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Finanças

Menos de R$ 1: por que Inepar, Viver e Santanense viraram ‘penny stocks’ em 2022

Recuperação judicial e problemas de caixa estão entre as principais causas para a queda das ações; entenda.

As ações da empresa de infraestrutura Inepar (INEP3, INEP4), da incorporadora e construtora Viver (VIVR3) e o papel preferencial da empresa de tecidos Santanense (CTSA4) são as mais novas “penny stocks” da bolsa brasileira – definição para papéis que passaram a ser negociados abaixo de R$ 1 – em 2022. É o que mostra levantamento feito pela Economatica/TC a pedido do InvestNews

Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, explica que, entre os principais motivos para uma ação virar penny stock, estão a perda patrimonial da empresa, como companhias que entram em recuperação judicial; empresas que têm prejuízos seguidos e as que, basicamente, não têm valor significativo do seu patrimônio em relação à quantidade de ações emitidas no mercado.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, explica que a Inepar (focada em geração de energia, compensação reativa, óleo, gás e petroquímica), é exemplo de empresa que passou a valor menos de R$ 1 na bolsa após entrar em recuperação judicial e ter problemas de caixa, o que fez as ações recuarem.

A Viver também passou por processo de recuperação judicial, teve problemas com imóveis e fez “queima” de caixa, o que levou as ações da companhia a derreterem. Já no caso da Santanense, o que levou à queda foram problemas de caixa.

Confira o desempenho das ações das três empresas desde janeiro de 2021 até 18 de agosto de 2022, data em que a ação preferencial da Inepar encerrou negociada a R$ 0,93 e a ordinária, R$ 0,90; o ativo da Viver terminou o pregão a R$ 0,64; e a ação da Santanense, por sua vez, a R$ 0,78.

Características das penny stocks

Henrique Tavares, analista CNPI da DVinvest, afirma que, geralmente, ações se tornam penny stocks pelo fato de a companhia, às vezes, se encontrar em situação financeiramente complicada, com endividamento muito alto, resultados operacionais negativos, o que acaba penalizando o preço das ações.

“São negócios mais delicados e, na maior parte das vezes, empresas que estão passando por processo de recuperação judicial, que é muito incerto. Isso acaba se refletindo no preço. É o que a gente encontra na maioria das penny stocks”, diz Tavares.

Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA, alerta que o investidor deve estar atento ao fato de que, muitas vezes, a ação passa a ser cotada abaixo de R$ 1 após contínua desvalorização. 

“Possivelmente, há um fundamento para a queda da ação e nem tudo que está barato representa uma oportunidade. Ou seja, tem que avaliar o fundamento da empresa, para quem pensa no longo prazo, ou para o fluxo de notícias e/ou gráficos, para quem tem objetivo de curto prazo”, recomenda Nishimura.

Por causa do baixo valor, esse tipo de ação acaba sofrendo com volatilidade, ficando suscetível a mudanças de preços mais intensas.

Segundo Nishimura, como a variação mínima da cotação desse tipo de ação é de R$ 0,01, percentualmente, isto corresponde a uma oscilação de, pelo menos, 1% a cada negócio. Ou seja, por exemplo: para uma ação negociada a R$ 0,50, uma variação de R$ 0,01, para R$ 0,51, representa alta de 2%. 

“Estas variações percentuais são muito maiores do que para uma ação de R$ 20, quando ela varia R$ 0,01. Quando a cotação de uma ação cai de R$ 20 para R$ 19,99, a queda percentual é de 0,05%”, detalha Nishimura.

O economista e sócio da BRA explica que o preço baixo possibilita também a negociação com menores valores, por exemplo: um lote padrão de 100 ações cotadas a menos de R$ 1 exige um investimento de menos de R$ 100. Caso o investidor fosse comprar um lote padrão de Petrobras (PETR3, PETR4) ao redor de R$ 33, exigiria um investimento de R$ 3.300. 

“Esta menor ‘exigência’ de capital para investir e a possibilidade de maior variação percentual, em geral, costumam atrair investidores em busca de ganho rápido. O problema é que da mesma forma que uma ação pode variar para cima, ela também oscila para baixo. Ou seja, qualquer oscilação negativa pode representar uma grande perda percentual do capital investido”, destaca Nishimura.

Virgilio Lage, especialista da Valor Investimentos, alerta que estas ações são as mais voláteis da bolsa de valores, justamente pelo patamar de preço delas ser muito baixo.

