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Negócios

Valor de empresas que já romperam com a Rússia soma quase 7 vezes o PIB do país

Ao menos 50 companhias anunciaram interrupções de negócios no país após invasão da Ucrânia.

Ibovespa sobe, com otimismo sobre negociações entre Ucrânia e Rússia; dólar cai
Bandeiras de Rússia e Ucrânia sobre mesa antes de conversações em Belarus 28/02/2022 Sergei Kholodilin/BelTA/Divulgação via REUTERS

O número de empresas que decidiu deixar a Rússia ou interromper o fornecimento de produtos e serviços ao país após a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, cresce a cada dia.

Executivos de gigantes dos mais variados setores, como petróleo, tecnologia, entretenimento, cosméticos e alimentos, já se manifestaram contra o conflito e anunciaram sanções, após pedidos de governos ocidentais, como forma de retaliar a Rússia pelos ataques.

Para ter ideia do impacto financeiro dessas decisões, o Investnews fez um levantamento das empresas que anunciaram algum tipo de rompimento ou interrupção dos negócios na Rússia até o dia 8 de março. São pelo menos 50 companhias de capital aberto, cujo valor de mercado somado chega US$ 10,7 trilhões. Para efeito de comparação, a quantia representa quase sete vezes o PIB da Rússia , que é de R$ 1,65 trilhão, de acordo com dados da Austin Rating.

O cálculo leva em conta o valor de mercado em bolsas de valores onde as ações dessas companhias têm maior movimentação financeira. Dentre as 10 maiores analisadas no levantamento estão, por exemplo, Apple (AAPL34), Microsoft Corp (MSFT34), Meta Platforms/Facebook (FBOK34), Maersk, Exxon Mobil (EXXO34), Visa (VISA34), Mastercard (MSCD34), Coca-Cola (COCA34), Walt Disney (DISB34) e Toyota (TMCO34).

Empresas que cortaram relação comercial com a Rússia x PIB do país

Mas qual o intuito dessa quebra de laços com a Rússia? “Em uma situação como essa, não dá para ficar para trás. Quem não toma uma decisão de se posicionar está a favor da guerra ou não está preocupado com todas as questões que ela traz para o planeta e para a humanidade”, explica Luiz Fernando Lucas, escritor e palestrante especializado em integridade, ética, ESG e compliance.

Adriano Gomes, sócio diretor da Methode Consultoria e professor da ESPM, reitera que há muito tempo as empresas deixaram de ser um agente “puramente econômico” e cumprem cada vez mais sua função social ao atuarem como um ator importante no cenário das transformações.

“Obviamente que no final do dia o alvo é o lucro. Mas este mesmo lucro é derivado do conjunto de esforços e ações realizadas pelas companhias […] Assim, neste caso em especial, se uma empresa permanece em solo russo, a decisão pode vir a ser interpretada pela sociedade, ou parte dela, como apoio ao regime de Putin”, reiterou.

A exemplo do que ocorre com empresas que usam mão de obra análoga à escravidão, especialmente no segmento têxtil, Roberto Dumas, professor de economia internacional do Insper, explica que existe uma preocupação sobre a reação dos consumidores em relação às marcas. “As empresas estão saindo da Rússia porque, além de não concordarem com a guerra, elas têm medo de sofrerem com perdas de vendas por causa de boicotes dos clientes”, afirmou.

Como equilibrar o financeiro e o social?

Ao tomar a decisão de interromper suas atividades na Rússia, as companhias precisam lidar com perdas financeiras, em maiores ou menores proporções. A petroleira britânica BP, por exemplo, informou que abandonou sua participação na gigante petrolífera russa Rosneft, podendo amargar um prejuízo de mais de US$ 25 bilhões, segundo a agência Reuters.

Luiz Fernando Lucas explica que, em geral, essas empresas têm condição de sustentar possíveis perdas ocasionadas pela interrupção dos negócios. “É mais fácil do que uma pequena empresa, para a qual a saída de um país poderia representar seu fim”, explica.

Entretanto, o especialista lembra que não é o fator financeiro que tem pautado as empresas, especialmente as que estão listadas no mercado de ações, mas sim o alinhamento de valores, como liberdade e tolerância, que são universais.

“Evidentemente que as decisões passam pelos CEOs (presidentes) e CFOs (diretores financeiros), que sabem o custo disso. Mas há que se levar em consideração que o custo de não se posicionar ou de se tornar neutro nesta situação pode ser muito maior do que as perdas de curto prazo, porque estamos falando de um posicionamento ao qual a humanidade toda está atenta”, diz Lucas.

Na mesma linha, Adriano Gomes, da ESPM, alerta que o lado social e o financeiro devem ter movimentos no mesmo sentido. “Quando se movimentarem em sentidos opostos, a colisão é inevitável. Pior, o resultado do confronto pode ser a ruptura em definitivo, enfim, um divórcio inconciliável entre as partes. Portanto, não há como dissociar social e financeiro. São braços da mesma balança, vasos comunicantes e interrelacionados”, explicou.

Consequências para a Rússia

A debandada de empresas da Rússia pode trazer grandes consequências para a economia local, especialmente. “Essas empresas também têm plantas de manufatura no local, o que deve elevar o desemprego e a dívida pública. Além disso, como não tem gente para comprar títulos da dívida pública, o governo vai pedir para o Banco Central local imprimir moeda, o que pode gerar uma crise inflacionária”, descreveu Dumas, do Insper.

