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Finanças

Bolsa despenca 7%, maior baixa desde o ‘Joesley Day’

Nos últimos 3 anos, o índice só apresentou um resultado pior em maio de 2017, com queda de 8,8%

B3 e Ibovespa

Surpreendendo os investidores, o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, despencou nesta Quarta-Feira de Cinzas (26). A bolsa fechou em queda de 7%, aos 105.718 pontos, em um movimento de correção à queda dos mercados globais nos últimos dois dias, quando a B3 ficou fechada em função do Carnaval.

Já o dólar comercial fechou em alta de 1,15%, negociado a R$ 4,441, novo recorde nominal (sem considerar a inflação). Na máxima do dia, a moeda foi a R$ 4,4444.

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O resultado do pregão foi o pior desde 18 de maio de 2017, quando aconteceu o “Joesley Day” e o índice caiu 8,8% após revelações de conversas entre o ex-presidente Michel Temer e o empresário Joesley Batista.

O resultado foi impulsionado por avanços da proliferação do coronavírus, que teve seu primeiro caso confirmado no Brasil nesta manhã. A epidemia também afetou índices do mundo todo nesta segunda e terça-feira. A epidemia já ultrapassa 78 mil casos, com mais de 2,7 mil mortes confirmadas em 10 dos 41 países afetados. Foram registradas 11 mortes na Itália, oito na Coreia do Sul e três no Irã por causa da doença.

Nem mesmo a alta das bolsas em Nova York após o tombo dos últimos dias puxou o Ibovespa. “Mesmo o movimento de hoje lá fora representa um ajuste técnico, de modo que não há razões para mudar a dinâmica negativa em meio às incertezas com a disseminação do coronavírus fora da China. No Brasil, onde o primeiro caso foi confirmado em São Paulo, as perdas globais da segunda e terça devem derrubar a Bovespa”, avaliou em nota o economista Silvio Campos Neto, sócio da Tendências Consultoria Integrada.

O índice brasileiro seguiu o movimento das ações de empresas brasileiras negociadas em Nova York, que sofreram forte queda. Segundo o índice da Dow Jones que mensura o comportamento de 20 ADRs brasileiras, houve queda acumulada de 6,71% nesta segunda e terça. Os grandes bancos também amargaram perdas importantes, embora menores.

Entre os indicadores da economia, o relatório Focus do Banco Central reduziu sua projeção de crescimento da economia brasileira de 2,23% para 2,20% em 2020. A inflação IPCA também teve queda nas projeções, com estimativa de 3,20%.

Destaques da Bolsa

Todas as ações do Ibovespa recuaram nesta sessão, com os papéis da IRB Brasil e a Tim entre as menores baixas, com -1,60% e -2,46% respectivamente. Entre as ações mais negociadas do dia, as empresas com maior dependência do mercado mundial, como naturalmente são os setores de petróleo e mineração, apresentam forte desvalorização.

As ações da Petrobras (PETR4) caíram 10,05%. Já a Vale (VALE3), fechou com baixa de 9,54% com seus papéis negociados a R$ 45,35.

Com a expansão do coronavírus, as empresas aéreas são as primeiras a serem afetadas, diminuindo o volume de circulação de pessoas. A Gol (GOLL4) estava entre as maiores baixas do dia. As ações foram negociadas a R$ 28,98, com desvalorização de 14,31%.

Ótica do investidor

O analista de investimentos da Easynvest, José Falcão de Castro, afirma que crises como a que vemos agora acontecem sempre por diferentes motivos, e o investidor de renda variável deve criar uma maturidade para lidar com situações do tipo.

“Quem não estiver muito exposto a renda variável deve manter a cautela e aguardar até os efeitos do coronavírus terem uma definição melhor”, recomenda. Para o investidor com visão de longo prazo, ele recomenda enxergar o momento como uma possível oportunidade para comprar ativos mais baratos.

Forte tombo nos dias anteriores

Ontem, o Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) avaliou que o coronavírus está se espalhando de forma rápida pelo mundo e que há provável risco de pandemia, ajudando a derrubar as bolsas de Nova York, que sofreram a maior queda em dois dias da história entre segunda e terça-feira.

MSCI World, índice global que reúne ações de 1,6 mil empresas no mundo, perdeu desde quinta-feira passada 3 trilhões de dólares. O chamado “índice do medo”, o VIX, avançou 11,3% na terça, após forte queda nos dias anteriores. Ele é um termômetro que mede o risco de volatilidade das bolsas nos Estados Unidos.

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Nesta quarta-feira, as bolsas asiáticas voltaram a fechar em baixa generalizada. Principal índice acionário da China, o Xangai Composto recuou 0,83%, a 2.987,93 pontos. O Shenzhen Composto, que reúne empresas chinesas com menor valor de mercado, teve queda mais expressiva, de 2,71%, a 1.890,60 pontos.

Mesmo com um cenário desanimador, analistas acreditam que a B3 deve se recuperar nos próximos dias, e que os resultados desta quarta-feira foram consequência da histeria do mercado frente ao coronavírus.

Possíveis efeitos da epidemia

“O resultado de segunda significa que os mercados não esperavam que isso se tornasse uma grande questão fora da China”, disse Craig Erlam, analista sênior da Oanda, empresa de análise de dados financeiros. “Os investidores vão ficar muito mais sensíveis agora.”

Na Itália, a projeção dos economistas é de que o Produto Interno Bruto (PIB) caia entre 0,5% e 1% este ano, por conta do surto da doença.

O secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, disse que ainda é cedo para estimar a extensão dos impactos do coronavírus sobre a economia global, mas que a disseminação do vírus é “preocupante”.

“Baseado em tudo o que vimos, é gerenciável, mas a situação pode mudar. Em três ou quatro semanas, teremos melhores dados”, disse, em entrevista à rede CNBC após reunião do G-20 em Riad, na Arábia Saudita. “Não acho que as pessoas deveriam entrar em pânico. Mas, por outro lado, é preocupante.”

Para a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Cleveland, Loretta Mester, o coronavírus está piorando as perspectivas econômicas de curto prazo para a China, com potenciais consequências no restante do mundo.

Segundo ela, o efeito do vírus no país pode ser maior do que o causado pelo Sars (síndrome respiratória aguda grave) em 2003, pois a China hoje é um player mais relevante na economia global e um eventual corte de gastos de consumidores do país ou redução no turismo envolvendo a China podem causar mais prejuízos que há 17 anos.

Loretta ressaltou, no entanto, que hoje o gigante asiático tem mais recursos para lidar com o problema e que o governo se adiantou para tomar atitudes no início da epidemia.

Crise política no radar

Somado ao temor de novas evidências da epidemia, a crise política ganha novos contornos após a publicação de vídeos pelo presidente Jair Bolsonaro, convocando a população a sair às ruas, no dia 15 de março, em defesa do governo e contra o Congresso.

“Enquanto não houver uma acomodação externa com a questão do coronavírus e um esfriamento da crise política local, não há como apostar em reversão do panorama negativo”, acrescenta Campos Neto, da Tendências.

*Com Estadão Conteúdo

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