As vantagens competitivas das empresas são atributos qualitativos que lhe garantem sobrevivência e geração de valor num ambiente de concorrência quando analisados horizontes de longo prazo.
Um desses fatores qualitativos mais importantes é a existência de barreiras de entrada, pois possibilita a sustentabilidade de rentabilidades elevadas no longo prazo, protegendo a entrada de novos competidores.
É fácil de entender que, quanto maior o número de empresas competindo dentro de um setor, menores serão as margens dessas empresas, caso seus produtos não possuam diferenciação entre si. É o caso do setor de varejo, por exemplo.
Isso acontece porque, com a competição, a margem elevada de uma empresa representa a oportunidade de outra. Quanto mais competição, menor a rentabilidade média do setor.
Uma forma de se proteger disso é com as empresas criando barreiras de entrada, sejam elas “naturais” ou “artificiais”.
Pense no caso de uma concessão governamental, por exemplo. O Estado define que apenas a empresa X tem a permissão para exercer tal atividade. Está aí um caso simples de uma barreira de entrada importante que a empresa auferiu.
Esse é um caso de barreira de entrada artificial, pois a mera alteração regulamentar torna inexistente a vantagem competitiva ora auferida por tal empresa.
Obviamente, esse não é o único tipo de barreira que existe. Existem inúmeros outros tipos de barreiras de entrada além de licenças do governo: investimentos em capital muito altos, ganhos de escala, diferenciação de produtos, patentes etc.
Todos esses fatores atuam no sentido de impedir que novos concorrentes consigam drenar a rentabilidade que a empresa tem naquele negócio.
É o caso da CBOE, uma operadora de bolsa de valores de derivativos dos Estados Unidos, que possui contratos de exclusividade com uma série de parceiros na oferta de alguns produtos financeiros.
Com isso, apenas essa bolsa é permitida a oferecer negociação de certos ativos, constituindo numa barreira de entrada de exclusividade.
Em um negócio altamente rentável, mas sem barreiras de entrada, por mais que possa parecer lucrativo olhando para o passado, a entrada de novos concorrentes que serão atraídos por esse retorno, acaba diminuindo a rentabilidade da empresa.
Por exemplo, caso não haja uma diferenciação de marca, produtos ou preço, os consumidores passam também a consumir dos novos entrantes no mercado.
Isso, obviamente, partindo da premissa que a demanda pelo produto não muda. Ocorre, portanto, uma diminuição do volume vendido pela empresa, o que pode levar a menor receita e, eventualmente, menor lucratividade e geração de caixa.
Outro ponto a ser analisado é a ameaça de produtos substitutos, que é a possibilidade de os consumidores trocarem o produto da empresa por um produto substituto, sendo uma vantagem competitiva que pode gerar barreiras de entrada.
Nesse contexto, uma barreira de entrada importante é a marca, pois uma percepção de valor grande permite à empresa cobrar mais pelos seus produtos e, mesmo tendo um preço mais alto que seus competidores, não seja ameaçada por produtos substitutos.
Um exemplo muito claro desse tipo de barreira é o da Apple (AAPL34). A empresa possui produtos e serviços com preços altíssimos, porém os seus clientes aceitam pagar, e a cada novo iPhone, pagam valores maiores ainda.
Isso ocorre porque a maçã possui uma marca muito desejada, o que se constitui, na prática, como uma barreira de entrada importante para que outras empresas compitam com ela no segmento de smartphones dessa faixa de preço.Finalmente, é importante que os investidores tenham bastante atenção ao comprar ações de empresas que não possuem nenhuma barreira de entrada relevante, pois isso pode corroer os resultados das empresas no futuro.
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