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Economia

Mercado prevê alta de Selic para 4,25% nesta quarta, mas dados geram dúvidas

Especialistas aguardam comunicado para saber se BC irá abandonar compromisso de ‘ajuste parcial’ dos juros.

Banco Central
BC em Brasília REUTERS/Adriano Machado

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central divulga nesta quarta-feira (15) a decisão sobre a taxa básica de juros da economia, a Selic. A expectativa do mercado é de que seja anunciado um novo aumento de 0,75 ponto percentual, de 3,5% ao ano para 4,25%.

Segundo economistas, a alta de 0,75 já havia sido sinalizada pelo Copom em seus últimos comunicados. No entanto, dados recentes sobre a inflação levantaram dúvidas se o BC não poderia agir com mais intensidade.

Na última quarta-feira (9), números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE) revelaram uma inflação acima do previsto no mês passado. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio ficou em 0,83%, maior resultado desde 1996 e acima da expectativa de 0,71%, considerando pesquisa feita pela agência Reuters. Em 12 meses, o indicador passou os 8%, ficando acima da projeção de 7,93% e do teto da meta de inflação do BC, de 5,25%. 

Além dos números mais recentes do IPCA, outros fatores também elevaram os temores sobre a inflação, como a economia crescendo mais que o esperado, o que deve aquecer o consumo e, consequentemente, os preços. Há ainda a pressão da alta das commodities e o aumento nos custos da energia por causa da crise hídrica.

Nesse cenário, o mercado elevou ainda mais a perspectiva de alta de juros neste ano. De acordo com a pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira (14) pelo BC, a expectativa para a Selic agora é de que ela termine 2021 a 6,25%, mais que os 5,75% da projeção anterior. 

Mas, para a reunião desta quarta, a projeção do mercado segue em 0,75 ponto percentual de aumento. As atenções, por outro lado, estarão voltadas ao tom que será adotado pelo BC no comunicado. 

“Como todas as mais recentes, é uma decisão de suma importância quanto à comunicação, onde se concentram as expectativas do mercado e dos analistas, em especial na retirada do tema ‘ajuste parcial’ de juros”, comentou Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, em relatório na terça (15). 

Na mesma linha, Gustavo Sung, economista da Suno Research, aponta que “nas últimas publicações, o BC tem utilizado a expressão ‘normalização parcial dos juros’, que basicamente é o aumento da taxa de juros com certo grau de estímulo econômico. Porém, com a melhora das perspectivas de crescimento e o mercado começando a enxergar uma inflação acima da meta em 2022, o ajuste parcial deveria ser revisto.”

Mesmo com o aumento da Selic previsto para esta reunião, o Brasil segue no cenário de juros negativos, isto é, com inflação mais alta que a taxa básica. Para o diretor de investimentos do Paraná Banco, André Malucelli, “a Selic deve ficar, no mínimo, no mesmo nível da inflação”. 

O mercado já precifica esse movimento. Portanto, qualquer coisa diferente seria prejudicial ao processo de ancoragem de expectativas. Além disso, haverá mais altas na Selic ao longo do ano, a qual deve encerrar 2021 próxima de 6%”, disse Malucelli em nota.

Mas e a retomada da economia?

Pessoas caminham em rua de comércio popular em São Paulo
Pessoas caminham em rua de comércio popular em São Paulo 15/12/2020 REUTERS/Amanda Perobelli

A Selic foi mantida em níveis historicamente baixos durante a pandemia, em um movimento adotado em diversos países para tentar estimular a economia durante a crise. No entanto, especialistas apontam que o momento agora é outro e, portanto, mais propício a juros em alta. 

“No cenário atual, é importante observar que a ameaça de ressurgimento do temível fantasma inflacionário reforça as preocupações do mercado financeiro, sobretudo pelo alto grau de indexação ainda existente em nossa economia”, analisa o economista César Bergo, coordenador no Mackenzie em Brasília e presidente do Conselho Regional de Economia da 11ª Região. “Assim, não é prudente aguardar que o Copom deixe de lado a sua recente política de aumentar a taxa Selic rumo à taxa neutra de juros”, diz Bergo. 

O economista aponta ainda que, “além de necessário, esse realinhamento das expectativas inflacionárias se mostra fundamental para eliminar ruídos e mostrar firmeza na atuação da autoridade monetária”. 

Diante das perspectivas, Sung, da Suno Research, comenta que “a pergunta chave é: como o BC irá controlar a inflação sem comprometer a retomada da economia?”. Para ele, a resposta deve ficar mais clara a partir das indicações para as próximas reuniões. “Na reunião de agosto teremos um novo aumento de 0,5 p.p. ou 0,75 p.p? A reunião desta semana vai nos dar pistas sobre o comportamento do BC para os próximos meses.”

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