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Investir em mulheres estimula o crescimento econômico e social

Pesquisa aponta que US$ 12 trilhões poderiam ser adicionados ao PIB global até 2025 se houvesse paridade de gênero.

Imagem ilustrativa | Freepik

Recentemente conheci a Wishe Woman Capital, um hub de investimentos em startups lideradas por mulheres, que me fez refletir sobre a importância de investirmos mais em empresas lideradas por mulheres.

Investir nas mulheres não gera ganho somente para elas como indivíduos. Gera bons resultados para todos. Desde que comecei a estudar e pesquisar sobre equidade de gênero, aprendi que esse tema vai muito além do que podemos imaginar. Se queremos avançar nessa agenda temos que ampliar o nosso olhar.

Por que investir em mulheres?

1 – Para estimular o crescimento econômico

Investimentos em mulheres, tanto no Brasil quanto no exterior, incentivam a paridade de gênero na educação infantil. De acordo com a Iniciativa de Educação de Meninas das Nações Unidas, quando a renda de uma mulher instruída aumenta, ela investe 90% dessa renda de volta em sua família.

Este número é um dos muitos que sustentam a mesma conclusão: quando você educa uma mulher, pode esperar crescimento econômico. Quanto crescimento econômico, exatamente? De acordo com uma estimativa do McKinsey Global Institute, US$ 12 trilhões poderiam ser adicionados ao PIB global até 2025 por meio da paridade de gênero, considerando o melhor cenário de crescimento.

2 – Para melhorar os resultados sociais

De acordo com o Fundo de População das Nações Unidas, nos países em desenvolvimento, uma em cada três meninas se casa antes de completar 18 anos. Ao oferecer alternativas ao casamento precoce, como cursar o ensino médio ou a possibilidade da entrada no mercado de trabalho, meninas e mulheres têm mais liberdade para fazer suas próprias decisões financeiras e reprodutivas.

Pesquisas feitas pela UNICEF descobriram que a taxa global de mortalidade infantil foi reduzida em mais da metade desde 1990, parcialmente devido ao aumento da paridade de gênero para as mulheres. Os filhos de mães que concluíram o ensino médio ou superior têm três vezes mais chances de sobreviver na infância do que os de mães sem instrução.

Os investimentos em mulheres empresárias em todo o mundo incentivam o empoderamento financeiro, de maneira que muitas vezes também podem levar ao empoderamento social.

3 – Para tornar as sociedades mais democráticas

As mulheres continuam enfrentando lacunas significativas em termos de participação na tomada de decisões públicas e privadas. Uma das áreas da sociedade em que as mulheres carecem de mais paridade é o governo, já que apenas 19% dos legisladores em todo o mundo se identificam como mulheres.

De acordo com a USAID, a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, os países onde as mulheres representam 30% ou mais do governo eleito tendem a ser mais igualitários, inclusivos e democráticos do que aqueles que se enquadram nesse limite. No ritmo atual de progresso, as mulheres não alcançarão a paridade política global até 2080.

Oferecer mais acesso à educação, oportunidade financeira e saúde permite que as mulheres tenham mais oportunidades em posições de liderança em suas comunidades locais. Quando você investe em mulheres, ajuda a amplificar suas vozes.

Razões para investir e apoiar o crescimento de empreendimentos de mulheres

1 – Empresas de mulheres estimulam o crescimento econômico

Pesquisas apontam que o investimento em empresas de propriedade de mulheres vai além da responsabilidade social e têm impactos econômicos profundos.

Apesar do menor acesso ao capital, empresas pertencentes a mulheres e lideradas por mulheres têm níveis mais elevados de desempenho financeiro em comparação às empresas pertencentes exclusivamente a homens.

Entre as empresas Fortune 500, as que tiveram pelo menos três mulheres diretoras (WBDs) por pelo menos cinco anos superaram aquelas com zero WBDs em 84% sobre o retorno sobre as vendas (ROS), 60% sobre o retorno sobre o capital investido (ROIC) e 46% sobre o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE).

