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Economia

Câmbio ‘atrasado’ intriga traders com pesadelo fiscal no Brasil

Enquanto a B3 despencou e as taxas de juros futuros dispararam desde a eleição de Lula, o dólar permaneceu pouco alterado frente ao real no período, sustentado pelas altas taxas de juros.

dólar
Crédito: Envato

À medida que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva define o seu ministério e traça políticas, muitos investidores viram o pior de seus temores em relação ao cenário fiscal do país se materializar. Olhando somente para o mercado de câmbio, contudo, seria difícil perceber esse movimento.

Enquanto a bolsa local despencou e as taxas de juros futuros dispararam desde a eleição de Lula no fim de outubro, o dólar permaneceu pouco alterado frente ao real no mesmo período, sustentado pelas altas taxas de juros no Brasil. Muitos são céticos de que isso pode durar.

“O câmbio está atrasado em relação aos outros ativos”, disse Felipe Guerra, sócio fundador da Legacy Capital, em evento na semana passada. “O argumento de você ficar otimista com o câmbio pelo carrego é meio frágil nesse momento, com tanta incerteza.”

Os operadores esperavam que Lula fosse para o centro do espectro político em reconhecimento ao amplo apoio que recebeu durante a campanha eleitoral – a chave para sua vitória sobre o presidente Jair Bolsonaro. Mas, desde a votação, Lula apresentou propostas para acelerar as despesas públicas, criticou o teto de gastos e indicou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como seu futuro ministro da Fazenda, que é visto como uma das opções menos favoráveis ao mercado.

Como resultado, os juros futuros com vencimento em janeiro de 2025 saltaram 135 pontos-base desde o final de outubro, devido às apostas de que o Banco Central precisará manter a taxa Selic alta por mais tempo, enquanto o Ibovespa caiu 6%. O real, porém, permanece estável.

A resiliência da moeda chama ainda mais atenção quando se leva em conta que investidores estrangeiros e fundos locais estão aumentando suas posições compradas em dólar frente ao real. Juntos, eles compraram US$ 8,4 bilhões desde que Lula venceu a corrida presidencial. Esses desembolsos parecem ter sido neutralizados pelos bancos locais, que venderam US$ 8 bilhões no mesmo período, um movimento que confundiu muitos operadores, já que dezembro costuma registrar uma saída sazonal de dólares.

“Se a discussão da trajetória da dívida ficar mais preocupante, alguma hora a performance do real será afetada”, disse Júlio Fernandes, gestor da XP Asset Management. “Alguns investidores estão olhando para o carry elevado, mas seguimos sem compreender a tranquilidade do mercado em relação ao real”, disse Fernandes, cujo fundo tem posição comprada em dólar contra real. 

A dívida bruta do Brasil representou 77% do PIB em outubro, ante 89% em fevereiro de 2021. Entretanto, a PEC aprovada no Senado e agora em debate na Câmara dos Deputados abre caminho para o governo gastar até R$ 168 bilhões mais do que o anteriormente previsto por pelo menos dois anos. Isso corre o risco de aumentar novamente a dívida.

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