São todas teorias da conspiração que estão ou estiveram em voga nos últimos anos, com efeitos negativos sobre a saúde da população, como na recusa às vacinas, à democracia e à própria vida de quem acredita nelas. Mas um estudo recentemente publicado por um jovem psicólogo na Alemanha sugere que as supostas conspirações também têm um efeito prejudicial sobre a saúde financeira de seus defensores.
Michael Edem Fiagbenu, um estudante em seu último ano de doutorado na Universidade de Jena e pesquisador do prestigiado Instituto Max Planck, ambos na Alemanha, tem feito algumas boas contribuições para entender a psicologia do mercado e, também, as ideologias. Em tempo de polarizações tão radicais como o que estamos vivendo, contribuições úteis, sem a menor dúvida.
No estudo, publicado em junho no Wiley Online Library, um grande repositório de artigos, livros e publicações científicas, ele examinou três pesquisas para tentar entender se acreditar em conspirações afasta alguém do mercado financeiro. As respostas demonstram uma influência dos teóricos da conspiração sobre a decisão de ter ou não ações entre os investimentos.
Na primeira pesquisa, entre 8% e 19% dos
entrevistados, em um total de 65 mil pessoas em 25 países que acreditavam em
teorias da conspiração envolvendo os ataques do 11 de setembro ou a
participação da Rússia em fraudes na eleição presidencial de 2016 disseram não
investir em ações. Mas os resultados variaram conforme a renda. Quanto mais
aumentava, acreditando ou não em conspirações, maior a chance de entrar na
bolsa.
A segunda pesquisa usou dados de entrevistas
realizadas em 2020 com eleitores em uma grande pesquisa nacional nos Estados
Unidos, os American National Election Studies, sobre a economia e a política
sendo controladas por um pequeno número de poderosos. Mais uma vez o aumento da
crença em conspirações estava associado a menos investimentos em bolsa. De 16%
em média.
E a terceira pesquisa usou as mesmas
entrevistas com eleitores, porém realizadas em 2012. Já as conspirações
envolviam se o ex-presidente americano Barack Obama nasceu no Quênia, como acreditam
alguns eleitores do Partido Republicano, ou se o governo de George W. Bush,
antecessor de Obama, ajudou a causar a enchente que destruiu a cidade de Nova
Orleans depois do furacão Katrina, em 2005, como acreditam alguns eleitores do
Partido Democrata.
Ambas são teses fantasiosas, mas quem acredita nelas, segundo os resultados, tem menos 20% de chance de investir em ações. Só que mais uma vez a renda importava. Conforme ia aumentando, a possibilidade de ter ações na carteira subia até 62%.
O estudo é um poderoso recado sobre como a confiança na sociedade é importante. Quando é questionada, as pessoas são mais propensas a atitudes e decisões irracionais. E, como investidores, a perder oportunidades e prejudicar o próprio futuro financeiro se a recusa a ter ações ocorre em um momento favorável às bolsas.
*Samy Dana é Ph.D em Business, apresentador do Cafeína/InvestNews no YouTube e comentarista econômico. |
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