Apesar do número recorde de mulheres em cargos de liderança nas empresas listadas no último ano, o percentual ainda é de 7,6%. No Brasil, um estudo realizado pela consultoria Bain & Company em parceria com o LinkedIn, aponta que somente 3% dos líderes empresariais das 250 maiores empresas brasileiras são mulheres.

2 – A liderança das mulheres leva a uma maior inovação

Mulheres e homens trazem perspectivas diferentes para a liderança. A diversidade de gênero permite uma base de conhecimento mais ampla e um pensamento mais original. Em última análise, estimula a inovação.

Estudos concluíram que maiores níveis de diversidade na equipe de gestão promovem o desempenho dos negócios porque estão associados a maiores níveis de inovação, orientação para o mercado e empreendedorismo.

Outra curiosidade é que as mulheres atendem melhor às consumidoras e são elas que controlam a maioria das compras no mercado de consumo. As mulheres estão mais conectadas com as necessidades de outras mulheres e, assim, as empresas pertencentes e lideradas por mulheres têm maior probabilidade de desenvolver produtos e serviços que atendam melhor à essas necessidades.

Diante de tantos motivos, o que falta para investirmos “nelas”?

O apetite empreendedor das mulheres está em alta. Aproximadamente 1200 novos negócios por dia são iniciados por mulheres. Os Estados Unidos estão testemunhando mais ecossistemas de soluções inovadoras que nutrem fundadoras e donas mulheres e mercados responsáveis que entendem os pontos fortes das mulheres nos negócios.

No Brasil, o número de mulheres que empreendem cresceu 40% durante a pandemia. As mulheres empreendedoras já são mais de 30 milhões, segundo a Global Entrepreneurship Monitor, o que representa 48,7% do mercado empreendedor do país.

As empresas de investimento voltadas para as mulheres estão crescendo. Golden Seeds e Texas Women Ventures são exemplos. A Golden Seeds investiu mais de US$ 70 milhões em mais de 65 empresas lideradas por mulheres.

Aqui no Brasil, as plataformas de crowdfunding de ações estão dando às mulheres um acesso sem precedentes ao capital. Os exemplos incluem Wishe Women Capital, um hub de investimentos em startups lideradas por mulheres que citei no início do artigo.

Mesmos com todos esses motivos e dados, as mulheres enfrentam muitas dificuldades para empreender e ter acesso a capital e investidores. Segundo levantamento feito pela empresa de inovação Distrito, entre os 36 fundadores dos “unicórnios” brasileiros (startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão), há apenas duas mulheres.

Além disso, os 21 fundadores das startups candidatas a unicórnio em 2021 são homens. Um mapeamento da Associação Brasileira de Startups (ABStartups) feito com 3 mil startups no ano passado mostrou que 378 possuem fundadoras mulheres (este número não considera startups que têm mulheres como cofundadoras).

Apesar de todas as importantes razões levantadas acima, acredito que existe algo ainda mais relevante sobre investirmos mais em mulheres: ao investir em mulheres, nós estamos investindo em nós mesmas. Estamos investindo em um legado que deixaremos para novas e futuras gerações. É uma forma de abrirmos portas para nós e para tantas outras mulheres que estão ao nosso lado, ou que virão depois.

Ou seja, é uma forma de perpetuar as nossas conquistas. Precisamos desmistificar o fato de que falar sobre dinheiro, investir e trazer essa pauta financeira para nossas vidas é algo ruim, complicado ou distante.

Nós mulheres precisamos de mais mulheres investindo, engajadas no tema e abrindo essas portas por nós – e para nós.

*Co-fundadora do Fin4she, atualmente é responsável por liderar e implementar os projetos para promover o protagonismo das mulheres no mercado e a independência financeira feminina. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil, com mais de 800 mulheres do mercado inscritas. Foi executiva da Franklin Templeton por 10 anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. É mãe do Tom e do Martin e através do Fin4she tem a missão de promover uma transformação na carreira e vida das mulheres, para que iniciativas como essa não precisem existir mais no futuro.

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