“Em relação a crise de crédito, a gente está em uma zona de risco, sem dúvida alguma.” A frase é Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners (BRBI11), ao descrever o cenário de “aperto de liquidez e deterioração do ambiente de crédito” que ele julga significativos para as empresas – e cujos efeitos puderam ser vistos nos últimos balanços trimestrais. No entanto, o executivo acredita que a perspectiva agora seja de reversão, e se diz “cautelosamente otimista”.
As declarações foram dadas durante a edição deste domingo (21) do InvestNews Entrevista, em que Lacerda apontou que, em meio ao aperto provocado naturalmente pelo alto patamar da Selic, eventos como os casos de Americanas (AMER3) e Light (LIGT3) pioraram as condições de crédito para as empresas.
“A gente vê uma dificuldade das empresas de gerarem caixa suficiente para cobrir serviço da dívida, para desalavancar, e isso tem apertado bastante os resultados”, descreve ele, em alusão aos números apresentados na última temporada de resultados, referentes ao primeiro trimestre de 2023.
“As empresas ainda demonstram força no top line, mas fraqueza quando a gente olha lucro líquido, geração de caixa, cobertura de juros, alavancagem. É um cenário que preocupa”, afirma Lacerda, acrescentando que as mais afetadas são as companhias alavancadas e com necessidade de capital de giro.
Ainda assim, ele aponta que “o momento, hoje, é ligeiramente mais positivo por uma certa expectativa de melhora do cenário inflacionário e potencial capacidade de iniciar um ciclo de redução dos juros”.
Embora o Banco Central não tenha dado indícios de quando a Selic deve começar a cair, Lacerda afirma que essa é a perspectiva do mercado, além da resolução de situações de dívidas.
“A maioria dos processos que a gente viu sendo conduzidos são de reperfilamento, de maneira construtiva entre devedores e credores, levando a uma solução. E mesmo esses outros eventos mais polêmicos, de Americanas e Light, que envolvem fraude e insegurança jurídica. Mas são casos também que eu acho que vão se encaminhar para uma solução.”
Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners
As preocupações sobre “risco de crédito” chegaram a ser mencionadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em um dos episódios em que o governo critica o patamar da Selic.
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“A preocupação é válida. Eu divido essa preocupação convivendo com muitas empresas, a gente assessorando em vários desses casos. Mas eu acho que estamos num ambiente em que as coisas ainda vão ser contornadas de maneira construtiva e vamos poder evitar uma crise de maiores proporções”, pontua Lacerda.
Os números de BR Partners
O BR Partenrs teve lucro líquido de R$ 33 milhões no primeiro trimestre de 2023, valor 17,3% menor do que os R$ 40 milhões no mesmo período do ano anterior. Os dados foram publicados no último dia 11.
Lacerda diz que a reversão da desaceleração dos resultados é vislumbrada diante da queda da Selic.
“Não dá para dizer que a gente já chegou no fundo do poço em termos de desaceleração. Podemos ter chegado, mas ainda pode haver uma certa queda de atividade no nosso segmento nos próximos 2 ou 3 trimestres antes de a gente iniciar o ciclo de redução de juros.”
Ricardo Lacerda, CEO do BR Partners
Sobre o cenário atual, ele diz que há “um nível de engajamento de clientes em transações bastante grande”. “Então, dentro de um cenário um pouquinho mais favorável, em que a gente transforme esse engajamento em conclusão de operações, pode ter uma boa melhora. Então, estamos, digamos assim, cautelosamente otimista neste momento.”
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