1 – Calote russo “muito provável” se crise com Ucrânia piorar, diz grupo ligado a sistema bancário mundial
É muito provável que a Rússia dê um calote em sua dívida externa e sua economia sofrerá uma contração de dois dígitos este ano depois que o Ocidente lançou sanções sem precedentes em escala e coordenação, disse um grupo de lobby do setor bancário global nesta segunda-feira (28).
O Instituto de Finanças Internacionais (IIF) estimou que metade das reservas estrangeiras do Banco Central da Rússia são mantidas em países que impuseram congelamentos de seus ativos, reduzindo severamente o poder de fogo do banco na formulação de políticas.
O Banco Central, que na segunda-feira elevou as taxas de juros e introduziu controles de capital, priorizaria a proteção de poupadores domésticos com investidores estrangeiros sendo colocados como “um dos últimos da lista”, disse o IIF.
“Se ficarmos aqui e isso (a crise) aumentar, o default e a reestruturação são prováveis”, disse Elina Ribakova, vice-economista-chefe do grupo de lobby, a repórteres durante uma teleconferência.
Segundo ela, o calote seria “extremamente provável”, embora o tamanho relativamente pequeno das participações estrangeiras – em torno de 60 bilhões de dólares – na dívida russa limitaria as consequências.
A inadimplência em títulos no mercado interno era muito menos provável, acrescentou.
O Banco Central da Rússia e o Ministério das Finanças russo não responderam imediatamente aos pedidos de comentários.
A Rússia invadiu a Ucrânia na semana passada, levando o Ocidente a impor uma série de sanções. Entre elas, o congelamento dos ativos do Banco Central russo, a remoção de muitos bancos russos do sistema global de pagamentos SWIFT e uma lista de indivíduos e entidades com ativos bloqueados no exterior. A Rússia chama sua ação militar na Ucrânia de “operação especial”.
As sanções fizeram com que o rublo despencasse para mínimas recordes na segunda-feira, e os investidores ocidentais estão lutando para se livrar de ativos russos à medida que o país se encontra cada vez mais isolado.
Ribakova, do IIF, disse que as medidas, que ainda podem vir a ser mais duras, são “as sanções econômicas mais severas já impostas a um país” e colocariam a economia russa em queda livre, com uma contração de dois dígitos neste ano e a inflação subindo para um percentual de dois dígitos também.
Ela disse que a conversão das participações cambiais domésticas russas em rublos também está na mesa, embora o banco central esteja relutante em implantá-la inicialmente, pois tenta poupar os poupadores domésticos prejudicados.
O banco central mantém ferramentas para tentar acalmar os mercados, incluindo aumentar ainda mais as taxas de juros, fornecer liquidez aos bancos domésticos e limitar os fluxos de capital. Também pode ser forçado a impor feriados bancários para impedir uma corrida aos bancos, disse o IIF em um relatório divulgado na segunda-feira e escrito antes das últimas sanções.
Ribakova disse que cerca de 10 bilhões de dólares foram retirados de bancos russos apenas na sexta-feira.
As sanções podem ficar mais duras, incluindo impedir que entidades americanas e europeias negociem dívidas governamentais russas existentes, expandindo a lista de instituições banidas do SWIFT e removendo exclusões comerciais relacionadas à energia.
Tais medidas ampliariam os riscos financeiros, comerciais e de contágio também para a economia global, e especialmente para a Europa, acrescentou Ribakova.
Em seu relatório anterior, o IIF disse que se os maiores credores da Rússia, Sberbank e VTB, forem expulsos do SWIFT, espera-se “uma desestabilização fundamental de todo o sistema financeiro, com profundas implicações para a economia real”.
2 – Bostic, do Fed, diz que guerra na Ucrânia aumentou incerteza para política monetária
O cenário econômico do Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, mudou “muito” com choques nos preços do petróleo e potencialmente nas cadeias de suprimentos que os formuladores de políticas terão que levar em conta, disse o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, nesta terça-feira (01).
“Energia está mudando muito. A capacidade de pessoas e mercadorias de se moverem pela Europa -parece que isso vai mudar muito. Isso tem implicações para as cadeias de suprimentos e uma série de coisas … Há muito que precisamos descobrir”, disse Bostic em um evento de webcast no Atlanta Fed.
