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Cenário BlackRock

Mercados: hora de voltar à programação habitual?

Acordo do teto da dívida dos EUA eliminou o risco de inadimplência de curto prazo, apenas.

Jerome Powell, chair do Federal Reserve, fala durante entrevista coletiva depois da reunião de dois dias do Comitê Federal de Mercado Aberto em Washington, EUA 27/07/2022 REUTERS/Elizabeth Frantz

A crise do teto da dívida dos EUA nas últimas semanas ganhou todas as manchetes e foi o foco da atenção dos investidores. O acordo alcançado afasta as incertezas de curto prazo e o “business as usual” volta a chamar a atenção dos mercados: inflações persistentemente altas e os dilemas dos bancos centrais para derrubá-las. Com isso, vemos as taxas de juros se mantendo altas por mais tempo. De fato, os mercados já começaram a cogitar a possibilidade de uma nova alta dos juros, mesmo depois do banco central norte-americano ter sinalizado uma possível pausa. Além disso, é provável que os investidores monitorem de perto o efeito de taxas mais altas nos resultados das empresas.

Em pouco tempo, no entanto, pudemos ver a atenção mudar para outra crise: o pesado fardo da dívida dos governos e as consequências que isso pode ter nas decisões de investimento. O acordo do teto da dívida dos EUA eliminou o risco de inadimplência de curto prazo. No entanto, a situação fiscal continua sendo um grande desafio. A dívida pública total, como percentual do Produto Interno Bruto (PIB), saltou para o dobro do nível de 2005, de 60% para 120%. O déficit orçamentário também é grande, em um momento em que a economia continua enfrentando uma inflação acima do desejável.

O acordo da dívida definitivamente não muda esse quadro. Os cortes de gastos relativamente pequenos considerados no acordo provavelmente não afetarão o peso da dívida. Os cortes de gastos públicos são uma fração do que foi cortado no último confronto do teto da dívida em 2011: cerca de 0,3% do PIB, segundo o Congressional Budget Office, ante 1% em 2011. Por outro lado, como resultado, é improvável que os cortes de gastos afetem o crescimento da mesma forma.

No entanto, taxas de juros mais altas por um período mais longo aumentarão os custos do serviço da dívida e poderão fazer com que os níveis da dívida cresçam a níveis insustentáveis. Essa situação, aliada a uma inflação estruturalmente mais persistente, pode levar os investidores a exigirem maiores compensações pela posse de ativos norte-americanos ao longo do tempo, especialmente títulos do Tesouro de prazo mais longo. Isso significa que as taxas de juros de longo prazo devem estar em patamares superiores aos observados em mais de uma década.

Não é preciso esperar muito para ver alguns efeitos. Nos próximos dias, espera-se uma explosão real na emissão de títulos do Tesouro, já que o governo busca repor o dinheiro sacado desde que o teto da dívida foi atingido no início do ano. Estima-se que a emissão de cédulas pode chegar a US$ 1 trilhão nos próximos meses, bem acima dos níveis normais de emissão fora de períodos de crises anteriores, como a crise financeira de 2008 e a pandemia. Isso poderia aumentar a volatilidade na renda fixa, especialmente em vencimentos muito curtos, levando muitos investidores a sair de posições de curto prazo para vencimentos de cerca de dois anos.

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