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Economia

Mulheres são competitivas, mas cultura neutraliza autoconfiança, revela estudo

Pesquisa demonstra o papel da cultura no gap de gênero.

Mulher em reunião de trabalho com homens
Imagem ilustrativa/Crédito: Envato

Desde que éramos crianças, ouvimos que as mulheres são menos competitivas do que os homens, mas na verdade isso não passa de uma falácia.

Um estudo feito pelos economistas Uri Gneezy e John List revela o contrário, mulheres podem ser tão ou mais competitivas do que os homens, mas a cultura do local onde pertencem pode oprimir seu desenvolvimento, fazendo escolher segurança no lugar de ter objetivos ambiciosos.

Este texto faz parte da série do InvestNews “Desigualdade de Gênero no Trabalho e nos Investimentos”, que será publicada às sextas-feiras com diferentes abordagens. Confira a série completa:

Na maioria dos países do ocidente que já foram alvo de estudos a respeito, homens foram mais competitivos do que mulheres. E nesses estudos, mulheres mostraram menos apreço pela competição.

Um estudo coordenado pelo economista Uri Gneezy, por exemplo, mostrou isso colocando meninos e meninas para correr uns com os outros.

Isso pode levar à conclusão de que haveria uma explicação biológica. A evolução teria dotado as mulheres de menos sangue nos olhos nas disputas, por este motivo elas não se interessam muito pela competição dentro das carreiras como os homens, que evoluíram para competir – o que no fim explicaria o gap de gênero.

Porém, outro estudo de Gneezy, desta vez em parceria com o economista John List, desmente por inteiro essa ideia. Ser mais disposto a competir tem mais a ver com a cultura em que a confiança de homens e mulheres se desenvolve do que com a biologia.

Os dois pesquisadores comandaram uma ampla pesquisa de campo em duas comunidades.

Uma delas foi uma tribo na Tanzânia, os Massai, onde as mulheres não têm nenhum poder. O sistema é um patriarcado radical que as filhas sequer são levadas em conta como parte das famílias e são obrigadas na adolescência a se casar com homens na faixa dos 30 anos, a idade masculina para o matrimônio no local.

A outra foi uma comunidade nas montanhas Khasi, no nordeste da Índia, onde a organização social é matriarcal. Mulheres ocupam os postos-chave de poder e controlam a economia, enquanto os homens têm uma posição inferior e são tutelados por alguma delas.

Eles são vistos como cidadãos de segunda classe e têm negado uma série de direitos.

Nos dois locais, os dois pesquisadores montaram um teste simples: os participantes tinham de acertar uma bola de tênis dentro de um balde a certa distância e cada acerto pagava US$ 1,5 – o salário de um dia de trabalho na tribo.

Mas foi oferecida uma segunda opção: competir contra outro homem ou mulher. Nessa forma, a pessoa poderia ganhar três vezes mais, US$ 4,5, se acertasse a bola e a outra, não. Se desse empate, receberia os mesmos US$ 1,50, mas se perdesse, ficaria sem nada.

Diante da chance de ganhar bem mais ou ficar sem nada, metade dos homens não quis competir e preferiu ficar com o dólar e meio. Já três em cada dez mulheres fez o mesmo (26% delas quiseram se arriscar, contra 50% dos homens).

Ok, confirmada por enquanto a teoria de que mulher naturalmente compete menos. No entanto, para considerar resolvida a questão, o resultado deveria se repetir na Índia.

A comunidade das montanhas Khasi é, afinal, uma das poucas sociedades matriarcais no mundo. As mulheres controlam a economia e a vida social.

Um homem que viva lá não goza dos mesmos direitos e, quando se casam, sempre é ele que se muda para a casa da família dela. As avós são consideradas matriarcas e têm poder sobre todos.

Mesmo se ganham dinheiro ou são pequenos empresários, homens não podem viver sozinhos, precisam aceitar se casar ou continuar vivendo com uma mulher da família, a mãe ou uma irmã e são quem toma conta dos filhos.

No mesmo experimento, 54% das mulheres aceitaram competir por um prêmio melhor contra apenas 39% dos homens. Ainda que o percentual masculino que se arriscou tenha sido maior, as mulheres Khasi foram muito mais competitivas do que os homens na sociedade patriarcal e também do que os homens no ocidente.

O resultado demonstra de maneira veemente o papel da cultura no gap de gênero.

Mulheres são tão ou mais competitivas do que os homens, dependendo do contexto. Porém, mas quando são oprimidos, homens e mulheres tendem a buscar mais segurança e menos objetivos ambiciosos.

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