Embora as informações relacionadas ao universo das startups estejam repletas de enunciados inspiradores, é preciso lembrar o grau de risco e alavancagem, que envolve cada etapa do seu desenvolvimento.
Por que o desenvolvimento de uma startup está relacionado a um risco superior?
As startups constroem algo novo ou melhoram o que já existe, desenvolvem soluções para uma lacuna do mercado, resolvendo problemas objetivos de uma categoria de consumidor ou de um grupo de consumidores.
Por tratar-se de algo novo, a solução proposta deverá passar por um período de validação, quando sua viabilidade poderá ser comprovada ou não. Ainda que uma ideia inovadora se mostre viável, pode levar anos para uma startup ganhar os primeiros centavos e gerar lucro.
Não são muitas e atualizadas, as estatísticas relacionadas ao universo de investimentos fracassados. Dados frequentemente citados, indicam que 75% do capital de risco aplicado em startups nunca deu retorno financeiro aos investidores e 30% a 40% perderam todo recurso inicial investido, segundo o estudo do professor Shikhar Ghosh, da Harvard Business School.
Considerada esta estatística, poderíamos deduzir que, dos US$ 2,3 bilhões em capital de risco investidos em startups brasileiras, entre o mês de janeiro e abril de 2022, US$ 1,73 bilhões não terão retorno financeiro e US$ 690 a 920 milhões nunca serão recuperados.
Ainda que imprecisas, tais derivações não devem destoar da realidade para uma categoria de investimento denominada capital de risco, aplicada em um cenário de instabilidade econômica, aumento da inflação e encarecimento do custo financeiro.
Por que as startups fracassam?
As taxas de insucesso e encerramento das startups se devem a vários motivos. Os mais significativos indicam ausência de um ajuste de produto ao mercado, formulação e implementação de estratégias de marketing inadequadas, problemas de fluxo de caixa, incompatibilidade entre os recursos humanos (fundadores e colaboradores).
Os bilhões investidos em 5 startups que faliram
Conforme os percentuais apresentados, a maioria dos empreendedores e investidores falham ao analisar o período de validação, denominado como “ajuste de produto ao mercado”, quando ocorre o contato com os primeiros usuários e clientes, em que a meta é melhorar o produto, melhorar seu marketing e melhorar seu posicionamento no mercado.
1 – Nice Tuan
Fechou sua atividade no final de março de 2022, apesar de ter arrecadado US$ 1,2 bilhão. A startup atraiu 22 investidores, entre estes Alibaba e GGV Ventures, interessados em adquirir uma plataforma de compra coletiva de produtos e mantimentos a preços competitivos. Ao final de 2021 as vendas ficaram aquém do planejado, a startup ainda foi acusada e multada por fraude, dumping e publicidade enganosa.
2 – Katerra
A startup de construção modular entrou com pedido de falência alegando má gestão, no início de junho de 2021. O unicórnio apoiado pelo SoftBank foi avaliado em US$ 3 bilhões em 2018 e levantou quase US$ 1,5 bilhão com investidores, como Khosla Ventures e Greenoaks Capital Management.
3 – Quibi
O serviço de streaming focado em dispositivos móveis arrecadou US$ 1,75 bilhão de investidores como NBC Universal, Viacom e Warner Bros, sendo encerrado em outubro de 2020, apenas 6 meses após o lançamento. O serviço não conseguiu ganhar força com os consumidores em meio a um campo de atuação lotado de serviços de streaming e outros provedores de conteúdo de formato curto, como o TikTok. A Roku comprou os direitos da programação do Quibi por menos de US$ 100 milhões em janeiro de 2021.
4 – Arrivo
A ideia era criar um modo de transporte que acabasse com o problema do excesso de tráfego, através de um sistema futurista de transporte, semelhante ao proposto pela Boring Company de Elon Musk. A Arrivo encerrou suas atividades em novembro de 2018, alegando problemas financeiros e de incompatibilidade da equipe, após receber US$ 1 bilhão de investidores, como a Plug and Play Ventures, Trucks VC
5 – Solyndra
Projetou, fabricou e vendeu sistemas solares fotovoltaicos (PV) compostos de painéis e hardware de montagem para grandes telhados comerciais de baixa inclinação. A Solyndra não conseguiu competir com os fabricantes convencionais de painéis solares de silício cristalino e encerrou suas atividades após receber US$ 1,22 bilhões em investimentos das gigantes Redpoint Ventures, US Venture Partners.
*Claudia Kodja, mentora da Liga dos Empreendedores da FGV, membro da Copenhagen Institute for Futures Studies e gestora executiva da Kodja Escola de Negócios. |
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