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Fabricio Bloisi, CEO do iFood, revela os planos além do delivery

O cofundador do iFood e da Movile fala das novas soluções para clientes e parceiros do aplicativo e como a tecnologia pode ser fundamental para o Brasil ser uma potência nos próximos anos

Fabricio Bloisi

As inovações proporcionadas pela inteligência artificial são tamanhas que seu impacto no mercado já é tido como a mais nova revolução após o advento da internet. A aplicação da tecnologia começa a chegar em setores como educação e saúde, e sua utilização será crucial para o futuro das empresas e a criação de novas oportunidades de trabalho. E há também quem aponte que investimentos em inteligência artificial e sua expansão no mercado sejam a grande oportunidade para o Brasil voltar a crescer e ocupar um lugar entre as economias protagonistas do globo nos próximos anos.

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Essa visão é de ninguém menos do que Fabricio Bloisi, fundador da gigante global de marketplaces Movile, que é líder em mobile commerce na América Latina, e atual CEO do iFood, e com quem tive a oportunidade conversar sobre os planos para o maior aplicativo de delivery do mercado brasileiro, e também como as novas tecnologias podem impulsionar a economia brasileira, seja com a transformação do mercado de trabalho como também deixando as empresas mais eficientes para brigar globalmente.

Para o iFood, Bloisi aponta que o objetivo para o aplicativo sempre foi entregar uma refeição melhor, mais barata e mais saudável para os clientes, e os avanços só vão ocorrer graças à tecnologia. O curioso é que a expectativa para esse mercado, mesmo com a aceleração provocada pela pandemia, é que cresça mais de dez vezes até 2024. Não à toa que as projeções para o aplicativo são robustas, com aumento entre 100% e 150%, sendo que a empresa hoje abrange uma rede com 250 mil restaurantes e 150 mil entregadores diretos, e entrega mais de 50 milhões de pedidos por mês.

Esses resultados têm como base a cultura e valores que estão no DNA tanto da Movile quanto do iFood que é “pensar grande para ter um grande impacto nas áreas social, meio ambiente e inclusão”. Essa mentalidade organizacional está baseada em quatro pilares:

  • Empreendedorismo, com pessoas que pensam e se sintam empoderadas a criar e empreender;
  • Cultura de Resultados, cuja atuação busca a todo momento a entrega de resultados no curto prazo;
  • Inovação, onde todos têm que tentar inovar o tempo inteiro e têm licença para errar, testar e investir em novas ideias;
  • Todos Juntos, que é a cultura de união dentro da companhia, que abrange também inclusão e diversidade.

Com essa cultura, o iFood prepara para este ano uma novidade para seus parceiros. Além de consolidar a área de mercado, lançada há dois anos e que tem crescido até 15 vezes por ano, o aplicativo pretende lançar uma fintech voltada ao segmento de alimentação cujo objetivo é oferecer créditos e soluções digitais aos restaurantes para que possam ampliar seus serviços. Da mesma forma, os entregadores terão financiamento para poderem operar melhor com novas plataformas – opções de pagamentos digitais e outros serviços financeiros. A companhia já realiza também testes para fazer as entregas das refeições com drones e robôs.

As inovações, entretanto, vão além dos negócios das empresas. Bloisi tem as áreas de educação e meio ambiente entre as suas preocupações para o Brasil. Tanto que há planos para toda a frota de entrega do iFood ser realizada por motos elétricas. Além disso, crê que a tecnologia será a base para educar as pessoas, sendo a grande oportunidade para reduzir os problemas do país na área.

O empreendedor, inclusive, é um aficionado por educação e projetos que ajudem a levar o ensino para a população. O incentivo, talvez, vem da própria motivação de estar aprendendo sempre. Graduado em Ciência da Computação pela Unicamp, Bloisi fez mestrado em Administração de Empresas pela FGV, e concluiu cursos voltados a executivos nas universidades de Stanford e Harvard.

Com todo esse conhecimento e à frente de empresas que estão revolucionando o mercado, aproveitei para conversar com o fundador da Movile e atual CEO do iFood para saber mais sobre os planos o aplicativo de delivery e os projetos que ele tem em mente para o mercado.

Como você descreve os elementos centrais da cultura do iFood, e quais as adaptações e evoluções que você teve que promover para essa cultura ser um diferencial de atração e retenção das pessoas?

Como você avalia a demanda por pedido de refeições em casa após as vacinações e o fim da pandemia? E como você vê o lado do supply, acha que os restaurantes vão continuar abertos entregando na casa das pessoas?

Diferente do que muitos pensam, a pandemia é um dos grandes problemas do iFood pois gastamos muita energia com ações de suporte, auxílio a restaurantes e ajuda a entregadores, além de campanhas como reforçar o distanciamento social e o uso de máscara, entre outras iniciativas. Temos que resolver a pandemia e o crescimento que tivemos nesse período já ocorria antes também pois antes da crise a empresa já crescia entre 100% e 150% ao ano. O mercado de entrega de comida vai crescer 100 vezes mais ainda. A pandemia apenas acelerou um pouco esse movimento e não acho que vai cair após o fim da crise, esse mercado vai continuar crescendo. A expectativa é de crescimento de mais 10 vezes nos próximos 2, 3 anos. Nossa principal preocupação é menos crescer e sim garantir que os entregadores continuem com saúde e que os clientes fiquem em casa. Essa é a nossa responsabilidade social.

Quais são as apostas do iFood nesse ecossistema mais amplo em áreas como financeiro, marketplace, payments… como vocês imaginam essa evolução?

