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Economia

‘Drex chinês’: conheça o e-CNY, a moeda digital do país asiático

Chamado popularmente de yuan digital, o projeto teve início ainda em 2014.

A decisão do Banco Central brasileiro de batizar o real digital de “Drex” foi um dos principais assuntos desta semana. O anúncio foi feito na última segunda-feira (7) e, desde então, são muitas as dúvidas sobre a moeda digital, principalmente em relação ao PIX

Para entender melhor o funcionamento das CBDCs – sigla em inglês para as moedas digitais emitidas por bancos centrais -, basta olhar para o que acontece na China. Afinal, o país asiático foi pioneiro na criação da versão digital de moedas fiduciárias. Aliás, é esse lastro dos BCs e a emissão centralizada que diferenciam as CBDCs das criptomoedas.

notas de yuan
créditos: Pixabay

Chamado popularmente de yuan digital, o projeto chinês para desenvolver o e-CNY através da tecnologia blockchain teve início ainda em 2014. Desde então, a China tem a moeda digital soberana mais avançada do mundo. A partir de 2019, o país passou a testar a inovação em grandes cidades como Pequim, Xangai, Shenzhen, Chengdu e Suzhou.

Nessas metrópoles, os comércios chineses credenciados passaram a receber pagamentos em e-CNY. Durante essa fase piloto, os governos regionais distribuíam pequenos valores através de uma loteria. Para utilizar o dinheiro eletrônico, bastava ter um cartão magnético ou o celular, transferindo determinadas quantias ao encostar um dispositivo no outro.

Vale lembrar que na China o meio de pagamento eletrônico é amplamente usado há cerca de dez anos. Porém, essas transações digitais são concentradas entre as big techs, como Alibaba (Alipay) e Tencent (WeChat Pay). Daí, então, a intenção do Banco Central chinês (PBoC) de controlar essa influência do setor privado.

O grande teste

De lá para cá, o e-CNY já foi testado em 23 cidades. Mas foi apenas no ano passado que os resultados com o e-CNY ganharam maior proporção. Isso porque a China usou um grande evento global, as Olimpíadas de Inverno de Pequim, em fevereiro de 2022, para apresentar sua moeda digital soberana ao mundo e popularizar seu uso entre os cidadãos.

Estádio das Olimpíadas de Pequim (Foto: lionelccs por Pixabay)
Estádio das Olimpíadas de Pequim (Foto: lionelccs por Pixabay)

Um mês antes, o BC chinês lançou um aplicativo de carteira digital, de modo a facilitar as transações, até mesmo para turistas estrangeiros. Como o e-CNY é uma versão eletrônica da moeda física chinesa seu valor é equivalente ao de uma nota de renminbi (RMB) ou, mais popularmente, yuan (CNY).

Já em maio deste ano, trabalhadores do setor público na cidade de Changshu, na província de Jiangsu, a leste do país, passaram a receber seus salários integralmente em yuan digital. Trata-se de mais um esforço do governo chinês para popularizar o uso doméstico da moeda para o pagamento de bens de consumo e serviços, como comida e transportes.

Dados mais recentes do PBoC mostram que as transações em yuan digital cresceram 18 vezes em valor, em pouco mais de um ano. Ao final de junho, essas operações atingiram a cifra de 1,8 trilhão de yuans (ou cerca de US$ 250 bilhões). Trata-se de um salto de mais de 100 bilhões de yuans frente ao observado em agosto do ano passado. 

Ainda segundo o BC chinês, ao todo, foram realizadas cerca de 950 milhões de transações com dinheiro eletrônico e 120 milhões de carteiras digitais foram abertas. Apesar dos números expressivos, o e-CNY representa apenas 0,16% do dinheiro em circulação na China, atingindo 16,5 bilhões de yuans ao final de junho. 

Uma das razões para a falta de entusiasmo seria a familiaridade dos chineses com outras soluções de pagamento digital, tidos como “primo” do PIX.

No entanto, diferentemente de lá, o BC brasileiro já deixou claro que o Drex será utilizado para ser transacionado entre instituições financeiras. Ou seja, o consumidor não terá acesso direto à nova moeda digital nacional. Aqui, o foco será em serviços como empréstimos, seguros e investimentos.  

Funcionalidades dos CBDCs

Afinal, se a moeda digital deve ser pensada como uma “moeda de atacado”, mas, até agora, o e-CNY tem sido usado principalmente para pagamentos domésticos de varejo, para que servem os CBDCs? É preciso entender que as funcionalidades vão muito além do comércio e são fundamentais para integrar as operações cambiais – inclusive fora da China.

À medida que a China – e outros países – passam a oferecer uma opção de moeda digital, a hegemonia do dólar nas transações entre países, mercados, empresas e pessoas é colocada em xeque. Porém, a adoção de outros tokens emitidos por bancos centrais locais ainda está nos estágios iniciais, como é o caso do Brasil, Camboja e Nigéria.

O fato é que até a guerra na Ucrânia pouco se falava sobre isso. Porém, a partir do momento em que os Estados Unidos e aliados decidiram conter a ofensiva da Rússia através de sanções econômicas e financeiras, o mundo acendeu o sinal de alerta. Isso porque o dinheiro tornou-se uma arma de guerra sujeita à interferência de conflitos militares.

Daí então vários países começaram a buscar opções confiáveis e viram no sistema de pagamentos internacionais chinês, chamado CIPS, uma alternativa ao sistema de meio de pagamento internacional dominante no mundo e sob controle dos EUA, o chamado Swift. O CIPS faz a compensação financeira em yuan ou em e-CNY e tende a fomentar o comércio e os investimentos com a China, facilitando as exportações e transferência de capital. 

Porto em Xangai, China 19/10/2020. REUTERS/Aly Song/File Photo/File Photo

Além desse caráter geopolítico, a moeda digital incorpora alguns elementos da tecnologia blockchain. Ou seja, cada transação realizada é registrada e rastreável em um livro digital. Isso permite um acesso sem precedentes de informações sobre como e onde as pessoas estão gastando seu dinheiro.

Assim, a moeda digital soberana facilita o combate ao cibercrime ao centralizar os dados nas mãos do Estado. Ao mesmo tempo, também torna o sistema bancário mais eficiente, uma vez que reduz os custos das transações, que hoje são dominados por empresas que faturam alto com a intermediação financeira. 

Naturalmente, não será um caminho fácil tornar-se uma sociedade sem dinheiro, reduzindo a dependência do dólar. Porém, com a China saindo na frente nesse movimento, o papel de difusão das CBDCs passa a ter um peso maior no tabuleiro mundial. No caso do Brasil, o fato de o país asiático ser o maior parceiro comercial há 13 anos consecutivos joga a favor.

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