Após figurar entre as moedas que sofreram em 2021, o real voltou a ganhar força na primeira metade deste ano e foi a segunda moeda que mais se valorizou contra o dólar no primeiro semestre de 2022. Em um ranking com 62 moedas, a brasileira só perde para o rublo russo.
A valorização do real no primeiro semestre de 2022 foi de 5,98% – atrás apenas da disparada de mais de 45% do rublo russo, segundo levantamento feito com dados do Investing.
O economista Bruno Cesar Cotrim explica que a disparada da moeda da Rússia acompanhou a determinação do presidente do país, Vladmir Putin, de que todas as negociações comerciais com o país deveria ser na moeda local.
“O rublo teve essa grande valorização porque o Putin exigiu que qualquer tipo de negociação fosse feita em rublo. Então, os países que queriam negociar com a Rússia gás natural, petróleo, insumo agrícola e até a parte de grãos teriam que fazer essa conversão de moeda. Isso acabou gerando uma valorização da moeda, que estava muito desvalorizada por causa da guerra”, diz Cotrim, que também é economista e trader.
Já sobre a valorização da moeda brasileira, economistas apontam uma conjunção de fatores nos últimos meses, como antecipação da alta de juros, alta das commodities e fluxo estrangeiro. Veja abaixo:
Alta de juros
Juros baixos era uma realidade em diversos países pelo mundo durante a pior fase da pandemia – incluindo o Brasil. As taxas foram mantidas por meses em patamares historicamente baixos como tentativa de manter a economia aquecida em meio às restrições de funcionamento de diversas atividades.
Quando as preocupações com a inflação começaram a aumentar, o Brasil foi um dos primeiros a começar a subir a taxa básica de juros – já que isso restringe o consumo e tende, portanto, a controlar os preços. “Nós iniciamos a valorização do nosso dinheiro antes”, resume Cotrim.
A ideia é que, com juros mais altos, o país ofereça melhores retornos para os investimentos. Com isso, investidores estrangeiros passam a trocar seus dólares por reais para investir no mercado financeiro brasileiro. Com aumento da procura por real e mais oferta de dólar, a tendência é de baixa na taxa de câmbio.
Aumento das commodities
Apesar de terem pressionado a inflação, os preços elevados das commodities nos últimos meses beneficiaram a moeda do Brasil, já que o país é exportador de muitos desses produtos.
“O Brasil é um grande exportador de commodities, especialmente agrícolas, energéticas e metálicas. Então, a gente tem tanto os grãos – soja, trigo, milho -, quanto a parte de petróleo também. A parte de minério de ferro ajuda na balança comercial, é uma receita importante”, diz Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos.
Fluxo estrangeiro
Costa comenta ainda que, com a guerra na Ucrânia, houve uma “reorganização dos fluxos para países emergentes”, o que acabou atraindo recursos estrangeiros para o mercado financeiro brasileiro, beneficiando o real.
“A saída da Rússia em várias carteiras, seja de renda variável, seja de renda fixa, dos portfólios globais acabou abrindo espaço para o Brasil ocupar um percentual maior nessas carteiras”, explica.
Outro ponto citado por ele tem a ver com a bolsa de valores brasileira, que no começo do ano chegou a atrair um fluxo intenso de investidores estrangeiros, em busca de “empresas descontadas” – também elevando a demanda por reais. “Isso também ajudou na performance do real, quando teve um fluxo de renda variável bastante importante no começo do ano”, diz o economista.
O dólar vai continuar caindo?
Apesar de ter encerrado o semestre em baixa sobre o real, a queda do dólar vem perdendo força nos últimos meses. Segundo cálculos feitos pelo InvestNews com dados do Valor Pro, a queda do dólar em relação ao real foi de 6,13% no semestre, mas em abril a baixa acumulada no ano até então chegou a mais de 17%.
“Houve já alguma reversão de parte dessa valorização. Porque já teve um aumento de ruídos políticos, e também a questão do próprio fortalecimento do dólar em relação às demais moedas”, comenta Costa.
Um dos principais fatores que vêm pressionando o dólar é a alta de juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano. Com juros mais altos, o país se torna mais atrativo para investimentos, elevando a demanda por dólar e fazendo seu preço, portanto, subir.
Além disso, preocupações sobre a situação fiscal no Brasil também têm afetado o câmbio. O avanço da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do pacote de “bondades”, por exemplo, aumenta a desconfiança do mercado sobre a credibilidade do governo em relação ao manejo das contas públicas – o que deve pesar negativamente no mercado financeiro.
“Com o aumento do risco fiscal, a tendência de valorização da taxa de câmbio que começou no início de 2022 se reverteu”, disseram em nota analistas da Genial Investimentos.
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