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Finanças

Ação da Oncoclínicas despenca após gestora indicar falhas na contabilidade

Em relatório, Polo Capital Management apontou que a rentabilidade da empresa é menor do que o reportado ao mercado.

A ação da Oncoclinicas (ONCO3) teve dia de baixa nesta quinta-feira (22), depois que um relatório da gestora Polo Capital Management apontou falhas na contabilidade da empresa, afirmando que a rentabilidade da empresa é menor que a informada.

Na mínima do dia, a ação da Oncoclínicas chegou a despencar mais de 18%, a R$ 8,33. O papel, no entanto, reduziu as perdas e fechou em baixa de 4,62%, a R$ 9,70. A empresa fez uma oferta primária e secundária de suas ações na B3 ao preço de R$ 10,25 cada. No entanto, os papeis seguiam negociados abaixo da oferta.

Segundo relatório de 23 páginas da Polo Capital Management, a rentabilidade da maior rede de tratamento de oncologia no país é menor do que o reportado ao mercado. Além disso, o montante de caixa que vem sendo utilizado, assim como diferença no Ebitda, valuation acima dos pares entre outros pontos foram destacados em relatório.

O InvestNews procurou a assessoria de imprensa da Oncoclícas, mas a empresa disse que não poderia se pronunciar por estar em período de silêncio. Uma pessoa próxima à companhia, no entanto, disse à reportagem que as informações são lançadas nos balanços da forma como exige a legislação (leia mais ao final da reportagem).

Médico segura estetoscópio 30/10/2020 REUTERS/Benoit Tessier

Em suma, a companhia vem adotando novas formas de contabilização dos seus custos desde o 2º trimestre de 2022 — período este que coincidiu com alterações relevantes na administração da companhia —, de acordo com a gestora.

“A abordagem que a Oncoclínicas vem adotando na condução de sua governança, por sua vez, nos parece distanciá-la das melhores práticas”

carta da Polo Capital Management

“Em particular, nos chama a atenção a forma pela qual a empresa tem lançado custos médicos no seu intangível (quando, entendemos, deveriam ser lançados no seu DRE). Somente no 1º trimestre de 2023 foram reconhecidos R$ 47 milhões de custos médicos no balanço”, aponta trecho da carta.

A Polo diz que o padrão utilizado na contabilidade da Oncoclínicas é diferente do adotado pelas demais empresas do setor, com base na amostra de companhias brasileiras e norte-americanas. Já outro fator de destaque divulgado como uma “situação alarmante” foi a necessidade de capital de giro da companhia, uma vez que em toda série histórica nunca se precisou de tanto caixa.

Os analistas compararam o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) do 1º trimestre de 2023 com o que seria o “Ebitda-caixa” da
companhia, deduzindo os custos médicos capitalizados (que aparecem na linha de amortização), ajustes recorrentes e o caixa absorvido pelas participações minoritárias, o que resultou em uma diferença de 30%. Com isso, o valuation da companhia estaria acima de seus pares.

“Dessa forma, nosso entendimento é que o patamar de margens, governança e alavancagem apresentados deveriam ocasionar um desconto versus o restante do setor”.

polo capital management

No primeiro trimestre de 2023 a Oncoclínicas reportou um Ebitda ajustado de R$ 292 milhões. E, segundo a gestora, deveriam ser reduzidos R$ 15 milhões de despesas capitalizadas desse montante.

Margem bruta foi ‘alarmante’

O que mais chamou a atenção dos analistas nos últimos 7 trimestres foi a forte apreciação da margem bruta da companhia. Foram comparadas as receitas de 2021 versus 2022, indicando assim uma capitalização das despesas.

A companhia apresentou, segundo o estudo, margens brutas acima de 35% nos últimos 4 trimestres, o que é superior a média de seus pares listados em bolsa, como Rede D’Or (RDOR3), Kora (KRSA3), Fleury (FLRY3), Dasa (DASA3) e Mater Dei (MATD3).

“Nesse contexto, a partir do 2º trimestre/2022, começamos a notar um crescimento importante de capitalização de despesas. Tal decisão por parte de uma companhia é bastante subjetiva e suas consequências imediatas são: balanço inflado com menores custos no DRE e, consequentemente, margens mais altas. Cabe dizer que a contabilidade permite capitalização de despesas por companhias”.

No caso da Oncoclínicas, foi observado que as despesas que estariam sendo capitalizadas referem-se a despesas médicas (COGS – Cost of Goods Sold) que, na visão da gestora, são “custos core” de um negócio médico-hospitalar. “Tais custos são a essência do negócio e capitalizá-los significa adotar uma prática contábil que favorece os resultados operacionais de curto-prazo reportados”.

Foi ressaltado ainda que os lançamentos contábeis como vêm sendo feitos levam a companhia a ter uma linha de “Outros Passivos” substancialmente maior do que os pares. No entanto, a adoção dessa prática prejudica a transparência na avaliação dos resultados operacionais e do endividamento da companhia.

Receitas da Oncoclínicas

O relatório explica ainda que, em 2021, 95% da receita da companhia resultava das operações das clínicas, enquanto apenas 5% advinha dos “cancer centers”, que são operações eminentemente hospitalares. Já em 2022, a receita fechou com a composição de 86% resultantes das operações das clínicas e 14% dos “cancer centers”.

No entanto, o destaque é que clínicas têm margens menores, assim como uma menor necessidade de capital, enquanto “cancer centers” têm margens maiores, mas demandam maior necessidade de capital.

Exame de saúde (Foto: Pixabay)
Exame de saúde (Foto: Pixabay)

E, segundo os analistas, à medida em que a companhia expandiu suas atividades relacionadas aos “cancer centers”, naturalmente sua margem bruta deveria subir. Mas a magnitude do aumento foi muito acima do que naturalmente deveria ser.

“Em nossa avaliação, as margens da companhia refletiram valores superestimados, especialmente nos últimos quatro resultados trimestrais”.

A gestora ressaltou ainda que os que os fundos que estão sob sua gestão estão vendidos em Oncoclínicas, e acabam sendo beneficiados com uma possível queda das ações em bolsa.

Outro lado

A Oncoclínicas aguarda o término do período de silêncio para se pronunciar. 

Mas uma pessoa próxima à empresa afirmou ao InvestNews que, sobre a remuneração dos médicos, um dos principais pontos destacados pelo relatório, “nunca houve qualquer mudança na maneira de colocar (essas despesas) na contabilidade, sempre foi dessa forma e é a maneira prevista por lei”. 

O que acontece, segundo essa pessoa, é que a Oncoclínicas contrata médicos em sistema de exclusividade, “e essa exclusividade é paga via bonificação”, com 20% abatido anualmente. “O aumento desse número se deve ao fato de aumento do número de médicos. Na época do IPO, eram 1 mil. Hoje, são 2,6 mil.”

A fonte diz ainda que, “se esse número tivesse onde o relatório diz que deveria estar, teria impacto de 0,7% no Ebitda, e não 30%”.

Este conteúdo é de cunho jornalístico e informativo e não deve ser considerado como oferta, recomendação ou orientação de compra ou venda de ativos.

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