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Economia

Governo propõe tirar operações com precatórios da meta fiscal de 2023

Proposta foi incluída no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023, enviado há duas semanas com a previsão de rombo de até R$ 65,9 bilhões nas contas do governo federal.

Governo propõe tirar operações com precatórios da meta fiscal de 2023
Solenidade de abertura do Ano Legislativo do Congresso Nacional. Presenca do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha

O governo propôs ao Congresso retirar da meta fiscal do ano que vem o impacto negativo das operações de “encontro de contas” com o pagamento dos precatórios (dívidas definidas na Justiça). A proposta foi incluída no projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2023, enviado há duas semanas com a previsão de rombo de até R$ 65,9 bilhões nas contas do governo federal.

Sem o abatimento, a meta de déficit teria de ser maior para acomodar o impacto dessas operações, já que não se sabe de antemão qual será o seu alcance. A meta é uma estimativa feita pelo governo para a diferença entre a sua expectativa de receitas e de gastos. Ao estabelecer um valor, o governo assume um compromisso público de equilibrar as contas e manter a dívida pública sob controle.

O “encontro de contas” permite ao governo aceitar precatórios como moeda de pagamento em venda de imóveis, outorga dos leilões de concessões, aquisição de ações de estatais privatizadas e compra de direitos sobre a parte da União no excedente de petróleo do pré-sal (cessão onerosa).

O governo quer estimular esse encontro de contas para evitar a formação de uma “bola de neve” de despesas de precatórios, considerando que o Congresso aprovou, no final de 2021, emenda constitucional que autoriza a postergação todos os anos de uma parte do pagamento dos precatórios.

Com o encontro de contas, o Ministério da Economia pretende diminuir o volume de precatórios que terão o pagamento adiado, um dos principais riscos fiscais na conta do próprio governo.

Essas operações ainda não foram regulamentadas pelo governo. A publicação de um decreto está sendo esperada pelo mercado para dar início às negociações. Para 2022, a LDO não permite o abatimento da meta fiscal, de déficit de até R$ 170, 4 bilhões.

“Não há impacto na dívida bruta”, disse ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle. Como há uma troca de ativos entre o devedor (União) e os credores, não há fluxo financeiro envolvido em nenhum dos casos. Segundo ele, o objetivo é dar maior grau de transparência, e o primário será divulgado conforme a metodologia internacional. “A meta deixará mais claro o efeito do encontro de contas”, afirmou.

Problema contábil

O efeito negativo acontece porque na contabilidade pública há receitas que são financeiras que não entram no resultado fiscal. É o caso da venda de ações de empresas estatais, privatizações e o pagamento de dívidas por Estados e municípios. Por outro lado, o gasto que o governo faz pagando os precatórios é sempre contabilizado como uma despesa primária.

O secretário explicou que o abatimento é necessário porque não há muita previsibilidade para os anos futuros do tamanho da demanda dessas operações. “São tantos cenários de modalidades que preferimos tirar da meta”, disse.

Em 2023, será o décimo ano consecutivo em que as contas serão fechadas no vermelho. O atingimento da meta fiscal é uma obrigação legal, e o seu descumprimento é passível de responsabilização do presidente da República.

Na avaliação do consultor de orçamentos do Senado Vinicius Amaral, especialista em direito financeiro e contas públicas, dada a natureza do encontro de contas faz sentido conferir um tratamento particular às operações. “No entanto, entendo que seria conveniente fixar algum limite – ainda que elástico – para o impacto primário dessas operações, para aprimorar a transparência e reduzir riscos fiscais”, disse.

Investidores querem usar títulos para pagar Eletrobras

O Ministério da Economia já vem recebendo consultas do mercado sobre o uso de precatórios como moeda de troca por outros ativos. Um dos interesses é por ações da Eletrobras, mas o mercado aguarda desde o início do ano a publicação da norma para garantir segurança jurídica às operações.

A regulamentação da norma vem sendo trabalhada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional e pelo Tesouro Nacional. Quando pronta, deve ser publicada via decreto. Segundo fontes da pasta, há ainda questões operacionais discutidas com a Advocacia-Geral da União e com o Conselho Nacional de Justiça que podem, no limite, empurrar a publicação da norma para 2023.

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