Enquanto as perspectivas para o segmento de consumo são positivas, à medida que propostas do novo governo poderiam impulsionar o consumo no curto prazo, o cenário é diferente para as estatais, em especial a Petrobras.
A XP Investimentos e o BTG Pactual, por exemplo, cortaram o preço-alvo esperado para os papéis da companhia em meio ao receio de como a empresa será administrada a partir de 2023. Já o JP Morgan cortou a recomendação do papel para “neutra” nesta manhã.
Em contrapartida, as expectativas são positivas para a Sabesp, após a vitória do candidato Tarcísio de Freitas, aliado do atual presidente Jair Bolsonaro, para o governo do estado de São Paulo. O novo governador já sinalizou interesse em privatizar a companhia, o que é visto com bons olhos pelo mercado.
Confira abaixo os comentários das casas de investimentos:
Estatais
Petrobras
Ao mencionar que as possibilidades de mudanças estratégicas na Petrobras (PETR4 PETR3) são muitas e que a maioria delas pode desencadear uma combinação de capex (investimento) mais alto e dividendos mais baixos, Pedro Soares e Thiago Duarte, analistas do BTG Pactual, reduziram o preço-alvo esperado para os papéis da companhia de R$ 40 para R$ 35,7.
Por outro lado, a casa mencionou que não reduziu a recomendação de compra para neutra, porque o “rebaixamento dependerá das mensagens e as ações do novo governo no início de 2023”.
“Preservar parte do pagamento de dividendos pode ser um amortecedor para o preço das ações, e nossa visão relativamente otimista sobre os preços do petróleo também deve sustentar os excelentes resultados de E&P (exploração e produção) da Petrobras por um tempo”, escreveu a equipe.
A XP Investimentos também rebaixou o preço-alvo para as ações da estatal de R$ 40 para R$ 35,50, após afirmar que a percepção de risco político para a empresa aumentou.
André Vidal, Helena Kelm e Marcella Ungaretti escreveram que a redução reflete o aumento dessa incerteza.
“No entanto, notamos que o cenário ainda não é definitivo: ainda precisamos ver quais serão as diretrizes econômicas de Lula daqui para frente (ser candidato é muito diferente de ser presidente eleito). A nomeação de quem será o próximo ministro da Economia e CEO e presidente da Petrobras será fundamental para o case de investimento”, apontou a equipe da XP.
Sabesp
Após a vitória do candidato Tarcísio para o governo do estado de São Paulo, a Ativa Investimentos elevou a recomendação para os papéis da estatal paulista de saneamento Sabesp (SBSP3) de neutra para compra.
O analista Ilan Arbetman acredita que a empresa possa evoluir “através de ações de melhoria gerencial, avanços regulatórios e financeiros”.
Ele também mencionou que caso o novo governo de São Paulo avance na privatização da empresa, “muito valor ainda será destravado”.
“De maneira sintetizada, uma eventual privatização melhoraria a forma da companhia lidar com os seus stakeholders, lhe permitindo dar um salto em sua eficiência operacional. Do ponto de vista financeiro, a percepção de risco por parte do mercado perante a companhia também seria alterada, o que seria fundamental para estimular o seu crescimento”.
Eletrobras
Pedro Serra e Ilan Arbetman, da Ativa, escreveram ainda que não veem como provável o novo governo voltar atrás na privatização da Eletrobras (ELET3), que ocorreu este ano, “pois demandaria um gasto muito elevado e um desgaste político demasiado com o congresso”.
Varejo
Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, do Golman Sachs, avaliaram em relatório que as ações de consumo reagirão positivamente à vitória de Lula nas eleições presidenciais, “pois as expectativas de apoio contínuo à renda e um potencial programa de reestruturação da dívida do consumidor entre as propostas de política podem ser vistos como um suporte para o consumo”.
A equipe do banco informou acreditar que as propostas políticas de Lula podem ser cada vez mais positivas para os consumidores.
“Embora o atual governo Bolsonaro tenha sido mais generoso do que o inicialmente esperado em termos de política fiscal e gastos sociais, a campanha de Lula mencionou potenciais propostas que poderiam impulsionar o consumo no curto prazo”, avaliou a equipe.
Os analistas do Goldman mencionaram ainda a carta publicada na semana passada por Lula que inclui planos para manter os programas sociais de transferência de renda (que devem ser retomados sob o rótulo Bolsa Família), um “salário mínimo forte” e um “programa abrangente de refinanciamento da dívida”.
“A ideia deste último seria ajudar as famílias a renegociarem passivos de financiamento ao consumidor e contas de serviços públicos por meio da criação de um fundo de garantia patrocinado pelo governo. O objetivo seria diminuir o risco desses empréstimos em aberto, permitindo assim que os bancos reestruturem a dívida com taxas mais baixas e prazos mais longos”, avaliaram Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini.
Além disso, mesmo sem viés geográfico direto, estímulo às famílias de baixa renda tende a beneficiar indiretamente mais o Nordeste do que outras regiões, na análise do Goldman, devido à demografia da região, onde mais indivíduos dependem desses benefícios.
“Observamos que quaisquer políticas/programas de gastos que apoiem mais diretamente a região podem ser positivos para as empresas com maior exposição ao Nordeste, ou seja, Carrefour Brasil (CRFB3) (28% da base de lojas), Assaí (ASAI3) (28%) e Magalu (MGLU3) (22%), em comparação com Via (VIIA3) (18%), Raia Drogasil (RADL3) (14%) e Lojas Renner (LREN3) (14%) – embora não existam propostas concretas neste momento”.
Construção e educação
A Ativa avaliou que um possível incentivo maior nas políticas sociais, como o Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e FIES, construtoras de baixa renda – MRV (MRVE3), Direcional (DIRR3) e Tenda (TEND3) – e o setor de educação – Yduqs (YDUQ3), Cogna (COGN3), Anima (ANIM3), Ser (SEER3) – podem se beneficiar e aproveitar o momento.
Exportadoras e energia
Analistas do Ativa mencionaram que no histórico recente do governo PT, juntamente com as críticas do candidato Lula sobre o teto de gastos, a percepção de risco para a inflação, juros e câmbio, podem aumentar e beneficiar as companhias que exportam e também as que atuam com energia elétrica.
“Nesse caso, empresas exportadoras que se beneficiam do câmbio – Suzano (SUZB3), SLC Agrícola (SLCE3) e/ou empresas que possuem proteção natural contra a inflação, como transmissoras de energia – Isa Cteep (TRLP4), Taesa (TAEE11) -, são boas opções”, avaliaram.