Dados divulgados pela Reuters mostram que a inflação anual na Rússia acelerou para 9,15% em fevereiro, ante 8,73% em janeiro, a uma máxima em sete anos, com os preços sendo impulsionados pela fraqueza do rublo (moeda local) em meio às sanções ocidentais.

Além da saída de empresas, na última terça-feira (8), os Estados Unidos proibiram a importação de petróleo da Rússia, gerando uma pressão ainda maior sobre o preço da commodity. Por isso, os desdobramentos das sanções não se limitam à economia da Rússia.

Além do petróleo, que bateu nos últimos dias a máxima em oito anos, com o barril negociado a mais de US$ 110, na terça-feira o níquel atingiu a marca de US$ 100 mil a tonelada, levando a Bolsa de Mercadoria de Londres (LME) a interromper as negociações com o metal. Isso porque a Rússia é um importante produtor desse item, fundamental na fabricação de aços e baterias. Outro exemplo é a cotação do trigo, que, desde o início da guerra, já registrou alta de 46,25%, recorde histórico.

“No final, cidadãos russos e de outras nações, nós inclusive, pagaremos com aumento de preços (inflação), desemprego, dificuldade de acesso a bens e serviços e, como sempre, haverá o deslocamento de riqueza dos mais afoitos para os mais calmos. É a história que teima em se repetir e as pessoas, em sua imensa maioria, sendo prejudicadas”, reiterou Gomes.

Quem já deixou a Rússia?

Veja abaixo uma lista de algumas empresas que já anunciaram interrupções de seus negócios na Rússia em meio à guerra na Ucrânia:

McDonald’s

A rede de fastfood McDonald’s (MCDC34) fechará temporariamente todos seus 847 restaurantes na Rússia. A decisão foi comunicada pelo CEO do grupo, Chris Kempczinski, a funcionários e franqueados da rede. A marca opera há mais de 30 anos na Rússia e afirmou que manterá o salário dos 62 mil empregados que possui no país.

Unilever

A fabricante de bens de consumo Unilever (ULEV34) informou que decidiu interromper importações e exportações para a Rússia. A companhia disse que não vai mais investir no país e que vai parar toda a publicidade no local, acrescentando que as operações na Ucrânia também foram paralisadas.

A empresa disse, porém, que vai continuar a fornecer alimentos e produtos de higiene produzidos na Rússia para a população do país, mas que não vai obter nenhum lucro a partir de sua presença em território russo.

Shell

A petrolífera britânica Shell anunciou que sairá de todas as suas operações russas, incluindo uma grande usina de gás natural liquefeito.

A empresa disse que deixará seu principal negócio de GNL Sakhalin 2, no qual detém uma participação de 27,5%, e que é 50% de propriedade e operada pela gigante russa de gás Gazprom.

Sakhalin 2, localizado na costa nordeste da Rússia, é enorme, produzindo cerca de 11,5 milhões de toneladas de GNL por ano, que é exportado para importantes mercados, incluindo China e Japão.

BP

A também petroleira BP informou que abandonou sua participação na gigante petrolífera russa Rosneft, em um movimento que pode custar à empresa britânica mais de US$ 25 bilhões, segundo a agência Reuters.

L’Oreal

A gigante de cosméticos L’Oreal também está fechando temporariamente suas lojas na Rússia e suspendendo investimentos no país. O negócio russo da L’Oreal, que inclui uma planta de produção, responde por uma porcentagem baixa de um dígito das vendas anuais, de acordo com a empresa.

Starbucks

O CEO da rede de cafeterias Starbucks Kevin Johnson, afirmou que a decisão de suspender as operações na Rússia inclui o envio de todos os produtos Starbucks. “Nosso parceiro licenciado concordou em pausar imediatamente as operações da loja e fornecerá suporte aos quase 2.000 parceiros na Rússia que dependem da Starbucks para sua subsistência”, escreveu o executivo.

Coca-cola

A Coca-Cola tambérm disse que está suspendendo suas operações na Rússia, mas não informou números nem o impacto da decisão. Disse ainda que vai continuar monitorando a situação. “Nossos corações estão com as pessoas que estão sofrendo os efeitos inconcebíveis desses trágicos eventos na Ucrânia“, afirmou a companhia.

Inditex

A varejista de moda espanhola Inditex, dona da Zara, suspendeu as operações na Rússia, fechando suas 502 lojas e interrompendo as vendas online. “Nas circunstâncias atuais, a Inditex não pode garantir a continuidade das operações e condições comerciais na Rússia e suspende temporariamente sua atividade”, disse a companhia.

A Rússia responde por cerca de 8,5% do EBIT global do grupo (lucro antes de juros e impostos) e todas as lojas da Inditex operam em regime de aluguel, disse a empresa. A Inditex disse que oferecerá a mais de 9.000 trabalhadores um plano especial de suporte, sem dar mais detalhes. O grupo havia dito que suas 79 lojas na Ucrânia já haviam sido temporariamente fechadas.  

Spotify

O Spotify fechou seu escritório na Rússia indefinidamente em resposta ao que a plataforma de streaming de áudio descreveu como “ataque não provocado de Moscou à Ucrânia”.

Nestlé

A Nestlé, o maior grupo de alimentos do mundo, anunciou a suspensão de todos seus investimentos de capital na Rússia. O grupo, com sede na Suíça, acrescentou que continuará fornecendo produtos alimentícios essenciais no país. A Nestlé já havia suspendido sua publicidade na Rússia.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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