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O que acontece quando o investidor ignora a probabilidade nas suas decisões?

Entenda a importância do investidor conhecer os diferentes vieses, tê-los em mente em suas decisões e neutralizá-los ao máximo.

Tiago Reis

Muitos investidores adotam boas estratégias de investimentos, que tendem a trazer ótimos retornos no longo prazo, porém, pecam na execução da estratégia. E, boa parte dos erros de execução acontecem graças aos chamados vieses cognitivos.

Relembrando, vieses são inclinações naturais que os seres humanos têm em cair em erros de raciocínio. Nesta edição, trazemos o viés de negligência da probabilidade. Esse viés consiste na tendência que os humanos têm em ignorar ou subestimar a probabilidade nas suas decisões.

Para todo evento aleatório, há um espectro de resultados possíveis. O evento “lançamento de um dado”, por exemplo, tem seis possibilidades de resultados.

Ao estimar o valor de uma companhia, o investidor ou analista projeta o resultado de diversos eventos. Eventos como: volume de vendas, preço médio, margens de custos e despesas, nível de endividamento, custo de capital e outros.

Para cada um desses eventos, há um espectro de resultados possíveis. Os eventos de uma empresa, no entanto, são mais complexos que um lançamento de dados. Há um espectro enorme de resultados, com probabilidades diferentes.

É mais provável que uma companhia (sem mudanças relevantes na sua estrutura e cenário competitivo), tenha um volume de vendas próximo à média dos últimos anos. É menos provável que esta cia quadruplique suas vendas, ou que as vendas caiam para um quarto do que eram.

Ao distribuirmos os diferentes resultados de acordo com suas probabilidades, eles geralmente assumem o famoso formato de sino. A média de venda dos últimos anos pode ser o resultado mais provável, portanto, o que fica no centro da curva.

Um erro que muitos investidores cometem é o de se fixar no seu cenário-base, no resultado que considera mais provável, e se esquecer do restante da distribuição.

É muito difícil “bingar” um cenário exato para a companhia, por isso, deve-se considerar uma faixa de resultados prováveis. Exemplo: em 2023 a companhia terá um preço médio de $7,00 +/- $0,70.

Ainda assim, mesmo utilizando como base uma faixa de resultados, a realidade pode se provar diferente. O mundo dos investimentos é influenciado pelo acaso, nem tudo que deveria acontecer acontece. Como Howard Marks diz: “o tempo todo, boas decisões dão errado e decisões ruins dão certo”.

Ao não incluir o restante da distribuição na sua avaliação, o investidor se abre para o risco. Os resultados menos prováveis também são possíveis. Mesmo resultados terríveis super improváveis (cisnes negros) são possíveis, e a sua carteira deve estar preparada para suportá-los.

Outro ponto a se ressaltar é que o formato da curva de distribuição varia drasticamente dependendo da natureza do negócio e da força competitiva da empresa. 

Negócios mais maduros, menos sujeitos a ciclos econômicos e com posições competitivas fortes, tendem a ter uma distribuição mais estreita. Isto é, os resultados possíveis irão variar menos em torno da média.

Já uma empresa nova, em um negócio emergente, sem vantagens competitivas, tem uma distribuição mais achatada. Isto é, o resultado central terá uma probabilidade menor, e os resultados das extremidades terão uma probabilidade maior que o de uma distribuição normal. 

O valor destas últimas cias é menos previsível. Assim, o erro de se fixar no resultado mais provável é mais grave nestas firmas.

Por fim, ressaltamos que nenhum ser humano consegue escapar dos vieses cognitivos. O seu trabalho como investidor é conhecer os diferentes vieses, tê-los em mente em suas decisões e neutralizá-los ao máximo.

Para não negligenciar a probabilidade nas suas decisões, assuma faixas de valor para suas ações – utilizando margem de segurança -, entenda que suas ações têm diferentes níveis de previsibilidade, e esteja preparado para suportar realidades diferentes da faixa mais provável.

*A Suno é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.

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