O presidente-executivo da Petrobras (PETR3, PETR4), José Mauro Coelho, pediu demissão do cargo nesta segunda-feira (20), em meio à pressão crescente de políticos depois que a estatal anunciou um novo reajuste de preços de combustíveis na semana passada. Após a notícia, as ações preferenciais PETR4 chegaram a entrar em leilão.
Após de demissão de Coelho, o Conselho de Administração nomeou como presidente interino da companhia o Diretor Executivo de Exploração e Produção, Fernando Borges, até a eleição e posse de novo presidente.
“Petrobras informa que o senhor José Mauro Coelho pediu demissão do cargo de presidente da empresa na manhã de hoje. A nomeação de um presidente interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras a partir de agora”
Comunicado da Petrobras
O fato relevante divulgado pela empresa comunicou ainda que Coelho também renunciou da vaga de membro do conselho de administração.
Coelho foi nomeado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro no início de abril, mas demitido menos de dois meses depois, quando o governo decidiu escolher o alto funcionário do Ministério da Economia Caio Mario Paes de Andrade para o cargo de CEO da Petrobras.
Paes de Andrade, no entanto, só pode assumir depois de eleito para o conselho de administração da Petrobras, e Coelho estava se mantendo no cargo até então. A saída do cargo de Coelho abre caminho para que Paes de Andrade tenha sua posse acelerada.
Ação da Petrobras
A ação preferencial da Petrobras (PETR4) teve as negociações suspensas na bolsa brasileira na abertura do mercado nesta segunda. O papel voltou a ser negociado por volta de 10h50, mas segundo comunicado da B3, uma nova suspensão ocorreu entre 11h04 e 11h24. Na mínima do dia, a ação chegou a cair 5,12%, mas finalizou a sessão com avanço de 1,14%, para R$ 27,62. Já a ordinária PETR3 subiu 0,87%, cotada a R$ 30,19.
Na sexta-feira, a ação preferencial da Petrobras fechou em queda de 6,09% e a ordinária perdeu 7,25%. Os papéis chegaram a cair 10% na mínima do dia, com o mercado reagindo ao anúncio da empresa de elevar o valor do diesel e da gasolina nas refinarias. A perda em valor de mercado foi de R$ 27,3 bilhões, com preocupações de maior pressão política sobre a estatal.
Pressão política
Na sexta-feira (17), depois que a empresa anunciou que aumentaria os preços da gasolina e do diesel em suas refinarias, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pediu a renúncia de Coelho, dizendo que sua gestão foi “um ato de terrorismo corporativo” e acusando-o de trabalhar “sistematicamente contra o povo brasileiro”.
O presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta uma campanha de reeleição difícil no pleito de outubro em meio à inflação elevada impulsionada pelos preços da energia, disse que o aumento foi uma “traição ao povo brasileiro” e que ele e Lira conversaram sobre a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o conselho de administração da Petrobras.
O jornal “O Globo” informou que os membros do conselho também estavam pedindo a renúncia de Coelho, e que tal decisão poderia impedir o movimento de Lira para iniciar a investigação.
Análise do mercado
Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, aponta que a junção de fatores do cenário atual “é negativa para as ações da Petrobras porque o investidor vai ficar, como já estava, desconfiado que a paridade deve sair da política da empresa, seja neste governo ou seja num futuro governo, se o candidato Lula realmente ganhar (as eleições presidenciais)”.
“A Levante não recomenda as ações da Petrobras para os investidores, porque achamos que o risco político não compensa”, diz Conde.
Sidney Lima, analista da Top Gain, comenta que “o mercado foi pego de surpresa com o pedido de saída do José Mauro Coelho. Ele tem sofrido uma série de pressões por parte do governo. O Bolsonaro tem declarado uma guerra aberta ao presidente (da Petrobras), principalmente por questão dos combustíveis”.
O analista afirma, no entanto, que a saída de Coelho já estava precificada pelo mercado, já que o executivo havia sido demitido pelo presidente Jair Bolsonaro em maio e estava no cargo somente por questões burocráticas até sua substituição. O receio dos investidores, na verdade, é que o episódio abra portas para mais interferências na empresa.
“O mercado já estava muito assustado desde a última sexta-feira, com todo esse cenário de instabilidade, possibilidade de instauração de CPI. Mas a questão que o mercado fica de olho mesmo é na possibilidade de intervenção política nos resultados e eficiência do negócio da Petrobras“, explica Lima.
Idean Alves, socio e chefe da mesa de operações da Ação Investimentos, analisa que, “com a terceira mudança no cargo de CEO em menos de 2 anos, Roberto Castello Branco e Joaquim Silva e Luna, o sócio majoritário, o Estado, deu a atender que para presidir a empresa é preciso atender aos interesses do governo em relação a política de preços”.
“É essa tentativa de ingerência que o mercado está precificando negativamente, e colocando em dúvida por quanto tempo mais a governança da empresa vai conseguir manter a paridade internacional, o que pode implicar em repasse de custo direto para a Petrobras”, acrescenta Alves.
Segundo escrevam em nota, os analistas Felipe Ruppenthal e Rodrigo Diniz, da Eleven, acreditam que a renúncia do CEO da Petrobras “possa acelerar a troca de do conselho de administração que está em processo e que ruídos de interferência governamental na estatal continuem prejudicando a performance da ação, juntamente com um cenário de muita incerteza sobre o grau de arrefecimento das principais economias mundiais, que está ocasionando a queda do preço do petróleo.”
Quem é Fernando Borges
Nomeado como presidente interino da Petrobras, Fernando Assumpção Borges é engenheiro civil graduado pela Universidade Federal de Uberlândia, com 38 anos de experiência profissional na Petrobras, tendo ocupado diversas funções gerenciais na área de exploração e produção.
Borges também atuou como gerente executivo na companhia, tendo ocupado inicialmente a Gerência Executiva de Libra e tornou-se Gerente Executivo de Relacionamento Externo. De abril de 2016 a março de 2020 exerceu a função de Diretor no Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) e desde abril de 2016 exerce a função de Diretor da Associação Brasileira de Empresas de Exploração e Produção de Petróleo e Gás (ABEP), por indicação da Petrobras.
*Com informações da Reuters.
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