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Por que se preocupar com a depreciação?

Perda de valor tem relação direta com o CapEx (Capital Expentitures), que é o quanto a empresa efetivamente gasta para investir nela mesma; entenda.

Tiago Reis

Para os nossos assinantes não é novidade que investir em ações visando o longo prazo é uma tarefa que demanda ampliar o conhecimento sobre conceitos contábeis, para que se possa entender diversos aspectos da empresa investida, como geração de caixa, endividamento, etc.

E entre esses conceitos importantes está a depreciação, que muitas vezes é escanteada por alguns investidores, já que ela não representa uma despesa efetiva (apesar de contabilmente ser considerada uma despesa, a companhia não gasta recursos com depreciação). Além de que, em alguns modelos de negócios, ela possa vir a ser uma conta quase que irrelevante frente aos números de receita, lucro e outras despesas (empresas de tecnologia, por exemplo).

Para explicar este custo “disfarçado” da empresa, tomaremos o exemplo dado por Mary Buffett (ex-nora de Warren Buffett) e David Clark, dado no livro “Warren Buffett and the interpretation of financial statements”: 

“Suponhamos que a empresa X compre uma máquina que custe US$ 1 milhão, e tenha vida útil de 10 anos. Depois de feita a compra, pelos próximos 10 anos será contabilizado uma depreciação de US$ 100 mil sobre aquela máquina. O interessante é que esses US$ 100 mil não demandam gastos da empresa, mas são entendidos basicamente como um custo de reposição. Isso quer dizer que em algum momento aquela máquina passará a valer US$ 0, e, neste momento em que o valor dela é nulo, a empresa provavelmente precisará despender mais capital de reposição.”

Com esse exemplo fica fácil de entender que a depreciação tem relação direta com o CapEx (Capital Expentitures), que é o quanto a empresa efetivamente gasta para investir nela mesma.

Essa relação se dá da forma que, na teoria contábil, para a companhia manter a estrutura estável ano após ano, o CapEx deve ser igual à depreciação (para cobrir o custo de perda de valor e deterioração de suas propriedades).

Da mesma forma é correto imaginar que para melhorar as instalações a empresa deve ter gastos em CapEx maiores do que a própria depreciação.

Outra utilidade deste custo oculto, é no cálculo do EBITDA (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização).

O EBITDA é extremamente relevante numa análise, pois ele representa o potencial de geração de caixa da empresa durante um período analisado, e a dependência dele sobre a depreciação é que o lucro mostrado em alguns demonstrativos (DRE, por exemplo) é descontado da depreciação, logo, a empresa muitas vezes tem capacidade de gerar mais caixa do que o reportado.

Já no que diz respeito à relevância por modelo de negócios, é evidente que as empresas que necessitam de maior injeção de capital (como indústrias e mineradoras) apresentam uma depreciação mais relevante, já que dependem de manutenção constante, o que pode além de consumir muito recurso, acabar deteriorando as margens de rentabilidade das empresas. 

Por fim, vale deixar a reflexão de que ao investir em companhias de setores que são muito intensivos em capital, é extremamente importante buscar por empresas que possuam vantagens competitivas relevantes aos seus concorrentes, para diluir o risco de que a operação seja custosa ao ponto de demandar que grande parcela do lucro seja destinada exclusivamente para cobrir gastos de depreciação.

Como disse Warren Buffett na conferência de resultados da Berkshire Hathaway de 2017: “depreciação é uma despesa, e é o pior tipo de despesa. É uma despesa que você gasta dinheiro primeiro (no ato da compra do bem), e depois registra a despesa”.

*A Suno é uma casa de análise especializada em conteúdo sobre investimentos e educação financeira para o pequeno investidor pessoa física.

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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