O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu nesta quarta-feira (28) manter a taxa básica de juros (Selic) no patamar de 2% ao ano, confirmando as previsões de praticamente todo o mercado financeiro. No comunicado, o órgão deixou nas entrelinhas que não descartou a possibilidade de novos cortes.
Em sua última reunião, em setembro, o órgão interrompeu um ciclo de nove cortes seguidos iniciado em julho do ano passado, ao manter a Selic no nível atual, o menor da história.
“O Copom entende que a conjuntura econômica continua a prescrever estímulo monetário extraordinariamente elevado, mas reconhece que, devido a questões prudenciais e de estabilidade financeira, o espaço remanescente para utilização da política monetária, se houver, deve ser pequeno”, afirmou o órgão em comunicado.
No documento, o Copom reforçou a mensagem de que a inflação não é motivo para preocupação no momento. “As expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, encontram-se significativamente abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas.”
O mercado estava em busca de pistas sobre o posicionamento do BC em relação à agenda de reformas do governo, para cumprir o ajuste fiscal, e sobre a pressão inflacionária, além de um possível encerramento de novas quedas da Selic.
Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, desta segunda-feira (28), o mercado financeiro prevê que a Selic chegue ao final de 2020 no atual patamar. Já em 2021, as apostas dão conta que a taxa de juros fechará o ano em 2,75%.
A Selic está em 2% ao ano desde o dia 5 de agosto, quando o Copom reduziu a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, passando de 2,25% para 2% ao ano, o menor nível desde 1999. Foi neste período que o governo estabeleceu um regime de metas para a inflação. A decisão foi unânime. Com isso, a rentabilidade das aplicações financeiras de renda fixa mudou.
A manutenção da Selic acontece em um momento no qual a economia brasileira tenta se recuperar da crise provocada pela pandemia do novo coronavírus. Após uma retração recorde de 9,7% do PIB no segundo trimestre, economistas do mercado financeiro estimam um tombo de 5,11% da atividade em 2020, em decorrência da paralisação de vários setores com as medidas de restrição social.
Com a Selic em 2% ao ano, o retorno da poupança é de 1,4% ao ano (já que ela rende 70% da taxa Selic mais a TR, que está zerada). Considerando a inflação projetada pelo último boletim Focus para o final deste ano, de 1,94%, o rendimento real da caderneta fica negativo em 0,53% ao ano.
Política de juros
O Copom se reúne a cada 45 dias para definir a Selic, buscando cumprir a meta de inflação, que é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), órgão formado pelo Banco Central e Ministério da Economia.
A meta central de inflação para 2020 é de 4% (com tolerância entre 2,5% e 5,5%). No caso de 2021, a meta é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (2,25% a 5,25%). E, para 2022, é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (2% a 5%).
Quando a inflação está baixa ou indica que ficará abaixo da meta, o Copom tem espaço para promover cortes na Selic. É uma forma de estimular a queda nos juros cobrados pelos bancos e incentivar o consumo pelo crédito, ajudando a colocar mais dinheiro em circulação na economia.