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Fusão não elimina cenário difícil para Mobly e Tok&Stok, dizem especialistas

Mobly enfrenta receita em queda e Tok&Stok se vê envolta em notícias sobre problemas com endividamento.

A notícia de uma possível fusão com a Tok&Stok fez as ações da Mobly (MBLY3) dispararem nesta terça-feira (5), com a disparada chegando a 17% na máxima do dia. No entanto, apesar do otimismo do mercado neste primeiro momento, especialistas ouvidos pelo InvestNews apontam que as duas empresas estão em situação delicada, e uma eventual união entre as duas não apaga as perspectivas negativas. 

Loja da Tok&Stok (Foto: Adobe)
Loja da Tok&Stok (Foto: Adobe)

Apesar de não haver confirmação oficial pelas companhias, a fusão é aguardada pelo mercado, já que não é de hoje que notícias sobre o tema são veiculadas. Desta vez, o jornal “O Globo” informou que a junção será feita por meio de troca de ações. 

Segundo a coluna de Lauro Jardim, o acionista controlador da Mobly, a home24, ficaria com 80% da nova empresa surgida com uma eventual fusão, enquanto o fundo de private equity Carlyle – controlador da Tok&Stok -, além dos fundadores da empresa, ficariam com 20%.

O período de lock up dos acionistas controladores será de dois anos, o que significa uma trava para quaisquer negociações com os papeis nesse período. Ainda segundo o jornal, está no radar da home24 fazer uma Oferta Pública de Aquisição (OPA) para os acionistas da Mobly. 

Cenário difícil

Com a movimentação das varejistas, é esperado que a nova companhia tenha a estrutura do canal de vendas online da Mobly e a rede de lojas físicas da Tok&Stok. Mas, para especialistas, o cenário de juros ainda altos e o aumento da inadimplência dos consumidores dificulta que as perspectivas melhorem para as empresas. 

“As perspectivas não são tão favoráveis. No longo prazo as coisas podem mudar, a gente pode ver duas empresas mais eficientes juntas do que de forma individual. Mas, no curto prazo, a gente ainda vê uma atividade econômica desacelerada”

Gabriel Bassotto, analista chefe de ações do Simpla Club

Bassotto comenta que, em tempos de juros elevados, “a dificuldade é ainda maior para essas empresas do varejo que operam com margens pequenas e dependem muito de seus clientes terem acesso a crédito” – caso de Tok&Stok e Mobly.

Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos, acrescenta que as duas estão inseridas num “setor que está esfriando”. “As pessoas fizeram muitas reformas durante a pandemia e depois isso desacelerou um pouco. Embora os financiamentos imobiliários ainda estejam bem aquecidos, já não está naquele auge que a gente viu durante a pandemia.”

Mobly (Imagem: Adobe)
Mobly (Imagem: Adobe)

“No ano que vem, com as taxas de juros mais baixos, talvez consiga dar uma elevada, mas não é um setor que a gente está recomendando”, acrescenta Cruz. 

Já Max Mustrangi, sócio fundador da Excellance, empresa que atua com reestruturação de empresas, é enfático ao dizer que uma possível fusão entre Mobly e Tok&Stok “é um abraço de afogados”, já que “as duas estão com problemas de alavancagem seríssimos, endividamento e queda de receita”. 

“São duas tentando se unir para fazer a algum esquema mirabolante financeiro societário, e com isso alegar teóricas sinergias, que são baixas e não são relevantes frente ao montante que eles estão fazendo de buraco do lado operacional da empresa e da necessidade de tomada de financiamento de mercado”. 

Max Mustrangi, sócio fundador da Excellance

Mas, a despeito dos desafios, os especialistas comentam que uma possível fusão pode, de alguma maneira, beneficiar as empresas de formas diferentes. Isso porque a Mobly, que vem relatando queda do desempenho das vendas online, pode se beneficiar da estrutura de lojas físicas da Tok&Stok. Esta, por sua vez, pode conseguir algum respiro financeiro. 

“No resultado da Mobly recente, eles mencionam que a própria loja física deles estava tendo um crescimento enquanto as vendas online estavam caindo”, diz Cruz.

