor a experiência dos clientes.

Sendo o Brasil um país de tamanho continental, o analista defende que entender as diferenças e preferências dos consumidores para cada cidade é vital para o sucesso do atacado ou atacarejo.

Mesmo os detalhes simples, também contam na hora de conquistar um espaço na mente do consumidor. Ele exemplifica que em São Paulo capital, um funcionário para empacotar as compras do mercado no caixa pode não ser tão necessário. Ou o consumidor pode preferir comprar um frango na bandeja do que a granel.

Enquanto em uma cidade do interior, ter alguém para empacotar os produtos pode fazer a diferença e os consumidores preferem o frango a granel por ser mais barato do que a bandeja. Estas particularidades de cada região também contam na hora de fidelizar clientes.

Ele também reforça a importância dos fornecedores locais. Alguns estados e cidades brasileiras podem estar acostumados com certas marcas de macarrão, biscoito, coisas que devem ser levadas em consideração pelas companhias que pretendem conquistar estas regiões.

Para ele, o Grupo Mateus é quem tem maior expertise no conhecimento dos clientes. Eles conquistam o público antes mesmo de abrir novas lojas. Na sequência ele cita o grupo Assaí, que mesmo com lideres franceses, colocou os brasileiros para gerir bem os detalhes dos negócios. Enquanto o Grupo Big, no seu passado de Wallmart, deixou fugir estes detalhes.

Guimarães defende, contudo, que crescer no quintal de casa é mais simples. “O desafio para o grupo será conquistar o consumidor em praças como Sul e Sudeste”, afirma. Nessa hora que será colocada a prova o poder de sinergia do Grupo Mateus com as novas lojas e clientes.

Outras ‘avenidas’ de crescimento

Ainda entre as vantagens competitivas para conquistar o consumidor, Serra destaca a verticalização do Grupo Mateus, que está sempre oferecendo novos produtos e serviços. “Eles têm operação de panificação, frutas, hortaliças, uma fábrica de frios. serviços que concorrentes como Assaí não possuem”, explica.

Este seria outro dos ingredientes de sucesso do grupo, que desembarca em novas regiões com um amplio portfólio, caraterística que nem sempre é muito comum entre atacarejos da região Sul e Sudeste.

Além da verticalização, o analista da Ativa Investimentos enxerga como avenidas de crescimento o fortalecimento do e-commerce do grupo além da implementação de serviços financeiros para os clientes, entre eles cartão de crédito e aplicativo de descontos.

Apesar da existência da plataforma de e-commerce, Serra avalia que enquanto outros players do varejo alimentar deram um salto na pandemia, o Grupo Mateus deixou a venda online um pouco esquecida. “Eles ainda estão começando e ainda tem muito mais para crescer no digital”, diz.

Embora a logística seja diferente nas regiões do Norte e Nordeste, ele acredita que todo brasileiro usa o celular regularmente e se o Grupo Mateus, que é uma marca em que as famílias confiam, conseguir levar essa preferência para o aplicativo poderia auxiliar no negócio da empresa, além de melhorias na operação e a oportunidade de oferecer descontos maiores.

Do lado das soluções financeiras, o Grupo Mateus possui um aplicativo de descontos e os cartões MateusCard e o Crednosso. Mas com 40% de desbancarizados no Brasil, principalmente nas praças de atuação da companhia, fortalecer esta estratégia seria uma oportunidade forte de consolidação, segundo Serra.

Riscos de investimento

Entre os desafios para o grupo, os especialistas consultados destacam os fatores macroeconômicos, que passam pela diminuição de renda dos brasileiros, com um auxílio emergencial menor, além da inflação e a falta de emprego, formal e informal.

No entanto, estes problemas ainda não seriam fatores determinantes para travar a estratégia de expansão da companhia

A grande questão segundo Guimarães, da Levante, é como o Grupo Mateus vai se posicionar em outras regiões nas quais não é considerado referência. “Acho que é um pouco de boa execução e estratégia para as novas lojas, gestão do estoque e saber conectar a tecnologia com o Click & Collect (clique e retire)”, defende. Porém, por ser uma notava na bolsa, ele ainda recomenda ao investidor sempre ficar atento aos resultados entregues pela companhia e comparar com os dos concorrentes.

Já Serra compara o Grupo Mateus com a Raia Drogasil. “É um case de crescimento tradicional no varejo ao estilo bola de neve”, diz. O que significa que o grupo abre novas lojas que dão retorno e geram mais dinheiro ainda para garantir a abertura de outras. Para o analista, o plano ambicioso da companhia não é tão difícil de executar.

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