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Economia

Para ex-diretor do BC, Copom já ‘parou’ de elevar Selic

Em entrevista exclusiva ao Investnews, Luiz Fernando Figueiredo menciona que inflação para baixo justifica manter juros no patamar atual.

Luiz Fernando Figueiredo (Crédito: Mauá Capital/Divulgação)
Luiz Fernando Figueiredo (Crédito: Mauá Capital/Divulgação)

Fundador das renomadas gestoras Mauá Investimentos e da Gávea Investimentos, Luiz Fernando Figueiredo, que atuou como diretor do Banco Central entre 1999 e 2003, afirmou ao InvestNews que o Comitê de Política Monetária (Copom) já “parou” de elevar a taxa básica de juros, a Selic.

Em entrevista exclusiva durante evento realizado pela Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancord) nesta semana, Figueiredo mencionou que os índices de inflação têm surpreendido para baixo, o que justifica o BC estacionar a Selic no patamar atual de 13,75% ao ano.

Luiz Fernando Figueiredo (Crédito: Mauá Capital/Divulgação)
Luiz Fernando Figueiredo (Crédito: Mauá Capital/Divulgação)

Questionado se as medidas tomadas pelo governo para diminuir os impostos sobre energia e combustível podem ter contribuído para uma queda em julho de 0,68% da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), Figueiredo mencionou que mesmo se os preços antigos voltarem a subir, nada deve mudar do ponto de vista de política monetária.

Além disso, para o ex-diretor do BC, os bancos centrais americano e europeu “estão muito atrasados” na elevação dos juros e o aumento de taxas nestes países não deve ocasionar em saída de investidores estrangeiros do Brasil. “O diferencial de juros entre o Brasil e esses países nunca esteve tão alto, está mais alto do que nos últimos 10, 15 anos”, disse.

Confira abaixo a entrevista completa:

IN$- Você acha que a Selic vai se firmar em 13,57% ao ano na próxima reunião do Copom, em setembro?

Luiz Fernando Figueiredo – Minha visão é que o Banco Central já parou [de elevar os juros]. Deixou uma frestinha aberta na próxima reunião para uma pequena alta residual, mas acho que ele já parou.

Os dados nos dizem que está certo ter parado. Os índices de inflação têm surpreendido para baixo, além disso a pressão que vem de fora, principalmente associada às commodities, deu uma bela aliviada recentemente.

Em média, as (commodities) agrícolas em reais estão com o preço do início de ano, houve uma melhora muito grande. Só o petróleo que está em torno de uns 15% a 18% em dólar mais alto do que no início do ano, mas é muito menos do que já foi. Na margem, as commodities todas devem contribuir para baixo reduzindo a pressão da inflação, não é por outra razão que a Petrobras (PETR3 PETR4) conseguiu reduzir duas vezes seus preços recentemente.

Então, já estávamos tendo surpresas para baixo de inflação, vemos vários sinais muitos claros de que a política monetária está fazendo seu efeito, e temos para frente as commodities ajudando a acalmar o nível de inflação.

Essas três coisas juntas me fazem pensar que, sem dúvida, o Banco central já parou, agora (a taxa) vai ficar um bom tempo (no mesmo patamar), até que realmente a inflação esteja muito mais perto da meta e o Banco Central possa começar a reduzir os juros.

IN$ – Em sua opinião, as medidas do governo para diminuir os preços, principalmente de energia e combustível, podem tornar a queda do IPCA momentânea?

Luiz Fernando Figueiredo – Vamos separar em duas coisas. A primeira são as commodities para baixo. Você nunca sabe qual vai ser o preço delas, mas o que parece é que uma parte boa das razões pelas quais já estavam muito altas, no mínimo se dissiparam um pouco.

O petróleo é um exemplo. Para dar uma ideia, do início de 2020 para cá, elas dobraram em reais, então não é que estão muito baixas, elas já tinham subido barbaramente, subiram mais por conta da guerra e estão se acomodando. E isso tem efeito na inflação, e é uma coisa que tende a ser mais permanente.

E você teve a redução de impostos, mais temporária (…) se realmente voltar (aos valores antigos), o que não se sabe, do ponto de vista de política monetária não muda nada. Para baixar agora ou subir depois é a mesma coisa para o Banco Central. O BC olha sempre de seis a nove meses pela frente.

IN$ – Você acredita que o novo aumento de juros pelo Fed (banco central norte-americano) pode, de alguma forma, levar a uma fuga de investidores do Brasil?

Luiz Fernando Figueiredo – Na verdade, o Fed e o Banco Central Europeu estão muito atrasados. Não subir os juros é o que afeta os países emergentes, porque estão muito atrasados no que precisam fazer.

Dito isso, já fizeram um certo catch up (recuperar o que foi perdido) e já estão mais perto do que é necessário (…) e isso gera uma certa tranquilidade.

Os mercados recentemente melhoraram por conta disso e há sinais de que as economias americana e europeia estão desacelerando bem, o que no final acaba ajudando os próprios bancos centrais.

O diferencial de juros entre o Brasil e esses países [carry trade] nunca esteve tão alto. Está mais alto do que os últimos 10, 15 anos. É o contrário, devemos ter ao longo dos próximos tempos, enquanto os juros estiverem muito altos, alguma entrada de capital por conta de um certo excesso de juros altos. As pessoas mais duras acham que vai para 4,5%, 5% [a taxa de juros dos Estados Unidos], mas aqui está perto de 14%.

IN$ – Como você acredita que será o cenário econômico no pós-eleição?

Luiz Fernando Figueiredo – Acho que o grande “calcanhar de Aquiles” será o arcabouço fiscal após a eleição. Sou daqueles que não acreditam que vai ser pirotecnesco, não vai ser nada maluco. Pelo contrário, algum arcabouço razoável vai dar lugar ao teto, porque os dois candidatos não querem o teto. Mas enquanto não tiver isso (uma definição), a gente fica com essa incerteza no ar, mas ela tende a se reduzir no tempo.

Minha visão para ano que vem é que será um ano melhor que os analistas estão imaginando. Nossa economia está melhor do que se imaginava, o investimento em relação ao PIB (Produto Interno Bruto) cresceu e tem crescido bastante, tem muita reforma micro, tem muito investimento em infraestrutura para acontecer, então a tendência é ter um ano melhor do que se espera hoje.  

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