Após disparar na última sessão, o principal índice da bolsa brasileira, o Ibovespa, voltou a despencar e ter os negócios interrompidos nesta segunda-feira (16). O indicador acompanhou a forte baixa das bolsas internacionais, que reagiram negativamente ao mega pacote de estímulos de bancos centrais pelo mundo, incluindo o corte de juros e compra de títulos pelo Federal Reserve.
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O Ibovespa fechou com desvalorização de 13,92% pontos, aos 71.168 pontos. Pela manhã, o circuit breaker foi acionado por 30 minutos após o índice ultrapassar o limite de queda de 10%. Quase todos os papéis estiveram em leilão quando o mecanismo entrou em ação.
Foi a quinta vez, desde a semana passada em seis pregões, que o alarme foi disparado na B3. Entenda o circuir breaker.
Entre as maiores quedas, ficaram as ações da companhia aérea Azul (AZUL4), em baixa de 36,87%, a agência de viagens CVC (CVCB3), com queda de mais de 32,25%, Smiles (SMLS3), em baixa de 28,20% e a aérea Gol (GOLL4), com desvalorização superior a 28,02%.
A ação da Petrobras (PETR4) desabou 15%, a R$ 39,04, agravada pela forte queda nos preços do petróleo. Os contratos fecharam com perdas entre 9% e 11%, pressionados pelo anúncio da Saudi Aramco, petrolífera saudita, de que ampliará a capacidade máxima de produção.
Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o contrato WTI para abril caiu 9,55%, a US$ 28,70 o barril. Já na Intercontinental Exchange (ICE), o petróleo Brent para maio recuou 11,23%, a US$ 30,05 o barril.
Nasdaq tem pior pregão da história
Em Wall Street, o circuit breaker também foi acionado, após o índice S&P 500 ter recuado mais de 7%. A declaração do presidente Donald Trump de que “o pior do novo surto pode durar até agosto” voltou a abalar os índices americanos no fim da tarde.
O Dow Jones fechou em queda de 12,94%, a maior queda desde 1987. Já o S&P 500 recuou 11,99%, enquanto o Nasdaq desvalorizou 12,32% no pior pregão de sua história.
As bolsas europeias tiveram baixas acentuadas em meio a restrições de circulação causadas pelo coronavírus. A Comissão Europeia recomendou que toda a União Europeia restrinja viagens não essenciais por 30 dias. O índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 4,86%, em 284,63 pontos.
A moeda americana fechou em novo recorde de fechamento nesta segunda-feira (16), em meio à piora no cenário provocado pelo novo coronavírus. A moeda até chegou a desacelerar no início do dia, após o anúncio de medidas emergenciais do Conselho Monetário Nacional, mas voltou a avançar no fim da tarde. O dólar comercial fechou a R$ 5,0467, em alta de 4,86%, nova máxima histórica.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou na manhã desta segunda-feira duas medidas para facilitar a renegociação de até R$ 3,4 trilhões em empréstimos por famílias e empresas e ainda ampliar a capacidade de crédito do sistema financeiro em até R$ 637 bilhões. Segundo o Banco Central, as medidas têm o objetivo de apoiar a economia brasileira durante o enfrentamento da pandemia do coronavírus.
Botão do pânico
Antes da abertura, o Ibovespa futuro caiu 10% e atingiu o limite de baixa em relação ao pós-mercado de sexta-feira. Na última sessão, o índice subiu 13,91%, aos 82.677 pontos.
Mais cedo, o fundo de índice EWZ, que replica as principais ações brasileiras (MSCI Brasil Capped ETF) ao redor de mergulhava 15% no pré-mercado de Nova York.
As bolsas da Ásia e do Pacífico fecharam em forte baixa nesta segunda-feira (16), renovando mínimas em anos, enquanto os índices europeus abriram em forte baixa, à medida que iniciativas extraordinárias tomadas por bancos centrais.
Medidas não surtiram efeito
Para tentar combater os efeitos nocivos do coronavírus sobre a economia, o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) cortou os juros para a faixa de 0% a 0,25% em uma reunião extraordinária neste domingo (15). Há duas semanas, o órgão havia feito um corte “surpresa” de 0,5 ponto percentual, para a faixa entre 1% e 1,25%.
O Federal Reserve também anunciou a compra de pelo menos US$ 500 bilhões em títulos do Tesouro e em pelo menos US$ 200 bilhões em hipotecas, de acordo com comunicado na tarde deste domingo.
Medidas de estímulo adotadas pelo Banco do Japão (BoJ) e outros BCs, em reação ao novo coronavírus, falharam em restaurar a confiança de investidores.
Pressão sobre a Selic
A decisão do Fed deve aumentar, no Brasil, a pressão para que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) mantenha o ciclo de redução da taxa básica, a Selic. A decisão do órgão vai sair na quarta-feira.
“Um fator complicador é a desvalorização forte do real. O BC vai precisar decidir se quer controlar o câmbio ou cortar juros. Não há como fazer as duas coisas ao mesmo tempo, a não ser com a queima de reservas internacionais, uma saída nada prudente neste momento”, disse o economista-chefe da Necton, André Perfeito.
De 50 analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast na sexta-feira, 41 esperam corte na Selic, hoje em 4,25% ao ano – já no seu menor patamar histórico. Destes, 21 preveem corte de 0,25 ponto percentual e 20 falam em redução de até 0,5 ponto. Dos consultados, só nove se mantêm céticos sobre a disposição do Banco Central ou sobre a efetividade da mexida nos juros.
Quando cortou a Selic de 4,5% para 4,25%, no início de fevereiro, o Copom chegou a indicar que o ciclo de afrouxamento monetário – iniciado ainda em julho de 2019 – poderia ser encerrado. Mas, na leitura do mercado, essa postura mudou logo depois de o Fed anunciar o primeiro corte de juros.
“O BC deve, no mínimo, acompanhar o sentido da mudança nos juros no mundo”, disse Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá Capital e ex-diretor do BC, que defende corte de 0,5 ponto. “O Brasil tem espaço fiscal limitadíssimo (para estimular o PIB).”
Para Carlos Kawall, diretor do ASA Bank e ex-secretário do Tesouro, o “mais adequado” seria um corte de 0,75 ponto. “É um movimento que nos deixaria mais em linha com outros bancos centrais”, afirmou ele.
O Copom se reúne a cada 45 dias para definir a Selic, buscando o cumprimento da meta de inflação. Para 2020, a meta é de 4% (com tolerância entre 2,5% e 5,5%). Com a inflação sob controle, o maior receio é com relação à perspectiva para o PIB. A estimativa é de avanço de até 1,5%. O próprio Ministério da Economia alterou sua previsão, de 2,4% para 2,1%.
*Com Estadão Conteúdo