O Ibovespa encerrou esta semana despencando 18,8%, o pior desempenho semanal desde 10 de outubro de 2008. Apenas na sexta-feira (20), a bolsa de valores fechou em queda de 1,85% aos 67.069 pontos.
Conhecida por muitos especialistas como a semana com mais volatilidade no mercado financeiro, o desempenho reflete os efeitos do Covid-19 no mundo ocidental, que antecipam uma desaceleração econômica na Europa e nos Estados Unidos. A União Europeia, por exemplo, anunciou que há grandes chances de enfrentar uma recessão pior do que em 2009. Já o Goldman Sachs apontou em relatório que a economia americana pode reduzir em 24% seu crescimento no segundo trimestre. Caso os EUA desacelerem, o Brasil deve sentir os impactos.
No cenário nacional, o Brasil passa por uma quarentena social e econômica, após o governo declarar Estado de Calamidade. Os impactos na economia, embora ferozes ainda são imensuráveis.
O destaque negativo da semana ficou na mão da companhia de milhas aéreas Smile Fidelidade (SMLS3), que recuou 59,72% no acumulado da semana. Entre as cinco empresas que mais caíram na semana também estavam: a Via Varejo (VVAR3), a CVC (CVCB3), a Azul (AZUL4) e a Brakem (BRKM5).
Para Pedro Carvalho de Mello, PHD em economia pela Universidade de Chicago e professor da ESAGS, o desempenho da Smile Fidelidade, Azul e CVC está relacionado ao impacto do coronavírus no setor aéreo e de turismo, que se encontram em uma posição vulnerável. Já o resultado da Braskem seria fruto de fatores internos da empresa, como a Odebretch e questões ambientais, que mesmo sem coronavírus provocariam uma crise nas ações. Contudo, a Via Varejo surpreende o economista. “As ações da Via Varejo não deveriam estar entre as maiores quedas da semana, especialmente porque é uma empresa que também possui venda on-line, setor que desde a quarentena tem se potencializado”, justifica Mello e acrescenta que o desempenho negativo da ação pode estar ligado a estratégias dos investidores para conseguir liquidez com a venda de ações.
Confira as ações que mais caíram na semana
Ação | Desempenho |
Smiles Fidelidade (SMLS3) | -59.72% |
Via Varejo (VVAR3) | -48.82% |
CVC BRASIL (CVCB3) | -46.51% |
Azul SA (AZUL4) | -44.15% |
BRASKEM (BRKM5) | -40.31% |
Impactos da quarentena
O destaque positivo da semana ficou com o Atacadão (CRFB3) que subiu 18,01%. Mello atribui esta alta a quarentena por causa do coronavírus, onde mais famílias estariam estocando alimentos e produtos de limpeza.
Outras ações que se destacaram foram: Raia Drogasil (RADL3), RUMO SA (RAIL3), Grupo Pão de Açúcar (PCAR3) e Telefônica Brasil (VIVT4). “Todas estas empresas estão relacionadas ao coronavírus, as pessoas compram mais remédios (Raia Drogasil), estocam produtos (Pão de Açúcar) e por estarem de quarentena utilizam mais serviços de internet ou telefônicos o que garante o desempenho da companhia”, explica Mello. Já no caso da Rumo SA, o economista acredita que alguns setores podem ser indiretamente impactados num cenário de crise.
Confira as ações que mais subiram esta semana
Ação | Desempenho |
Atacadão (CRFB3) | 18.01% |
RAIADROGASIL (RADL3) | 7.02% |
RUMO (RAIL3) | 5.50% |
Companhia Brasileira de Distr. (PCAR3) | 2.64% |
TELEF BRASIL (VIVT4) | 0.39% |
A década da estagnação
Para Mello, o coronavírus era a cereja do bolo que faltava para condecorar o início de uma década de estagnação econômica, onde o mundo não consome como antigamente, a revolução tecnológica afeta alguns setores e a distribuição de renda é desequilibrada para o desenvolvimento. “De todas as crises nunca vivemos uma deflação global, os sinais estavam dados mesmo antes do coronavírus”, conclui.