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Economia

Mesmo após câmbio voltar a R$ 5, sinais positivos para exportações sustentam previsões de dólar fraco

Preocupações sobre cenário fiscal e juros nos EUA têm puxado a moeda para cima nos últimos dias, mas especialistas mantêm previsões de baixa.

Temores sobre as contas públicas no Brasil e alguma quebra de expectativa sobre quando os juros nos Estados Unidos devem começar a cair levaram o dólar de volta para a casa dos R$ 5. No entanto, a expectativa de especialistas é de que, apesar das preocupações no radar, os sinais positivos da balança comercial brasileira sustentam as previsões de um dólar mais fraco em 2024. 

Durante os negócios nesta terça-feira (23), o dólar chegou à máxima intradia de R$ 5,0020. O movimento, no entanto, perdeu força e a moeda fechou o dia em R$ 4,9551, em queda de 0,66%. De qualquer forma, foi a primeira vez que o câmbio voltou à casa dos R$ 5 desde 1º de novembro de 2023, quando chegou a R$ 5,04 na máxima da sessão.

A moeda caminha para fechar o primeiro mês do ano em alta, com um avanço acumulado de mais de 2% até agora, na esteira de um ajuste de expectativas no exterior, após dados de inflação e declarações de membros do Federal Reserve (Fed) emitirem sinais de que a queda dos juros nos EUA deve demorar um pouco mais que o previsto. 

Os operadores vinham apostando no início dos cortes em março desde o final do ano passado. Mas a previsão passou para maio. Nesse cenário, “o dólar está se valorizando em relação a todas as moedas com a perspectiva de que o corte de juros nos Estados Unidos fique mais para o meio do ano”, comenta Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. 

Notas de dólares e reais 10/09/2015 REUTERS/Ricardo Moraes

Mas especialistas apontam que o principal fator que vem direcionando o dólar nos últimos dias é interno: a questão fiscal – especialmente após o anúncio do plano de desenvolvimento do governo Lula para a indústria brasileira, que prevê R$ 300 bilhões em financiamentos até 2026. 

“A interpretação foi de liberação de dinheiro sem controle e sem meta fiscal”, diz Dierson Richetti, especialista em mercado de capitais e sócio da GT Capital. “Além, claro, do conflito aberto entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com a Câmara e o Senado referente a desoneração da folha. A Câmara e o Senado querem manter e o governo tenta rever para aumentar a arrecadação“, acrescenta. 

Mas as previsões estão mantidas

Apesar dos sinais fiscais ainda serem de alerta, diversos especialistas mantém a previsão de um dólar mais comportado em 2024. Isso porque a queda dos juros dos EUA, ainda que haja incertezas sobre quando acontecerá, já está contratada para o ano. Enquanto isso, as perspectivas de entrada de dólares no Brasil via exportações seguem positivas. 

“Na medida em que os juros comecem a cair nos EUA lá para o meio do ano, talvez maio, o dólar deve perder valor. Eu acho que o real deve voltar a se valorizar, para uns R$ 4,70 ou R$ 4,80, podendo até cair abaixo disso”, diz Gala. 

Navio com contêineres no porto de Santos, SP 23/09/2019 REUTERS/Amanda Perobelli

Ele menciona ainda que houve um superávit de quase US$ 100 bilhões no ano passado, com fluxo comercial gigante. “Neste ano a gente deve ter um superávit comercial de pelo menos US$ 80 bilhões, tem muito fluxo de dólar vindo para o Brasil”.

Citando os mesmos fatores, o economista André Perfeito mantém sua previsão para o dólar em R$ 4,30 ao término deste ano, “mesmo após o estresse no câmbio nesses últimos dias”. 

“Mantido esse fluxo de dólares para cá, isso é capaz de aguentar muito ‘desaforo’ de outras áreas da economia brasileira que não agradam o mercado, como uma eventual piora fiscal”

André Perfeito, economista

O diretor de investimentos da Nau Capital, Mauricio Valadares, também acredita que o dólar deve permanecer acima de R$ 5, dada a “dinâmica de dólar global” e os fatores internos.

O Brasil encerrou 2023 com um resultado recorde para a balança comercial, de US$ 98,838 bilhões, conforme dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), em saldo impulsionado por exportações recordes e por uma queda importante das importações.

Segundo a última divulgação do Boletim Focus do Banco Central, o mercado projeta um resultado para balança comercial em 2024 de US$ 75 bilhões, uma melhora na comparação com os US$ 70,5 bilhões da pesquisa anterior. Nesse cenário, os especialistas do mercado projetam dólar a R$ 4,92 ao final deste ano, uma queda em relação aos R$ 4,95 do levantamento de antes.

Incertezas ainda no radar

Mas as previsões favoráveis para o fluxo de dólares no Brasil não significam que os temores em relação ao cenário das contas públicas estão dissipados no mercado. “É claro que se a preocupação fiscal se intensificar, possivelmente a demanda pelo dólar deve aumentar, e seu preço permanecer acima de R$ 5 durante um bom tempo”, diz Leandro Ormond, analista da Aware Investments. 

Valadares também comenta que a previsão de dólar ainda abaixo de R$ 5 depende que “as questões fiscais sejam endereçadas”.

Entre as principais dúvidas do mercado está a capacidade do governo em cumprir as metas do arcabouço fiscal. Além disso, Ormond acrescenta que “nos próximos dias, as atenções se voltarão para as decisões de juros nos EUA e no Brasil, e nas indicações que as autoridades monetárias irão proporcionar em seus comunicados”.

Sede do Banco Central em Brasília (Foto: Divulgação/BC)
Sede do Banco Central em Brasília (Foto: Divulgação/BC)

O Copom (Comitê de Política Monetária) fará sua próxima reunião nos dias 30 e 31 de janeiro, com o mercado esperando mais um corte de 0,5 ponto percentual da taxa Selic e atento aos sinais que podem vir no comunicado.

E, mais uma vez, a situação das contas públicas volta aos holofotes, como lembra Ricardo Martins, economista da Planner, citando o programa de incentivo à indústria como um “risco parafiscal”, e lembrando que “o próprio BC enfatiza (esse assunto) nos seus vários pronunciamentos sobre desinflação”. 

Enquanto isso, no mesmo dia, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) deve anunciar uma manutenção dos juros nos EUA, com investidores também na expectativa sobre os sinais que podem vir na comunicação da decisão. 

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