A Americanas (AMER3) informou na véspera que apresentou, perante o juízo da 4ª Vara Empresarial da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, a lista de credores do grupo.
O documento inclui, além dos bancos, que somam os maiores valores a receber, diferentes tipos de empresas fornecedoras, dentre as quais estão companhias com capital aberto tanto na bolsa brasileira, a B3, como no exterior.
Esse é o caso da fabricante de eletrônicos Samsung, que tem ações negociadas na Coréia do Sul. A empresa tem R$ 1,2 bilhão para receber – valor próximo ao que a Americanas deve para o Banco do Brasil, por exemplo, no total de R$ 1,3 bilhão. Também há outras gigantes como Apple e Facebook.
Outra credora é a Mondelez, dona de marcas de chocolates, balas e biscoitos, como Lacta, Club Social e Trident. A empresa, que tem papéis negociados na Nasdaq, em Nova York, tem uma quantia de R$ 93 milhões junto à varejista.
Quem também está na lista é a fabricante de eletroeletrônicos Multilaser (MLAS3), listada na B3, com um valor a receber de R$ 56,9 milhões.
Essas empresas estão na lista chamada de “Classe III”, identificada pela Americanas como dívidas com terceiros, e que soma uma quantia de mais de R$ 41 bilhões – a mais significativa – com 6.438 nomes. A lista total, com as demais classes, inclui quase 8 mil nomes e o valor chega a R$ 41,2 bilhões.
Dívida total | Valor |
Classe I | R$ 64.842.122 |
Classe III | R$ 41.056.749.123 |
Classe IV | R$ 109.484.867 |
Extraconcursal | R$ 4.723.175 |
Total | R$ 41.235.799.287 |
O Deutsche Bank responde pela maior exposição à varejista, com US$ 1 bilhão (o equivalente a R$ 5,2 bilhões), mas o banco informou que não tem exposição direta de crédito com a companhia. Segundo fontes ouvidas pelo canal Broadcast, do Estadão, o Deutsche atua como agente fiduciário (trustee) de dois títulos de dívida (bonds) que a Americanas emitiu no exterior no segundo semestre.
Veja abaixo outros bancos com exposição à varejista:
- Bradesco: R$ 4,51 bilhões
- Santander Brasil: R$ 3,65 bilhões
- BTG Pactual: R$ 3,5 bilhões
- BV: 3,28 bilhões
- Itaú Unibanco: R$ 2,73 bilhões
- Safra: R$ 2,5 bilhões
- Banco do Brasil: R$ 1,3 bilhão
- Daycoval: R$ 509 milhões
- Caixa Econômica Federal: R$ 501 milhões
- ABC Brasil: R$ 415,6 milhões
- BNDES: R$ 276 milhões
Impacto limitado para os bancos
Em relatório divulgado na noite da véspera, o banco Inter afirmou que ao avaliar os impactos de um cenário em que 100% da dívida com a Americanas seria provisionada causando prejuízo, o Santander e o Bradesco continuam com os maiores impactos.
De acordo com o analista Matheus Amaral, a dívida do Santander representa 0,8% da carteira de crédito total do banco, seguida pelo Bradesco, onde a dívida representou 0,5% da carteira de crédito total, enquanto o Itaú e o BB apresentaram 0,2% de exposição da carteira total em saldo com a Americanas.
“Em termos de impactos no patrimônio líquido destes bancos, o Santander sofreria com 4,5% do PL total, seguido pelo Bradesco com 3,1%, Itaú com 1,8% e BB com 0,9%”, escreveu.
Além disso, ao somar todos os bancos da cobertura do Inter, o saldo total da dívida somaria cerca de R$ 12,6 bilhões representando 31% da dívida total da Americanas e a exposição da carteira de crédito total destes bancos seria de apenas 0,4% com impactos no patrimônio líquido de 2,3%.
“Desta forma, consideramos o efeito Americanas com impactos limitados ao setor, não ocasionando maiores prejuízos no médio e longo prazo que possa afetar substancialmente o valor destas instituições”.
Relembre o caso Americanas
No dia 11 de janeiro, a Americanas anunciou inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões, o que resultou na renúncia dos então CEO e CFO da empresa.
Dois dias depois, credores pediram o vencimento antecipado das dívidas da companhia e notícias indicaram que os acionistas de referência propuseram um aumento de capital de R$ 6 bilhões, enquanto bancos credores exigiram um mínimo de R$ 10 bilhões. Na mesma data, a companhia conseguiu uma tutela de urgência na Justiça, suspendendo por 30 dias o vencimento antecipado das dívidas e quaisquer obrigações.
Posteriormente, o BTG Pacutal realizou um pedido para derrubar a medida, que foi indeferido pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Em meio aos desdobramentos, a companhia teve sua nota de crédito rebaixada por agências de classificação de risco.
No dia 19 de janeiro, a Americanas divulgou um comunicado informando que entrou com o pedido de recuperação judicial, que foi aceito pela Justiça horas depois. A varejista informou uma dívida junto aos credores que soma R$ 43 bilhões.
Após a notícia, a B3 informou que excluiu a varejista de todos os seus índices de referência, incluindo o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira. Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) anunciou a criação de uma força-tarefa com várias superintendências para analisar o caso. O órgão disse que buscava cooperação com a Polícia Federal e o Ministério Público Federal.
O bloqueio de valores a pedido do BTG foi derrubado em decisão judicial dias após o pedido de recuperação judicial ter sido aceito pela Justiça.
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