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Teremos uma 2ª onda de inflação ou desinflação pelo mundo?

Em palestra recente, o diretor de Políticas Econômicas do Banco Central (Bacen), Diogo Guillen, apresentou as expectativas futuras de inflação no mundo e Brasil.

Escrevi esta coluna com o Doutor em economia Mauro Rochlin diante de um debate que deve impactar a questão social do ESG, principalmente, de acordo com os rumos da inflação, taxas de juros e sua relação com emprego e crescimento econômico dos países. 

Isso aconteceu porque em palestra recente, o diretor de Políticas Econômicas do Banco Central (Bacen), Diogo Guillen, de forma bem didática apresentou as expectativas futuras de inflação no mundo e Brasil. Para a autoridade monetária haverá nos próximos anos a continuidade da tendência mundial de desinflação apresentada no decorrer de 2023. 

Tecla ‘SAP’: enquanto a deflação é a redução dos preços, a desinflação é a diminuição do aumento de preços, porém ainda sendo inflação.

Voltando, essa visão é bem próxima do que os economistas de forma geral estão também apontando diante da desinflação mundial ocorrida em 2023. Na Europa, por exemplo, houve uma inflação de 10,4% no fim de 2022 para 3,4% no mesmo período de 2023. Nos Estados Unidos, o Banco Central americano, o FED, comemorou na virada deste ano a vitória contra a inflação.

No entanto, dados recentes publicados na revista “The Economist” mostram uma certa turbulência nesse caminho de desinflação mundial apontado pelo Banco Central. Nos Estados Unidos, por exemplo, houve aumento da inflação entre os meses de novembro de 2023 e janeiro de 2024, com a taxa chegando a 4% se anualizada em relação aos 3 meses anteriores. A subida dos preços ao consumidor fez com que a expectativa de inflação dos analistas americanos também piorasse para o próximo ano.

Na Europa, em janeiro de 2024, os preços ao consumidor subiram, mesmo fenômeno ocorrido na Austrália, o que fez com que o presidente do Banco Central alertasse de que ainda levará um certo tempo para que a inflação seja mais “sustentável, baixa e estável”.

Diante disso, o que os bancos centrais devem fazer: serem mais prudentes e continuarem com taxas de juros elevadas, ou reduzi-las para perseguir o crescimento econômico?

Antes de responder a essa pergunta, porém, vamos lembrar a origem do processo inflacionário que ainda condiciona a política monetária dos países.

Como consequência da pandemia, três fatores exerceram impacto importante sobre os preços: a alta na cotação das commodities, em 2021/2022, a política fiscal expansionista adotada por quase todos os países como reação a pandemia e, por fim, a desarrumação das cadeias produtivas globais. Vejamos, então, como ocorreu a emergência desses fatores e como, por consequência, ocorreu um forte aperto inflacionário.

Em primeiro lugar, a rápida retomada da demanda de commodities, já desde o último trimestre de 2020, teve por efeito uma expressiva alta de preços no comércio internacional. De fato, a recuperação em “V” da economia mundial gerou uma crescente pressão sobre as matérias-primas ditas estratégicas – como petróleo, gás, minério de ferro e trigo -, impactando várias cadeias produtivas. 

Em segundo lugar, a adoção de políticas fiscais fortemente expansionistas, ao elevar o consumo das famílias, potencializou esse efeito. O aumento de gastos dos governos, como reação à recessão que se instalou, turbinou a demanda de consumidores e empresas, reforçando a pressão altista. Por último, a desarticulação das cadeias globais de suprimentos, resultado da paralisação compulsória imposta pela pandemia, reduzindo a oferta de produtos a nível global, atingiu fortemente o custo das empresas, elevando os preços. Semicondutores, material eletroeletrônico, produtos químicos, fertilizantes e outros bens intermediários tiveram seu processo produtivo interrompido, o que afetou diversos segmentos industriais. 

Agravando esses efeitos, a guerra na Ucrânia, no início de 2022, ao acentuar as limitações à oferta daquelas commodities estratégicas, exerceu pressões adicionais sobre os preços. O resultado disso tudo foi uma piora no processo inflacionário e a consequente adoção de políticas monetárias fortemente restritivas.

Com o uso de remédio amargo, os efeitos esperados não tardaram a aparecer. De um lado, a alta de preços foi contida. Em 2023, a inflação recuou de forma significativa, tanto nas economias avançadas como nas emergentes. No entanto, do outro lado, se reduziram as perspectivas de crescimento econômico, principalmente nos países europeus. No caso brasileiro, como a alta da taxa de juros foi muito pronunciada – a taxa Selic chegou a 13,75% – a inflação passou a cair de forma consistente. Desde o segundo semestre de 2022, a taxa tem convergido em direção à meta abrindo espaço para a reversão do ciclo de alta dos juros.

Aliás, o Banco Central brasileiro está nos mostrando que sua política monetária será de corte de juros por conta de estar trabalhando com um cenário de desinflação para os próximos anos. O próprio diretor do Banco Central ressaltou na palestra que alguns países cortaram suas taxas de juros e outros estão próximos a cortes por conta dessa visão de que a desinflação veio para ficar. No entanto, o que ainda preocupa segundo ele é a inflação de serviços, que no Brasil está entre 5,5% e 6% anualizada. 

Mas para decidir a melhor política monetária e de combate à inflação também deve-se monitorar muito de perto o mercado de trabalho e o de crédito. No que tange ao crédito, houve normalização, depois de problemas (Lojas Americanas) com o varejo, no início de 2023. Sobre o emprego, a taxa média de desocupação caiu 7,8% segundo a PNAD – Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios – em 2023. É a taxa mais baixa desde 2014. 

Outro ponto relevante para a decisão de política monetária, além do crédito e do emprego, é a previsão do nível de atividade econômica. Com a expectativa de crescimento do PIB, em 2024, de apenas 1,6% (Focus), haveria espaço para baixa dos juros.

Aliás, foi reiterado pelo diretor do BACEN que o compromisso da autoridade monetária é o de levar a inflação para o centro da meta de 3%, notando que as expectativas continuam desancoradas, em torno de 0,5 ponto percentual acima do alvo (Focus). Uma expectativa que, no entanto, mantém a economia em um rumo de desinflação. 

Por fim, um alerta: a inflação de serviços pode ser um obstáculo à queda dos juros. Aqui e nos EUA. Com a taxa anual rondando 6%, no Brasil, e 4%, nos EUA, as chances de uma política monetária mais moderada diminuem. Com isso, as apostas de se iniciar, em maio, um ciclo de queda por lá e de se aprofundar as quedas por aqui tendem a se reduzir. Muita cautela parece ser o que inspira a estratégia dos bancos centrais. O problema é o efeito deletério sobre o crescimento do PIB.

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Crédito de Carbono da ABCarb e Sócio da Grant Thornton.

Mauro Rochlin é Doutor em Economia (UFRJ) e coordenador acadêmico na Fundação Getúlio Vargas

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade dos autores e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

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