A entrega de comida é um mercado importante mas ao seu redor abrem-se oportunidades muito interessantes. Nosso maior foco no momento é o de mercado. Estamos crescendo muito nesse segmento e essa demanda aumentou muito com a pandemia pois as pessoas precisam fazer suas compras sem sair de casa. Em menos de 2 anos, crescemos entre 10 e 15 vezes nessa área que é a grande prioridade hoje. O próximo passo, e vemos uma grande oportunidade nisso, é o de fintech ligado ao segmento de comida. Precisamos dar créditos aos restaurantes e eles vão performar muito melhor se tiverem um parceiro como o iFood que consiga dar créditos e oferecer soluções digitais, e também para os entregadores para terem financiamento para poderem operar melhor e crecer… cartões digitais, vale-refeição, pagamento por PIX, são várias as possibilidades para conectar nosso ecossistema de cerca de 40 milhões por mês que usam o iFood através dos serviços financeiros, e esse é o nosso novo foco para 2021.

Como você está vendo a evolução das Dark Kitchen e como o iFood vai se posicionar nesse mercado?

Cada vez mais as pessoas vão focar em pedir uma comida com menor preço e maior qualidade, e a Dark Kitchen é uma evolução dos restaurantes onde o foco do negócio é o delivery. Os próprios números do iFood explicam essa tendência pois fazíamos 100 mil entregas por mês em 2015 e hoje faz mais de 50 milhões. Nessa evolução, em pouco tempo vamos atingir 300 milhões de entregas e, a partir do momento que ganhamos em escala, mais empresas vão passar a atuar especificamente em delivery e esse é um desafio para os restaurantes hoje. Em tempos de pandemia, esse desafio é ainda maior pois os restaurantes tinham em média 30% do seu faturamento com delivery, e hoje convivem com muita pressão para conseguirem atuar apenas nesse segmento. É por isso que o iFood precisa apoiar muito os estabelecimentos nesse momento. Com esse cenário, a tendência é termos cada vez mais restaurantes otimizados para atuarem via Dark Kitchens e não será o iFood que terá esse tipo de negócio, mas sim oferecer ferramentas melhores para que os restaurantes possam atuar da melhor forma nesse segmento. A tendência é muito grande e vamos ver muito mais Dark Kitchens nos próximos 5 anos.

Quero tocar em um assunto que é um dos desafios das plataformas que é a relação trabalhista com os entregadores, e talvez essa seja a maior dor entre as gig economy. Como o iFood se posiciona sobre esse tema?

A inteligência artificial tem transformado não só os negócios como os setores como um todo. Essa tecnologia pode mudar o business do iFood nos próximos anos?

A inteligência artificial não vai mudar só um negócio ou um setor como vai mudar tudo, e todo mundo tem que ter essa percepção. O mundo tem mudado completamente com tecnologias disruptivas a todo momento, e tudo o que a gente faz vai mudar. Nós, brasileiros, temos o costume de pensar pequeno, de criar empresas de 1 bilhão de dólares. Mas não, temos que pensar em empresas de 10, 100 bilhões de dólares. Países europeus se beneficiaram com a Revolução Industrial, os EUA e a China se beneficiaram com a revolução da internet, e agora estamos passando por uma nova revolução com a Inteligência Artificial com a oportunidade de criar aqui empresas que podem ser as mais eficientes do futuro. Tecnologia não serve apenas para fazer um aplicativo mais bonito, mas sim para educar melhor as pessoas, e criar trabalhos e novas oportunidades. A hora é essa ou vamos continuar perdendo espaço para os outros países. Inteligência Artificial é a melhor maneira para ser mais eficiente e investimos muito nisso, e esse é o caminho para criarmos uma riqueza local, com empresas eficientes, e ser um país que cresce nesse momento de mudança, e não ser refém dos outros que estão investindo em inovação.

Há várias mudanças para acontecer a partir das tecnologias disruptivas e queremos liderar o mundo nessa área mas também falar sobre isso pois queremos que as empresas brasileiras liderem essa transformação. O iFood cresceu centenas de vezes em poucos anos pois investimos muito em inovação constantemente e a Inteligência Artificial vai chegar em todos os segmentos.

A América Latina é propícia para business como o do iFood pelas suas características, com cidades bem urbanas, com trânsito, quantidade de motos e entregadores, etc. Mas quais são os planos internacionais de expansão do iFood?

O iFood tem crescido muito pois pensamos grande o tempo inteiro. E dentro desse pensamento queremos ser uma empresa líder global de tecnologia, com sucesso global. Hoje, estamos no Brasil e na Colômbia, e nosso sonho é levar o que fazemos aqui para operar em todo o mundo. Um segundo objetivo é ser referência global em impactos tendo como foco educação, meio ambiente e inclusão. Temos falado muito pouco sobre meio ambiente no Brasil sendo que o país tem potencial para ter empresas líderes globais em meio ambiente. Um de nossos planos é que o iFood opere com motos elétricas, com redução de plásticos com uso de embalagens sustentáveis, entre outras iniciativas. A empresa também tem investido para ter a tecnologia para levar educação de maneira diferenciada, pois o país só vai mudar com um sistema inteligente de educação baseado nas tecnologias. Esses são os nossos grandes sonhos.

Não há dúvidas do poder das novas tecnologias em nossa sociedade, mas é uma oportunidade única poder ouvir as ideias e planos de empreendedores que são referências em nosso mercado como é o caso do Fabrico Bloisi. Mesmo em tempos tão difíceis como o atual, nos dá esperança por dias melhores ao saber que há pessoas como ele pensando em projetos inovadores voltados para áreas tão importantes para o país como educação, inclusão e meio ambiente.

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