As medidas econômicas anunciadas pelo governo da China nos últimos dias deu novo fôlego ao mercado de ações local e também para a negociação de commodities mais ligadas ao consumo chinês.
Exemplo disso foram os contratos futuros do minério de ferro, que subiram mais de 11% nesta segunda-feira (30) na bolsa de Singapura e atingiram o maior patamar desde julho, depois que três das maiores cidades da China facilitaram a compra de imóveis residenciais, na esteira das medidas de estímulo do governo central. Xangai, Guangzhou e Shenzhen afrouxaram regras que restringiam a qualificação de compradores.
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Em outra frente, o banco central da China também anunciou no domingo (29) que permitiria o refinanciamento de empréstimos imobiliários.
Desde a semana passada, as autoridades chinesas vêm tomando medidas agressivas para impulsionar a economia, e no centro desses esforços estão as iniciativas para tirar o mercado imobiliário de uma crise de anos e restaurar a confiança do consumidor.
“As medidas de estímulo da China são muito mais fortes do que o previsto, e há expectativas de mais medidas fiscais”, disse Steven Yu, pesquisador da Mysteel.
‘Dia épico’
O frenesi visto no minério de ferro não é muito diferente no mercado de ações chinês. Shao Qifeng, chefe de investimentos da Ying An Asset Management, disse que nunca viu uma procura tão alta em seus 15 anos de carreira do que o que foi visto nas últimas cinco sessões.
As mensagens de clientes não paravam nos grupos do WeChat perguntando se este é o momento certo para comprar ações. “Acho que isso significa que estamos na segunda fase de um mercado de alta, quando as ações estão recebendo uma atenção ampla”, disse Shao. “Na superfície, estou mantendo a calma, mas no fundo estou pulando de alegria.”
A experiência de Shao foi compartilhada por muitos investidores de renda variável na China, onde o índice de referência registrou seu maior ganho desde 2008 nesta segunda-feira, e entrou em tecnicamente em um mercado de alta (“bull market”), quando o avanço desde a última mínima supera os 20% .
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O interesse foi tão intenso que levou ao colapso de aplicativos de corretoras, em meio a um surto de pedidos de abertura de contas, de acordo com a mídia local.
Embora o mercado de ações da China tenha dado vários saltos que não vingaram nos últimos anos, parece haver uma convicção crescente de que desta vez pode ser diferente, dado o tom de urgência que as autoridades demonstraram para atingir a ambiciosa meta de crescimento econômico de cerca de 5% este ano.
O medo de ficar de fora, ou “FOMO” na silga em inglês, é palpável. Um indicador da Bloomberg Intelligence de ações das incorporadoras imobiliárias chinesas subiu até 15,7%.
“Este é um dia épico na história do mercado chinês”, disse Hao Hong, economista-chefe do Grow Investment Group. “Foi um dos dias mais felizes” de seus 30 anos cobrindo o mercado chinês, acrescentou.
Xi pede cautela
O presidente Xi Jinping pediu cautela diante do que ele disse que pode ser uma fase difícil para a China, em seus primeiros comentários públicos desde que o governo anunciou um pacote de estímulo sem precedentes.
“Devemos estar cientes dos perigos potenciais e estar preparados para dias chuvosos”, disse Xi na segunda-feira em um discurso marcando o 75º aniversário da fundação da República Popular da China.
Xi não forneceu nenhum novo detalhe sobre as medidas econômicas em seu discurso na recepção do Dia Nacional realizada no Grande Salão do Povo em Pequim. O esforço inclui cortes nas taxas de juros e suporte aos mercados imobiliário e de ações. “O caminho à frente não pode ser suave”, disse Xi. “Haverá obstáculos e dificuldades, até mesmo grandes desafios como torrentes e tempestades.”
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A série de anúncios de políticas desde a última terça-feira teve um efeito imediato no mercado acionário, com as ações chinesas encerrando sua maior alta semanal desde 2008. Desde segunda-feira (23) da semana passada, o índice de ações de referência ganhou mais de 20% e entrou em um mercado técnico em alta.
Separadamente, Xi enfatizou a oposição a “atividades separatistas” que visam trazer a independência de Taiwan. O princípio de Uma Só China, que reconhece a reivindicação de Pequim à ilha autogovernada, deve ser mantido, disse ele.
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