3 – Bancos dos EUA se preparam para enfrentar ataques digitais após sanções à Rússia
Os bancos dos Estados Unidos estão se preparando para ataques digitais de retaliação depois que as nações do Ocidente aplicaram uma série de severas sanções à Rússia por atacar a Ucrânia, disseram especialistas e executivos do setor.
As tensões entre Rússia e o Ocidente aumentaram no sábado, depois que os Estados Unidos e seus aliados se mobilizaram para bloquear alguns bancos russos do sistema de pagamentos internacionais Swift e restringiram as reservas internacionais do banco central russo.
Os governos ocidentais alertam há semanas que as tensões podem desencadear ataques digitais disparado pela Rússia ou aliados do país. Alguns executivos disseram que as sanções mais recentes podem ser o gatilho para esse tipo de represália.
“Haverá algumas medidas de retaliação tomadas por eles, e acho que da maneira menos custosa – isso significa algum tipo de ataque digital”, disse Steven Schweitzer, gerente sênior de portfólio de renda fixa do Swarthmore Group em Nova York.
Os bancos globais, que já são os principais alvos de ataques eletrônicos em tempos de paz, estão aumentando o monitoramento de suas redes, analisando cenários de invasão, procurando ameaças e reunindo funcionários extras no caso de aumento de atividades hostis, de acordo com especialistas em segurança digital.
Entre as ameaças estão ataques com ransomware e malware; ataques de negação de serviço que derrubam sites; e roubo e limpeza de dados, possivelmente de forma simultânea.
“Os bancos estão incrivelmente preparados. Eles têm estudado a cartilha dos hackers com muito afinco”, disse Valerie Abend, que lidera o grupo de segurança de serviços financeiros globais da Accenture.
Os maiores bancos dos EUA – JPMorgan Chase, Citigroup, Bank of America, Wells Fargo, Morgan Stanley e Goldman Sachs – não se manifestaram sobre o assunto.
A indústria se planejou para ataques com frequência e completou uma simulação maciça envolvendo ransomware em todo o sistema financeiro norte-americano em novembro, de acordo com a Associação da Indústria de Valores Mobiliários e do Mercado Financeiro, que liderou o exercício.
O Departamento de Serviços Financeiros de Nova York e a Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestrutura dos EUA alertaram as empresas privadas para ficarem atentas às ameaças sobre seus sistemas.
“Não estaríamos fazendo nossa devida diligência se não estivéssemos nos preparando para isso”, disse Teresa Walsh, chefe global de inteligência do Centro de Compartilhamento e Análise de Informações de Serviços Financeiros (FS-ISAC), um grupo internacional de instituições que compartilham inteligência sobre riscos digitais.
“No momento, eles estão alertando sobre generalidades. Estamos tentando colocar um pouco mais de especificidade nesse trabalho”, acrescentou Walsh.
Ela disse que os bancos estão analisando cenários de risco com base em táticas que hackers russos usaram no passado. A violação de segurança do sistema de software da SolarWinds em 2020, que deu aos hackers acesso a centenas de empresas que usam seus produtos, é uma das principais preocupações.
Isso aumentou o foco de preocupação dos bancos sobre provedores terceirizados, como grandes empresas de computação em nuvem e software como serviço. Embora os próprios bancos tenham grandes orçamentos de TI e programas de compliance rigorosos, se esses provedores forem invadidos, os dados poderão ser expostos.
Os bancos estão pedindo a esses parceiros que garantam que tenham os protocolos de segurança corretos, de acordo com Walsh e Abend.
As instituições financeiras também estão “caçando ameaças”, procurando por comportamentos conhecidos dentro dos sistemas de TI dos bancos, examinando vulnerabilidades em potencial e testando qualquer coisa que tenham que corrigir, disse Walsh.
“Trata-se de estar preparado e não esperar para agir quando a crise acontecer”, acrescentou Walsh.
4 – AIE liberará 60 milhões de barris de petróleo para garantir oferta
Os 31 Estados-membros do Conselho da Agência Internacional de Energia (AIE) concordaram com a liberação de 60 milhões de barris de petróleo de suas reservas emergenciais ao mercado, de forma a “enviar uma mensagem unificada e forte aos mercados globais de que não haverá déficit de suprimento como resultado da invasão da Ucrânia pela Rússia”, informou nesta terça-feira a entidade em comunicado.