“Então, pode ser que eles (Mobly) entendam que faz sentido pegar essas lojas físicas da TokStok, reorganizar estrutura, administração, porque eles mesmos estão vendo crescimento nas suas lojas físicas.”

Gustavo Cruz, estrategista chefe da RB Investimentos

Já Bassotto avalia que “essa fusão pode ser favorável principalmente para a TokStok”, que é uma empresa de capital fechado e “enfrenta algumas dificuldades, até mesmo com insolvência, problemas de falta de liquidez, e precisou receber um grande aporte do seu acionista majoritário”. 

“De fato, Tok&Stok vinha passando por uma fase bem turbulenta. Ao fazer essa fusão com a Mobly, ela passa a ter mais acesso ao mercado financeiro e potencialmente a crédito a um custo mais barato do que ela conseguiria de forma individual. Então é importante até para dar continuidade aos seus negócios.”

Para Mustrangi, da Excellance, “potencialmente, do ponto de vista estratégico, é uma consolidação do segmento, pois está eliminando concorrência do mercado, reduzindo a guerra de preço e podendo subir e melhorar as margens e, teoricamente, melhorar a condição financeira da empresa. Esse deve ser o grande racional por trás.” Mas, ainda assim, ele se mostra cético, já que o problema é “o contexto econômico”.

“A WestWing (WEST3), que seria outra empresa também do setor, só que muito mais ‘upscale’ (de luxo), também está passando problema de alavancagem elevadíssima. Imagina essas aí, com margem fina, que eu chamo quase que uma ‘commodity do móvel’. O que elas não vão sofrer com a inadimplência do tipo de consumidor delas?”, questiona. 

Empresas em dificuldades

A Mobly vem apresentando resultados negativos nos últimos trimestres. No balanço mais recente, a empresa informou que conseguiu reduzir seu prejuízo a R$ 17 milhões no 2º trimestre de 2023, ante quase R$ 28 milhões no mesmo período do ano anterior. As receitas, no entanto, estão em queda. Foram R$ 128 milhões no período, queda anual de quase 14%. 

Também no último relatório, a empresa relatou uma queda do interesse do consumidor pelo e-commerce de móveis. A empresa diz que “o mercado de casa e decoração continua perdendo atratividade online”, com o número de visitas em seu site caindo quase pela metade entre o final de 2022 e o 2º trimestre de 2023, a 2 milhões por mês – tendência que se nota também em sites de concorrentes, segundo a Mobly. 

Mobly (Imagem original: Adobe/Montagem InvestNews)
Mobly (Imagem original: Adobe/Montagem InvestNews)

A Tok&Stok, também se vê envolta em dificuldades, e contratou no início do ano consultoria Alvarez & Marsal para renegociar dívidas cujos valores não foram divulgados. A empresa chegou a ficar inadimplente com aluguel. Em fevereiro, o fundo imobiliário Vinci Logística (VILG11) chegou a ajuizar uma ação de despejo por falta de pagamento. Dias depois, a empresa depositou em juízo R$ 2 milhões para quitar o aluguel vencido e custas judiciais. Com isso, conseguiu evitar o despejo e a ação foi retirada. 

A busca da Tok&Stok por recursos não é de agora. Ainda na pandemia, a empresa tentou abrir capital na bolsa de valores. Em outubro de 2020, a empresa pediu registro para uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), com o objetivo, segundo informou à época, de investir em expansão e aquisições e para melhorar a estrutura de capital. A operação, porém, não avançou. 

OPA da Mobly?

A possibilidade de uma nova oferta de ações da Mobly também está no radar do mercado, mas é vista com cautela por especialistas. 

Para Mustrangi, a operação, apesar de não ser uma emissão de debênture, por exemplo, se assemelha a um “investimento em dívida”. “Quem entrar nisso aqui para não ser diluído ou para aumentar a participação está colocando dinheiro para ajudar no caixa, postergar uma falência ou um pedido de recuperação judicial, ou que seja.”

“Não é dinheiro para o crescimento, para sustentar a margem de lucro, expansão positiva com rentabilidade. Aqui é totalmente um artifício de ‘salve-se de quem puder’, é colocar dinheiro no caixa para ganhar mais algumas milhas do avião voando antes que ele caia sem combustível. Nada mais do que isso”, diz o especialista.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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