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Economia

Inflação dos mais pobres penaliza ações de varejo; entenda

Enquanto empresas voltadas a rendas mais baixas estão entre as mais penalizadas, outras caem bem menos na bolsa.

Placas sinalizam preços da mercadoria em mercado do Rio de Janeiro
Placas sinalizam preços da mercadoria em mercado do Rio de Janeiro 02/09/2021 REUTERS/Ricardo Moraes

A inflação corrói mais o poder de compra dos mais pobres do que dos mais ricos. Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), nos 12 meses, a inflação dos mais pobres (que ganham menos de R$ 1.726) chegou a 12,7%. Mais alta do que o IPCA, medido pelo IBGE, que foi de 12,13%. E bem mais alta do que o aumento do custo de vida para os mais ricos (renda acima de R$ 17,2 mil), de 10,8%.

Essa inflação diferenciada, que aumenta a desigualdade no país, tem se refletido não só no cotidiano, como na bolsa brasileira, a B3. Enquanto empresas voltadas para consumidores de menor poder aquisitivo ou de consumo amplo estão entre as mais penalizadas, empresas voltadas para os consumidores de maior poder aquisitivo não necessariamente chegam a escapar da queda, na maioria dos casos, mas caem bem menos.

Ações de varejo acumulam fortes perdas

No primeiro caso, estão, por exemplo, as ações do Magazine Luiza (MGLU3), que escorregam praticamente 50% no ano e 83% no acumulado de 12 meses. “Queridinha” dos investidores ao longo de anos, voltada para um público amplo, com forte apelo na venda de eletrônicos, é uma das mais afetadas pelo atual ciclo de juros e inflação em alta, que impactam fortemente os consumidores.

Vão no mesmo caminho a Via (VIIA3) (-39,1%), dona das Casas Bahia e da rede Ponto, e a Alpargatas, fabricante das popularíssimas sandálias Havaianas (-40,8%). Outra marca popular bastante afetada é a Natura (NTCO3), com um recuo de 34% em 2022 e de 70% nos últimos 12 meses.

Enquanto isso, na outra ponta, as ações do grupo Soma (SOMA3), com marcas como Farm, Animale e Hering, caem 6% em 2022. Os papéis da Vivara, do mercado de jóias, estão ainda mais perto de zerar a queda nos 12 meses, com um recuo de 3,3%.

A CVC (CVCB3), das agências de viagens, ainda cai forte nos 12 meses, 61%. Mas no ano a perda de 20% mostra que quem tem dinheiro está viajando mais. O grupo Petz (PETZ3), voltado para o cuidado com os animais de estimação, fica no meio do caminho, com queda de 24% no ano.

O diferencial em cada papel tem sido a capacidade da empresa de repassar aos consumidores o custo da alta dos produtos, o que é mais fácil para aquelas voltadas ao público de maior renda.

É o caso da Vivara (VIVA3), que registrou, no primeiro trimestre, lucro quase 12 vezes maior do que o registrado entre janeiro e março de 2021. Já o Magazine Luiza reverteu o lucro de R$ 258 milhões no mesmo período para um prejuízo de R$ 161 milhões este ano.

Esses dois resultados sinalizam que não só as empresas que atendem a um público mais amplo sentem o aumento de custos como não conseguem repassar aos consumidores, afetados pela queda na demanda e na renda e pela alta da inflação e dos juros.

Shoppings também sentem peso da inflação

Mas a desigualdade entre os consumidores não se reflete apenas no varejo. Dependendo a que público se destina, também ocorre grande variação no setor de shoppings.

Enquanto o grupo Multiplan (MULT3), dono de shoppings voltados para público de alto poder aquisitivo, como o Barra Shopping, acumula valorização de 37% em 2022, e o Iguatemi, com o mesmo perfil, tem alta de quase 13%, o Aliansce Sonae (ALSO3), que possui centros de compras em bairros menos valorizados e voltados para um público de menor renda, é o único das grandes redes na bolsa que ainda cai no ano (9,8%). O brMalls (BRML3), com um portfólio no meio do caminho (+3,7%), tem alta moderada.

Agora, e para o futuro? O grande determinante deve ser a inflação. A projeção mais recente do Boletim Focus já coloca o IPCA em quase 9% no final do ano. A expectativa do governo e de muitos economistas do mercado é de um recuo no segundo semestre.

Se acontecer, é bem possível que se veja o movimento contrário, com o varejo, shoppings e indústrias voltados para a população de baixa e de média renda se recuperando mais forte do que aqueles papéis que vêm mostrando força agora.

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