“São papéis altamente ‘explosivos’ no caso de recuperação das empresas, mas o risco também é inerente a esse patamar de preço baixo”, aponta Lage.

Riscos de investir em ações abaixo de R$ 1

Tavares, da DVinvest, explica que o principal risco de investir em ações negociadas abaixo de R$ 1 é que trata-se de um ativo com muita volatilidade. Para o investidor pessoa física, torna-se difícil ficar posicionado nestes papéis, afinal, o investidor institucional tem mais poder de compra, consegue movimentar esse mercado, trazendo mais volatilidade para o papel.

Outro fator de risco, segundo Tavares, é em relação ao negócio em si da empresa, já que costumam ser companhias em situações financeiras complicadas. 

“Na maior parte, estamos falando de recuperação judicial. O principal risco é uma empresa com grande chance de não se recuperar nesse processo. Então, entrar e se posicionar, precisa ter muito conhecimento da empresa, das pessoas que estão tocando o negócio, para conseguir comprar com tranquilidade um ativo como esse, falando do lado do fundamento”, orienta o analista CNPI da DVinvest.

Tavares acrescenta ainda que investimentos nesses ativos é para quem está disposto a correr muito risco e que é preciso ter equilíbrio neste caso.

“Não é o tipo de ativo para ficar posicionado se o investidor está começando agora no mercado financeiro. Precisa ter muito conhecimento, controle de risco. É necessário estar muito ciente e ter uma exposição pequena. Isso é fundamental quando se fala de um ativo de alto risco como esse”, recomenda.

Por outro lado, Lage afirma que, como a grande maioria das ações negociadas abaixo de R$ 1 é de empresas em recuperação judicial ou problema financeiro grave, a companhia pode “quebrar” e o investidor perder tudo o que foi aplicado neste tipo de empresa.

O especialista da Valor Investimentos destaca que o investimento é recomendado para o investidor que tem capital sobrando e pode especular de forma bastante agressiva neste tipo de ação e que, no caso do investidor que deseja investir de forma mais saudável, esse tipo de investimento não é recomendável.

Vantagens de investir em penny stocks

Tavares, da DVinvest,  diz que a volatilidade tem o efeito de poder afetar o investidor positivamente ou negativamente, já que a oscilação de preço da ação pode variar tanto para o ganho quanto para a perda. Segundo ele, uma das vantagens é estar posicionado certo, na empresa certa, no momento certo. 

“É um tipo de ativo que pode conseguir retornos expressivos, mas é muito difícil. O investidor vai pegar um movimento de mercado, muitas vezes especulativo, comandado por investidores institucionais, grandes grupos, que acabam conseguindo mexer o preço. A vantagem é se o investidor conseguir capturar um movimento desse, mas é muito difícil”, alerta o analista da DVinvest.

Virgilio Lage, da Valor Investimentos, destaca que, por serem empresa scom ações extremamente baratas no termos de preço, se essas companhias conseguirem se recuperar, ou consertar o grande problemas delas, voltar a formar caixa, ter lucro, são empresas altamente “explosivas”, com retornos muito mais altos do que outras da bolsa que já estão no patamar de preço considerado mais alto. 

Penny stocks: vale a pena o investimento?

De acordo com Henrique Tavares, analista CNPI da DVinvest, à medida que o investidor toma a decisão que vai, de fato, investir em negócios como esse, deve começar a buscar o máximo de informação possível sobre a empresa.

“Também pode valer a pena se o investidor está buscando um movimento especulativo e tem conhecimento de mercado. O que tem que considerar, antes de tudo, é o quanto se está disposto a correr risco”, diz Tavares.

Já para Jansen Costa, sócio fundador da Fatorial Investimentos, não há vantagens de investir em uma ação cotada abaixo de R$ 1. Segundo ele, só vale investir se ela deixar de ser penny stock e se tornar uma excelente companhia. “Isso acontece raramente. Muita gente perde mais dinheiro do que isso se torna uma realidade”, afirma Costa.

Neste ano, as ações de B Tech Eqi (BLUT4), Recrusl (RCSL3), Oi (OIBR3, OIBR4), Tecnosolo (TCNO4), Pine (PINE4), Enjoei (ENJU3) e Atmasa (ATMP3) já estiveram entre os ativos negociados na bolsa brasileira abaixo de R$ 1, mas se recuperaram.

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