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Claudia Kodja

Do culto ao risco

Ao esvaziamento das bolhas especulativas.

Bolhas especulativas ocorrem quando o preço de um investimento se desvia fortemente do seu valor justo e da expectativa de valorização no tempo. É como se muitos resolvessem adquirir “produtos” a um preço superior ao seu valor adequado, na certeza da sua valorização, em um futuro original e próspero. 

Embora a formação de bolhas especulativas já pudesse ser observada antes de 2020, foi em meio à pandemia e à queda do crescimento global que muitos investidores destinaram parte majoritária dos seus recursos financeiros para novos e velhos mercados de risco.

A elevação inédita dos volumes investidos em ações, tecnologias disruptivas, criptomoedas e ativos relacionados à sustentabilidade, se deu, justamente, em meio a uma elevação significativa da instabilidade econômica e avaliações dos ativos extremamente caras.

A principal causa de tanto otimismo por parte dos investidores está relacionada à tentativa dos bancos centrais de estimular o crescimento através da expansão monetária e da redução da taxa de juros.

Investidores, em geral, se sentiram encorajados a assumir riscos, dada a oferta barata de dinheiro e baixa rentabilidade oferecida pelas estratégias conservadoras, atreladas às taxas de juros reais negativas.

  • Confira alguns dos volumes extraordinários de recursos financeiros direcionados a estratégias de risco por investidores do varejo e institucionais: 

O volume financeiro negociado na bolsa de valores brasileira, em 2020, chegou a R$ 6,45 trilhões, contra R$ 3,77 trilhões em 2019, um aumento de 71% e uma valorização positiva do Ibovespa de apenas 2,92% no ano.

Em 2021, o volume movimentado na B3 atingiu o recorde de R$ 7,04 trilhões, 9,10% superior a 2020 e uma valorização negativa do Ibovespa de 11,93% no ano.

Apesar das circunstâncias excepcionais, a Federação Internacional das Bolsas de Valores apontou 2020 como um ano “extraordinário para todos”, com níveis recordes de valor negociado, com alta de 53,7% e volume de US$ 137,6 trilhões em todo o mercado, aumento de 56% comparado com 2019.

No ano de 2020, o valor de mercado global das criptomoedas atingiu US$ 758 bilhões, um crescimento de cerca de 300% com relação a 2019. 

Conforme relatório anual da Cointrader Monitor, as negociações em bitcoins no Brasil movimentaram R$ 19,8 bilhões em 2020, um aumento de 77% no valor investido, comparado a 2019.

No dia 1° dia de 2020, o valor do bitcoin era de R$ 29.214,30 no mercado nacional e, no último dia do ano, era de R$ 151.903,59, uma valorização de 420% em 12 meses.  

Os investimentos em ativos ESG, aqueles comprometidos com códigos de responsabilidade ambiental, social e de governança, também estiveram em alta, como nenhuma outra tendência do mercado.

Conforme a Global Sustainable Investment Association, ativos ESG ultrapassaram o valor de US$ 35 trilhões em 2020, contra US$ 30,6 trilhões em 2018 e US$ 22,8 trilhões em 2016, atingindo um terço dos ativos totais sob gestão.

Em 2020, os Estados Unidos assumiram a liderança com US$ 17 trilhões em ativos com características ou objetivos ESG, 49% do total global sob gestão. 

Segundo a Morningstar, o Brasil criou 85 novos fundos rotulados como sustentáveis em 2020, contra apenas seis em 2019. 

Conforme levantamento feito pela Crunchbase, as startups denominadas de Unicórnios – aquelas empresas privadas avaliadas em mais de US$ 1 bilhão – foram criadas em um ritmo sem precedentes em 2021, uma média de mais de 10 por semana.

Investimento de risco global no ano de 2021 totalizou US$ 643 bilhões, em comparação com US$ 335 bilhões em 2020, marcando um crescimento de 92% ano a ano. 

No Brasil, 10 novos negócios atingiram a categoria de unicórnios em 2021 e investidores aportaram cerca de US$ 10 bilhões em startups.

A melhor saída em meio à desaceleração

Da mesma forma como o dinheiro barato estimulou a formação de bolhas especulativas, o retorno da inflação e a possibilidade de elevação das taxas de juros começaram a reduzir o ímpeto dos investidores a partir de fevereiro de 2021.

Em meados do segundo semestre de 2021, o risco da formação de bolhas especulativas começou a ser deflacionado.

O Índice da Bolsa Brasileira desvalorizou 22% – de 127.327 para 99,324 pontos – o Dow Jones recuou 9% e a Nasdaq 20%. O valor das bitcoins caiu 41%, – de R$ 177.970 para R$ 104.177 – e a ethereum recuou 46%.

O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), formado por empresas de capital aberto, selecionadas pelo seu reconhecido comprometimento com a sustentabilidade empresarial caiu 24%.

Com o custo de capital mais alto, o valor das rodadas de investimento em startups, no primeiro trimestre de 2022, recuou cerca de 35%, comparado ao mesmo período de 2021. O recuo fez com que as empresas revisem o arrojo de suas estratégias de aceleração e iniciassem um ciclo de redução significativa do número de colaboradores.

É relevante que em períodos de instabilidade os investidores protejam seu capital contra a desvalorização monetária provocada pela inflação, mantendo parte minoritária dos seus recursos destinados às estratégias voláteis e de risco elevado ou que não tenham um valor intrínseco associado.

Embora sejam poucas as alternativas de investimento capazes de bater a inflação, é possível encontrar no mercado ativos indexados ao IPCA, que podem beneficiar seus patrimônios com prêmios atraentes, conforme a liquidez. 

*Claudia Kodja, mentora da Liga dos Empreendedores da FGV, membro da Copenhagen Institute for Futures Studies e gestora executiva da Kodja Escola de Negócios.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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