O Brasil deve perder 2500 milionários em 2022. São pessoas que começaram o ano vivendo no país e devem terminar o ano vivendo em outro local.
Considerando a migração apenas de pessoas que possuem pelo menos US$ 1 milhão, o país deve registrar esse ano a quinta maior perda de milionários no mundo.
Perderam milionários
- Rússia 15 mil
- China 13 mil
- Índia 8 mil
- Ucrânia 2,8 mil
- Brasil 2,5 mil
- Reino Unido 1,5 mil
- México 800
Fonte: Global Citizens Report.
É o que aponta o relatório deste ano da Henley & Partners, consultoria sobre migração de investimentos com sede em Londres. O Henley Global Citizens Report é um relatório acompanhado pelo mercado financeiro e por países interessados em saber como o dinheiro está se movimentando no mundo.
De acordo com o relatório, 88 mil milionários vão trocar de país este ano.
De modo geral, o ranking aponta alguns fenômenos, como a guerra na Ucrânia, que deslocou 17,8 mil milionários no total, a grande maioria (15 mil) da Rússia. Também há uma forte saída da China (10 mil) e de Hong Kong (3 mil) tanto por conta da pandemia, levando a seguidos lockdowns em território chinês, como do avanço do autoritarismo do regime da república.
No caso da China, é uma tendência que vem de anos. Mas também uma inversão. Até pouco tempo atrás o movimento era de ocidentais indo para a China para empreender.
Outra inversão: o Reino Unido sempre foi um dos países preferidos pelos mais ricos ao escolher um novo lar. Mas este ano deve perder 1,5 mil moradores com US$ 1 milhão ou mais.
A razão possivelmente é o Brexit, que afeta a economia britânica e ameaça afetar também a liberdade de deslocamento. Quem tem dinheiro para isso acaba se mudando para o continente europeu, Estados Unidos ou Austrália, que, aliás, hoje é o segundo maior destino de milionários no mundo (3 mil).
Receberam milionários
- Emirados Árabes 4 mil
- Austrália 3 mil
- Singapura 2,8 mil
- Israel 2,5 mil
- Suíça 2,2 mil
- Estados Unidos 1,5 mil
- Portugal 1,3 mil
Fonte: Global Citizens Report.
Os Emirados Árabes são os primeiros beneficiados, assim como Israel, pela migração de russos tentando escapar das sanções econômicas aplicadas ao seu país. Singapura, assim como a Austrália, acaba recebendo muitos milionários que estão deixando a China e Hong Kong. E os Estados Unidos seguem um importante pólo de atração no mundo, ainda que com uma redução sensível em relação ao levantamento de 2018, o último que tinha sido divulgado, quando recebeu 10 mil ricos.
Portugal (1,3 mil) acaba se beneficiando com a chegada milionários saídos, principalmente, do Brasil e a Suíça, um dos países mais ricos do mundo, pela chegada de 2,2 mil pessoas que certamente têm bem mais do que US$ 1 milhão, já que é também um dos lugares mais caros do planeta.
Poderia ser uma oportunidade também para o Brasil. Mas temos enfrentado seguidos saldos negativos.
Saídas de milionários do Brasil
- 2015 – 2 mil
- 2016 – 8 mil
- 2017 – 2 mil
- 2018 – 2 mil
- 2019 – 1,4 mil
- 2022 – 2,5 mil
Na crise de 2015 e 2016, o país perdeu dez mil milionários para o exterior. Desde então o saldo tem sido negativo. Em 2020, a pandemia, fechando fronteiras, limitou os deslocamentos, assim como em grande parte do ano passado. Mas, em 2022, o mapa da migração dos mais ricos mostra que o fenômeno continua, inclusive acelerando.
E no geral esse mapa mostra uma tragédia, que é a transferência das elites econômicas de países em desenvolvimento (Brasil, China, México, Índia) para países desenvolvidos.
A acolhida de novos milionários vindos de outros lugares é uma importante fonte de investimentos para o país onde eles escolhem viver, já que leva ao menos parte do dinheiro consigo, se não todo, beneficiando a economia local.
Já a fuga acaba agravando os problemas na economia nos lugares de onde eles estão partindo. Menos capital para produzir riqueza, menos renda criada, salários mais baixos, mais pobreza.
E vale ressaltar que ainda há as pessoas que tinham US$ 1 milhão e deixam de ter devido à desvalorização do real, o que entra em outra conta, não a da migração de milionários.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação.
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