O crescimento do consumo das famílias desacelerou pelo quarto trimestre consecutivo, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (1º) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nos primeiros três meses de 2023, a alta foi de 3,2% sobre 2022, contra avanço de 4,3% no período anterior. Na comparação com o 4º trimestre de 2022, a alta foi de apenas 0,2%.
A perda de ímpeto se reflete também nos dados do comércio, que faz parte do setor de serviços. A alta foi de 1,6% no primeiro trimestre de 2023 contra o mesmo período de 2022, após ter subido 2,1% nos meses anteriores.
Para especialistas, a alta no primeiro trimestre ocorreu em vista da baixa da taxa de desemprego e da inflação, com impulso também dos programas de transferência de renda do governo, como Bolsa Família. No entanto, não se sabe até quando haverá fôlego para manter o crescimento. As projeções são de que a desaceleração do consumo continue nos próximos meses, com a Selic, taxa básica de juros, mantida em 13,75% ao ano.
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil Investimentos, comenta que a taxa de desemprego continua baixa se comparada aos parâmetros históricos. “Os itens de comércio e serviços, de um modo geral, têm um ticket médio mais acessível, sendo muitas das vezes a vazão do desejo de consumo represado das famílias”, avalia.
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Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos, também destaca a resiliência do mercado de trabalho, com saldo positivo de geração de vagas nos últimos meses, e aponta também os efeitos da queda da inflação e do aumento de transferências por parte do governo à população. “Tivemos um aumento no número de famílias no Bolsa Família. Tem novos programas de pagamentos para as famílias. Tem mais transferências do governo”, diz.
Lembrando também que o governo está neste ano gastando mais relativamente do que estava gastando no passado por causa da PEC da Transição, então isso tudo ajuda a economia ficar mais aquecida do que estávamos esperando na virada do ano.”
Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.
Por outro lado, os especialistas apontam que a Selic elevada é um sinal de alerta. “A grande questão é se teremos fôlego para manter esse ritmo até o fim do ano com uma Selic no patamar atual – o que pressiona empresas, consumidores e crédito”, diz Alves.
Na mesma linha, Costa comenta que, com a concessão de crédito desacelerando, o ritmo de crescimento do consumo deve continuar diminuindo, se refletindo na economia como um todo.
Perspectiva de queda da Selic
Diante de dados de inflação melhores que o esperado nas últimas leituras, o mercado financeiro já precifica cortes da Selic a partir do segundo semestre, em um ciclo que deve se estender ao longo de 2024, segundo as previsões.
Para os especialistas, esse cenário deve se refletir em uma aceleração dos resultados do comércio e consumo das famílias. “A perspectiva para 2024 é que o consumo volte a ganhar velocidade conforme os cortes de juros vão acontecendo”, diz Costa.
Na mesma linha, André Meirelles, diretor de Alocação e Distribuição da InvestSmart, diz que se o início da queda da Selic se efetivar em algum momento de 2023, será possível ver uma recuperação dos setores em 2024.
Já Felipe Pontes, sócio-fundador da L4 Capital, acredita que já nos próximos meses será possível começar a ver melhora nos setores de varejo e serviços, devido ao maior arrefecimento da inflação.
“Ainda que a taxa de juros não caia muito forte este ano, o arrefecimento da inflação poderá se converter em estabilização/redução de preços, o que poderá incentivar o consumo das famílias.”
Felipe Pontes, sócio-fundador da L4 Capital.
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