Projeções do Fed mostrarão se “pouso” é novo cenário básico ou se não tem fundamento
Confiantes de que o Federal Reserve deixará a taxa de juros inalterada nesta quarta-feira, investidores estão muito mais concentrados na divulgação de novas previsões que revelarão o quanto as autoridades do banco central dos Estados Unidos acreditam na perspectiva de um “pouso suave” e qual cenário de juros prevalecerá.
No curto prazo, a expectativa é de que as autoridades do Fed ainda projetem mais um aumento dos juros antes do final de 2023, provavelmente na reunião de 31 de outubro e 1º de novembro.
Mas, para além disso, a divulgação do Resumo das Projeções Econômicas atualizado forçará os membros do Fed a mostrar se acreditam que a recente série de bons dados pode continuar – com a desaceleração da inflação ao lado de um crescimento econômico e de empregos mais forte do que o previsto – ou se será necessária uma política monetária ainda mais restritiva para encerrar a luta contra o aumento dos preços, apesar dos riscos que isso traz de uma parada brusca para a expansão econômica pós-pandemia.
As projeções “devem passar por revisões significativas … incluindo melhoras para o crescimento e o mercado de trabalho e uma revisão para baixo da inflação, pelo menos em 2023”, escreveu Matthew Luzzetti, economista-chefe do Deutsche Bank.
Caso ocorra, o próximo aumento da taxa poderá ser, de fato, o último de um ciclo de aperto iniciado em março de 2022, mas as projeções para o próximo ano e para os anos seguintes indicarão a duração esperada do período de taxas de juros elevadas, a rapidez com que a inflação retornará à meta e o grau de desaceleração da economia e de aumento do desemprego ao longo do caminho.
As novas projeções e o comunicado de política monetária do Fed serão divulgadas às 15h (horário de Brasília). O chair do Fed, Jerome Powell, dará entrevista à imprensa meia hora depois.
No último conjunto de projeções trimestrais, publicado em junho, a mediana para o fim de ano era de crescimento econômico de 1,0%, inflação subjacente de 3,9% e taxa básica de juros na faixa de 5,50% a 5,75%, apenas 0,25 ponto percentual acima da faixa aprovada na última reunião, de julho.
Copom define taxa Selic nesta quarta-feira
O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central brasileiro, e o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), do Federal Reserve (Fed), iniciam nesta terça-feira (19) suas reuniões de política monetária, com o mercado esperando amplamente uma redução da taxa Selic.
No Brasil, os juros básicos devem sair dos atuais 13,25% ao ano para 12,75%, com uma nova redução de 0,5 ponto percentual dando sequência ao ciclo de cortes iniciado em agosto. Segundo dados da B3 sobre contratos de opção de Copom, essa é a expectativa de 96,8% do mercado.
Segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira (18), especialistas reduziram suas projeções para a alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) neste ano de 4,93% para 4,86%.
Apesar da redução, a projeção para este ano ainda está acima do teto da meta do BC de 3,25%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual (ou seja, 4,75%). Já para 2024, a expectativa foi reduzida de 3,86% para 3,89%, abaixo do teto da meta do BC. O centro é de 3%, com margem de tolerância de 4,5%.
Nesse cenário, as expectativas para que a Selic siga recuando ganham forças.
“Há um consenso que será unânime a decisão pela queda em 0,50 (ponto percentual). Não vejo um motivo para acontecer uma decisão diferente disso. Os fatores que colaboram para que tal decisão seja tomada são os dados de inflação apresentados nas últimas medições”ANA PAULA CARVALHO, PLANEJADORA FINANCEIRA E SÓCIA DA AVG CAPITAL
Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT CAPITAL, concorda que “ainda há indícios técnicos para haver esta redução”, já que “os dados da inflação subiram menos que o esperado”.
- Leia mais: O que é o Bacen?
Na China, PBoC mantém taxa de juros de referência para empréstimos de 1 ano em 3,45%
O Banco do Povo da China (PBoC, o banco central chinês) manteve a taxa de juros de referência para empréstimos (LPR, na sigla em inglês) de 1 ano em 3,45%, segundo comunicado divulgado no período da noite da terça-feira, 19, no horário de Brasília, pela instituição. Já a taxa para empréstimos de 5 anos foi mantida em 4,2%.
Em agosto, o PBoC havia cortado a taxa de 1 ano de 3,55% para 3,45%, mas mantido a taxa de 5 anos em 4,2%.
*Com Reuters e Estadão Conteúdo.
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