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Veja 4 desafios que José Mauro Coelho terá como novo presidente da Petrobras

Especialistas apontam receios sobre intervenções políticas e política de preços.

José Mauro Ferreira Coelho é o novo presidente da Petrobras (Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado e Fernando Frazão/Agência Brasil)
José Mauro Ferreira Coelho é o novo presidente da Petrobras (Fotos: Jefferson Rudy/Agência Senado e Fernando Frazão/Agência Brasil)

José Mauro Ferreira Coelho foi eleito novo presidente da Petrobras (PETR3 e PETR4) pelo conselho de administração da empresa e tomou posse do cargo nesta quinta-feira (14). O nome, indicado pelo governo de Jair Bolsonaro, foi bem avaliado pelo mercado de maneira geral, mas especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que o novo CEO já chega ao posto com alguns desafios para enfrentar. 

José Mauro assume o cargo no lugar do general Joaquim Silva e Luna, também indicado pelo governo, em 2021. Antes dele, o governo chegou a convidar o economista Adriano Pires, que recusou a indicação justificando conflito de interesses. O mandato do novo CEO da estatal terá validade de um ano.

Veja abaixo 4 dos principais desafios que José Mauro deve encontrar no novo cargo:

  1. Política de preços x intervenções políticas
  2. Guerra na Ucrânia
  3. Ruídos na comunicação
  4. Desinvestimentos e plano estratégico

Em sua posse, José Mauro Coelho, disse que a prática de preços de mercado de combustíveis pela companhia é condição necessária para atrair novos investimentos e garantir o abastecimento no Brasil.

Ele lembrou também que o país precisa importar combustíveis para atender sua demanda, “o que impõe grandes desafios para garantir abastecimento”.

Veja a seguir quais são os maiores desafios listados por fontes ouvidas pelo InvestNews para o novo ocupante da presidência da petroleira:

Política de preços x intervenções políticas

Em meio à forte alta do preço da gasolina e do diesel, a política da Petrobras, que acompanha as cotações do petróleo no exterior e o câmbio, tem sido alvo de críticas de Bolsonaro. O presidente, que chegou a dizer recentemente que a estatal “não colabora em nada”, já havia trocado o comando da empresa no ano passado também em meio a insatisfações pelo preço dos combustíveis.

Nesse cenário, o temor do mercado é que a Petrobras seja alvo de interferências políticas para abandonar sua política de preços. 

“O primeiro ponto é a necessidade de manter a paridade com o preço internacional de petróleo. Isso é importante porque, se não, acaba havendo a necessidade de colocar um subsídio forte na Petrobras, caso haja um desequilíbrio com o preço internacional. É algo que precisa ser mantido, e há uma pressão forte em relação a esse ponto”, analisa Cesar Frade, mestre em economia e sócio da Quantzed.

Sidney Lima, analista da Top Gain, afirma que o assunto da política de preços da Petrobras “tem sido a maior ‘pedra no sapato’ na queda de braço entre sociedade e investidores, tendo em vista que a nova diretoria vai sempre guiar a gestão sobre o julgamento de ambos os lados”.

Lima menciona um “desgaste velado de tentativa de intervenções políticas nas questões de decisão e gestão da empresa – tentativas essas vindo tanto por parte da União, detentora da maior parte do capital votante, bem como do Congresso, do qual muitos integrantes têm julgado as decisões da empresa ao olhar de questões sociais”.

O analista afirma que as pressões políticas devem aumentar em ano eleitoral, “podendo assim só aumentar o desgaste, o qual nem toda nova diretoria estaria disposta a passar”.

Mas Rafael Chacur, sócio e analista de ações da SFA Investimentos, acredita que não deve haver interferência do governo sobre os preços. “A Petrobras, em certos aspectos, está blindada pelo estatuto social e pela lei das estatais aprovada pelo governo Temer. Pode responsabilizar os diretores em caso de danos à empresa, por exemplo”, cita. “Lógico que tudo pode ser mudado, mas é desafiador ter que passar uma lei no Congresso, chamar assembleia com acionistas. Não acho que seja tão simples.”

Falando sobre o novo presidente da Petrobras, Chacur também não enxerga preocupações sobre espaço para interferência política. “José Mauro tem uma grande biografia no setor, é acadêmico, formado em Engenharia Química, tem passagens pelo setor de óleo e gás. Não mancharia a biografia por qualquer viés político”, acredita ele. 

Guerra na Ucrânia

O conflito no leste europeu continua mexendo com a cotação do petróleo, já que a Rússia é uma das principais exportadoras da commodity e está sendo alvo de sanções de outros países. 

Frade, da Quantzed, aponta essa questão como outro desafio que José Mauro terá que enfrentar no comando a Petrobras. “Ocorrendo um estresse com a guerra da Ucrânia, com uma possível retomada da ofensiva russa que pode acontecer nos próximos dias, há alguns bancos internacionais dizendo que o petróleo vai aumentar bastante. Se isso acontecer, você pode ter novamente uma necessidade de aumento no preço da gasolina.”

Apesar da pressão da guerra na Ucrânia, outros fatores como lockdowns na China têm puxado as cotações do petróleo para baixo nos últimos dias.

Ruídos na comunicação

Chacur, da SFA Investimentos, acredita que um dos principais motivos da decisão de trocar o comando da Petrobras é a necessidade de melhorar a comunicação da empresa com a sociedade e com o próprio governo.

Ele opina que a empresa precisa desenvolver “uma comunicação melhor com a sociedade e o próprio governo para mostrar qual é o papel da Petrobras, principalmente em relação à política de preços”. 

Desinvestimentos e plano estratégico

Lima, da Top Gain, afirma que “outro ponto de atenção é a continuidade de venda de ativos da empresa, como refinarias”. Ele aponta que a Petrobras “tem seguido o processo nas últimas gestões, mesmo enfrentando resistência firme por parte de alguns sindicatos”, mas agora “fica o questionamento se darão continuidade aos processos”. 

Chacur, da SFA, diz que a principal dificuldade em dar continuidade ao plano de desinvestimentos é o “timing”. “É mais pelo timing do período eleitoral, principalmente pelas refinarias. Não deve haver tempo hábil para acabar o processo. Houve efeitos exógenos, como a pandemia, que prejudicaram o interesse dos ativos lá atrás. Isso atrasou o processo”, afirma. 

Lima aponta que seguir com os desinvestimentos “diminui o endividamento da empresa – o que ao olhar do investidor, é muito interessante, considerando que parte de seus ativos não tem trazido resultados satisfatórios aos caixas da empresa”.

Quem é o novo presidente da Petrobras

José Mauro Ferreira Coelho ingressou em 2007 na Empresa de Pesquisa Energética (EPE), onde permaneceu até 2020, quando ocupava o posto de Diretor de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis.

Entre 2020 e 2021, foi Secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis no Ministério de Minas e Energia (MME) e desde 2020 atua como presidente do conselho de administração da Empresa Brasileira de Administração de Petróleo e Gás Natural (PPSA).

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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