A gestão administrativa pode ser dividida em dois grupos: a governamental ou pública, com seus objetivos, métodos e desafios específicos, e o setor privado, voltada aos resultados econômicos e competitividade. Embora estes grupos tenham interesses comuns, como a sustentação e desenvolvimento do Estado, possuem delimitações e objetivos muito diferentes.
Muitos exemplos e argumentos justificam a suposição de que os métodos de gestão administrativa utilizados pelo setor privado são mais eficientes comparados àqueles utilizados no setor público na eficiência.
É nesse sentido que procurei destacar algumas diferenças importantes entre o modelo de gestão público e privado, que não inviabilizam o intercâmbio dos processos, mas impedem que práticas autorizadas no mundo corporativo possam ser importadas para gestão pública com a mesma eficiência.
Gestão pública e gestão privada
Estudos em torno de uma “revolução empresarial” na administração pública vêm sendo realizados desde 1950.
Análises acadêmicas e evidências empíricas destacam barreiras evidentes que limitam a adaptação de práticas e perfis da administração privada para a administração pública. Veja a seguir:
1ª Estrutura: as organizações públicas pertencem a uma vasta e dispersa coletividade, já as organizações privadas são controladas por empreendedores e acionistas.
2º Público-alvo: as organizações públicas são sistemas abertos que respondem a demandas políticas e sociais, enquanto as organizações privadas atendem prioritariamente às demandas vindas dos nichos de mercado.
3ª Operação: os resultados auferidos na administração pública dependem de apoio político e atendem a um ciclo eleitoral, ao passo que, os resultados alcançados na administração privada variam conforme a conjuntura do mercado, a qualidade dos processos e atendem aos interesses dos acionistas.
4ª Metas: as organizações públicas possuem metas ambíguas e determinadas por múltiplos grupos de interesse, o objetivo do gestor público é maximizar o valor coletivo, já as organizações privadas possuem metas relacionadas a geração de lucro e valorização do patrimônio, a fim de maximizar o interesse dos acionistas.
5ª Hierarquia: o processo de decisão nos sistemas públicos é limitado por determinações formais, regulatórias e elevados níveis de burocracia, pois a autoridade é compartilhada entre os poderes executivo, legislativo e judiciário, enquanto o processo de decisão nas organizações privadas priorizam escolhas racionais e respeitam um fluxo hierárquico progressivo.
6º Capital Humano: o capital humano disponível nas organizações públicas é contratado, dispensado e promovido atendendo a regras, já as organizações privadas contratam, dispensam e promovem conforme adequação do perfil.
De todas as diferenças elencadas, a mais desafiadora diz respeito à complexidade da demanda. Por mais abrangente que seja o mercado atendido por uma organização privada, as linhas de produtos e serviços são classificadas em nichos de consumidores razoavelmente uniformes. Nas organizações públicas uma mesma oferta atende a nichos variados com interesses distintos e concorrentes.
Os contrastes se tornariam ainda mais evidentes se incluíssemos na discussão as formas administrativas adotadas por agências reguladoras, militares, segurança pública, tribunais de contas, supervisores do mercado financeiros e de capitais, entre outras.
Embora a conversão de empreendedores renomados em políticos possa inspirar maior agilidade e eficiência dos processos – quando uma maioria desconfia das intenções da classe política e não têm ilusões a respeito da eficiência dos governos –, não resolve as ineficiências da máquina pública.
A insatisfação sobre a gestão pública e os governos pode confundir e inspirar a conversão de empreendedores renomados em políticos, mas não são apenas de processos eficientes que se constrói o desenvolvimento, mas de vocação e talento.
*Claudia Kodja, mentora da Liga dos Empreendedores da FGV, membro da Copenhagen Institute for Futures Studies e gestora executiva da Kodja Escola de Negócios. |
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