Nesta edição, abordaremos um viés que leva muitos investidores a concentrar seus investimentos em seu país natal, deixando de lado a diversificação geográfica: o “home country bias” (viés do país natal).
Nosso objeto de estudo para analisarmos este viés será a pesquisa realizada em 1991 por Kenneth R. French e James M. Poterba, intitulada “Investor Diversification and International Equity Markets” (Diversificação do Investidor e Mercados Acionários Internacionais). Nela, os pesquisadores observam a tendência de investidores manterem uma alta concentração em ações de seu país natal – o que foi mais tardiamente nomeado “Home Country Bias”.
No artigo, observa-se que no ano de 1991 de todas as ações detidas por investidores estadunidenses, uma média de 94% eram originárias de seu próprio país. Nos dias de hoje, o conceito de diversificação já é mais difundido, mas ainda assim, observamos o “home country bias” na carteira de investidores.
Investidores tendem a ter uma visão mais otimista frente a ativos originários de seu país natal, enquanto são indiferentes ou mais pessimistas quando se trata de economias estrangeiras. Se um investidor se deixar levar por este viés ele pode acabar construindo um portfólio não balanceado e sofrendo riscos desnecessários.
O fato é que a diversificar geograficamente é essencial para redução de risco de um portfólio, pois o mercado de ação de um determinado país é altamente correlacionado com o crescimento do país em questão. Em outras palavras, quando a economia do país está crescendo, as ações tendem a subir, mas se o país entrar em recessão, o mercado de ações tende a acompanhar a queda.
Nesse sentido, um investidor que apenas investe em ações de seu país fica muito exposto a crises econômicas domésticas. Além disso, sob uma perspectiva de longo prazo, o mesmo pensamento é válido. Se o seu país natal tiver um mau desempenho econômico no longo prazo, a tendência é que o mesmo ocorra em seu mercado acionário.
Como não sabemos se o Brasil possuirá um sucesso de longo prazo, devemos diversificar globalmente. Além desta razão, existem outras que respaldam a ideia de diversificar geograficamente, como uma redução da volatilidade, exposição a moedas fortes e um universo superior de ativos.
Com todos estes fatores em mente, entendemos que não podemos nos levar totalmente pelo Home Country Bias e apenas investir no nosso próprio país. No entanto, ainda podemos nos questionar, faz sentido ter um pouco desse viés? Isto é, diversificar globalmente, mas ainda possuir uma preferência por ações brasileiras?
Para alcançar os benefícios da diversificação global, um investidor não necessariamente necessita perder sua preferência por investir em companhias de seu mercado doméstico, é possível aproveitar todos os benefícios da diversificação geográfica mesmo que se mantenha um viés para ações brasileiras.
Em um estudo da Vanguard chamado “Global equity investing: The benefits of diversification and sizing your allocation” observou-se que para um investidor americano a mínima volatilidade atingida em seu portfólio era obtida quando se investia algo próximo a 60% em ações domésticas e 40% em ações internacionais. Quando um investidor americano passa a adicionar mais que 40% em ações internacionais é observado um aumento na volatilidade de seu portfólio no modelo da Vanguard.
Assim, observa-se que a diversificação geográfica é algo essencial para a construção de um portfólio balanceado. No entanto, é possível obter os benefícios desta diversificação mantendo, ainda, uma preferência por ações de seu próprio país.
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