1 – EWZ em queda após invasão terrorista
Depois que apoiadores radicais do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram no domingo (8), os prédios do Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional em Brasília, num eco da invasão do Capitólio norte-americano por apoiadores de Donald Trump em 6 de janeiro de 2021, o dia amanheceu com reação negativa de ativos brasileiros negociados no exterior.
O pré market da Bolsa de Nova Iorque foi marcado por queda do MSCI Brazil Capped ETF (EWZ) – principal fundo de índice atrelado à Bolsa brasileira. O ativo caía cerca de 2,40% na NYSE, a US$ 27,62.
Os ADRs da Petrobras (PETR3) registravam queda de 1,09% (para as ações ordinárias) e de cerca de 0,36%para os recibos de ações relativos aos ativos preferenciais PETR4.
Os ADRs da Vale (VALE3) também registravam queda de cerca de 0,60%.
Analistas já previam o cenário baixista para ativos brasileiros na véspera.
As imagens das invasões coordenadas na tarde de domingo sem ter, por horas, uma efetiva resposta das forças de segurança, deixou espectadores chocados, inclusive os do setor financeiro.
Ricardo Lacerda, fundador e presidente-executivo do banco de investimentos brasileiro BR Partners, disse esperar que os mercados reajam com volatilidade no curto prazo, especialmente na segunda-feira, devido ao maior risco institucional.
“O fim da polarização parece estar longe e pode esgotar as energias do novo governo”, disse Lacerda.
O real e o índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa, que superaram o desempenho de outros mercados emergentes na América Latina durante a maior parte de 2022, já haviam sido impactados pela turbulência nos primeiros dias depois da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva devido a preocupações com a alta dos gastos do governo.
Mas tanto real quanto o índice Bovespa registraram um desempenho melhor rumo à sexta-feira, depois que Lula prometeu que o país poderá crescer mantendo as finanças do governo sob controle.
Ainda assim, alguns analistas disseram que qualquer reação negativa do mercado pode durar pouco. “Dado que a situação parece estar sob controle em Brasília, espero que qualquer impacto na classe de ativos seja de curta duração”, disse Alejo Czerwonko, diretor de tecnologia para Mercados Emergentes das Américas do UBS Global Wealth Management.
Carlos Eduardo Furlanetti, professor da FIA Business School, prevê que uma forte reação das instituições, incluindo do Congresso Nacional e do STF, apoiando o presidente possa até ajudar politicamente o governo Lula no médio prazo.
Bruno Komura, analista da gestora de recursos Ouro Preto, espera uma reação inicial ruim nos mercados, com juros subindo e câmbio e bolsa em queda. Mas Komura prevê recuperação dos mercados até o final da semana, considerando uma forte reação institucional contra os invasores.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, aponta que os bolsonaristas foram ajudados pela fraca aplicação da lei no Distrito Federal, algo que não aconteceu no Capitólio e que aumenta a percepção de risco político no país. Mas isso pode ser revertido se as instituições mostrarem união contra os invasores de Brasília, ela acrescentou.
Enrico Cozzolino, sócio da gestora de ativos Levante Investimentos, disse que os atos mostram uma forte divisão na sociedade. “Temos visto a falta de consenso desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.”
Enquanto grandes setores do setor bancário nacional tendem a apoiar Bolsonaro devido às suas credenciais de livre mercado em relação ao Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula, a principal associação industrial do setor condenou veementemente a violência deste domingo. Isaac Sidney, chefe da entidade representativa dos bancos brasileiros Febraban, pediu uma “reação firme” contra as ações.
2 – Minas da Petrobras estão na mira de novos ataques
A Federação Única dos Petroleiros (FUP) mapeou a evolução das manifestações políticas nas unidades da Petrobras por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Pelas redes sociais, o grupo convocou novos atos contra o atual governo em refinarias da empresa, com foco na Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro, na segunda-feira, 9.
A manifestação acontece um dia depois de atos de depredação em Brasília, praticados por bolsonaristas, que não aceitam o resultado das eleições presidenciais. Em poucas horas, milhares de extremistas destruíram prédios públicos, feriram pessoas e animais, e roubaram armas. “Hoje não teve a presença de manifestantes na Reduc. Mas cabe destacar diversas mensagens circulando nas redes sociais convidando a presença de manifestantes na Reduc e em distribuidoras de combustíveis em Caxias. A polícia militar está no local”, informou a FUP.
O objetivo da convocação antidemocrática é bloquear o acesso de caminhões-tanque nas bases das empresas distribuidoras de combustíveis, sob o argumento de que sem combustível o Brasil vai parar.
Segundo a FUP, um batalhão de choque estaria a caminho da Reduc para evitar a aproximação dos bolsonaristas. Mais cedo, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, e o prefeito da cidade, Eduardo Paes, já haviam informado que a segurança do entorno da refinaria seria reforçada.
De acordo com relatório da FUP, no início da manhã do domingo (8) a Polícia Militar precisou negociar com manifestantes que acamparam próximo à Refinaria Henrique Lage (Revap), em São José dos Campos, em São Paulo. A FUP informou que eram aproximadamente 50 manifestantes em barracas. Segundo a federação dos petroleiros, a Polícia Militar continua no local e está monitorando o movimento.
Já na Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), em Canoas, no Rio Grande do Sul, cerca de 100 manifestantes estão concentrados na portaria da unidade. A Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Federal estão no local, segundo a FUP. Outra unidade sob ameaça de protesto é a Regap, em Betim, Minas Gerais, que teve convocação também para esta segunda-feira, 9, e já conta com algumas pessoas acampadas e a presença da polícia militar.
A FUP listou como medidas preventivas para evitar casos como ocorreu em Brasília o reforço no relacionamento com os órgãos de segurança pública e de inteligência; reforço e dobra das equipes de vigilância; monitoramento dos ambientes externos; e elevação do nível de segurança das unidades.
A Petrobras não detalhou as medidas que está tomando para se prevenir de possíveis ataques, e se limitou a declarar que mantém o procedimento padrão. “As refinarias estão operando normalmente. A Petrobras está tomando todas as medidas preventivas de proteção necessárias, conforme procedimento padrão”. informou em nota ao ser questionada.
3 -Gafisa tem autorização para aumento de capital
A Gafisa conseguiu, no domingo (8), reverter uma liminar para concluir a operação de aumento de capital que levantou R$ 78 milhões. O movimento permite a emissão de cerca de 13 milhões de novas ações.
A gestora Esh Capital é contra a operação uma vez que diz ser “ilegal” e que seguirá tentando anular o aumento de capital.
O desembargador Azuma Nishi, o mesmo que havia concedido liminar à Esh, entendeu que a deliberação sobre o aumento de capital não é tema da Justiça e que qualquer disputa acionária deverá ser feita por arbitragem.
“Em decorrência da decisão, os 1.486 subscritores que aderiram voluntariamente ao aumento de capital passam a dispor livremente, e a gozar dos direitos políticos e econômicos inerentes, das 13.256.263 ações creditadas em suas respectivas contas de investimento”, afirmou a Gafisa no fato relevante.
A Justiça de São Paulo havia decidido na quinta-feira pela imediata suspensão da emissão de ações da Gafisa. A operação de 78 milhões de reais havia sido anunciada em novembro e homologada no último dia 3, a 5,89 por ação.
A Gafisa afirmou que a eventual suspensão do aumento de capital “impactaria severamente o fluxo de caixa da companhia, que ficaria privada repentinamente de aproximadamente 78 milhões de reais, vez que a entrada dos recursos é necessária e prevista em seu fluxo financeiro”.
* Com Reuters
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