De acordo com a AIE, a liberação dos barris corresponde a cerca de 4% de toda a reserva dos países que compõem o grupo – de 1,5 bilhão de barris – e deve ser lançado ao mercado a um ritmo de cerca de 2 milhões de barris por dia (bpd) por 30 dias.
A decisão desta terça foi tomada após reunião presidida pela secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm.
O documento ressalta que a agressão russa ao território ucraniano ocorre em um momento em que o mercado de petróleo já se encontra apertado e altamente volátil, com estoques comerciais em seus menores níveis desde 2014 e uma capacidade limitada de produtores de aumentarem a oferta.
“A situação nos mercados de energia é muito grave e exige toda a nossa atenção. A segurança energética global está ameaçada, colocando a economia mundial em risco durante um estágio frágil da recuperação”, afirmou o diretor executivo da AIE, Fatih Birol.
A AIE ainda destacou que a Europa precisa reduzir sua dependência do suprimento energético russo e buscar outros fornecedores, e por isso a Agência vai divulgar na próxima quinta-feira um plano com 10 pontos que a Europa pode adotar para mitigar este problema até o inverno do ano que vem.
Segundo o comunicado, as autoridades presentes na reunião entenderam que a Rússia não pode usar seu fornecimento de energia “como meio de coerção política ou ameaça à segurança nacional e internacional”.
5 – Petrobras diz que manterá política de preços
O preço do petróleo passou por forte volatilidade na semana passada, com a invasão da Rússia à Ucrânia. Na quarta-feira (23) o preço do barril do óleo tipo Brent chegou a ultrapassar os US$ 105, mas depois acabou recuando. Na sexta-feira (25) fechou em US$ 94,12, diante das perspectivas de que as sanções de aliados ocidentais à Rússia fossem poupar o setor de energia do país. Mas tudo isso ainda é muito incerto.
Essa volatilidade deve afetar o preço dos combustíveis no País. Mas a Petrobras (PETR3, PETR4) diz que isso não deve abalar a determinação de manter seus preços atrelados aos do mercado internacional. O argumento é de que, se não acompanhar as cotações do petróleo e dos derivados, o mercado brasileiro de combustíveis e o abastecimento interno poderão ser afetados, como afirmou o diretor de Comercialização e Logística da estatal, Cláudio Mastella, em teleconferência com analistas para detalhar o lucro recorde de 2021.
A Petrobras utiliza o Preço de Paridade de Importação (PPI) para definir os reajustes dos valores da gasolina e óleo diesel em suas refinarias. Por essa política, os preços internos deveriam subir em linha com a valorização das cotações do petróleo e dos seus derivados nos principais mercados mundiais de negociação, como o do Golfo do México, nos EUA, e o de Londres.
Além da commodity, também pesam no cálculo da estatal o câmbio e custos de importação. Isso porque os principais concorrentes da empresa, atualmente, são os importadores e o objetivo da Petrobras é manter seus preços próximos aos deles.
Já há algum tempo, na verdade, a cotação vem subindo, por conta das tensões geopolíticas provocadas pela ameaça de invasão russa. Mesmo assim, os preços no Brasil permanecem inalterados desde o dia 12 de janeiro. A posição da empresa é complexa, já que a manutenção do PPI e os efeitos sobre os preços internos repercutem mal entre os consumidores e afetam diretamente a ambição do presidente da República, Jair Bolsonaro, de vencer as eleições deste ano.
“Temos observado a elevação dos preços nas últimas semanas e, em paralelo, o dólar foi desvalorizando. Com esses dois movimentos, em contraposição, a gente pôde manter nossos preços (inalterados)”, afirmou Mastella, acrescentando que, na quinta-feira, 24, em particular, a volatilidade foi maior e a empresa estava “observando” o mercado para avaliar possíveis reajustes.
A visão do executivo é de que, mesmo com as turbulências internacionais, a Petrobras é competitiva e se mantém alinhada ao mercado externo, ao mesmo tempo em que evita repassar aos consumidores as volatilidades conjunturais das cotações.
Um dos motivos para a estatal manter o PPI é o interesse em atrair investidores para as refinarias à venda. O receio é que, se atender à reivindicação de Bolsonaro de congelar os preços dos combustíveis para aliviar a inflação, vai afugentar empresas que teriam interesse no negócio, mas não querem participar de uma atividade comandada pelo governo.
* Com informações da Reuters e Estadão Conteúdo
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