As tensões provocadas pela crise na Ucrânia envolvendo a Rússia têm puxado uma sequência de quedas nas bolsas de valores pelo mundo todo, com aumento das incertezas e queda das commodities. Nesse cenário, alguns especialistas apontam que as criptomoedas podem ir no sentido contrário e se valorizar, mas avisam que investidores devem estar preparados para muita volatilidade.
Segundo Felipe Veloso, economista e fundador da Cripto Mestre, no curto prazo a possibilidade de um conflito poderia causar ansiedade nos investidores, favorecendo investimentos mais líquidos.
“Para criptomoedas, um conflito na Ucrânia seria a mais provável forma de mudar a tendência de queda desse ano e fazer as criptos explodirem no curto prazo”, diz ele.
“Por exemplo: quando o governo americano anunciou oficialmente a pandemia e os lockdowns, o bitcoin caiu bastante e chegou perto dos US$ 3 mil. Porém, essa mesma pandemia fez com que o governo injetasse muito dinheiro na economia e diminuísse a taxa de juros, causando a explosão das criptos. Ou seja, no curto prazo essa guerra faria os preços desabarem mas, no médio prazo, explodirem”, explica Veloso.
Desde o início da crise na Ucrânia, o valor do bitcoin acumula queda de cerca de 28% em reais e 22% em dólar, segundo cálculos feitos pelo InvestNews com base em dados do Valor Pro. Nesta quinta-feira, a criptomoeda era negociada ao redor de US$ 40 mil.
Teste para o bitcoin
Leonardo Jaguaribe, MBA em Ações & Stock Picking (IBMEC) e fundador da Cripto Holder, acredita que a tensão entre Rússia e Ucrânia, junto com o iminente aumento de juros em diversos países, será um teste para que o bitcoin continue provando sua força.
“Enquanto a situação do conflito estiver quente, a oscilação das bolsas é inevitável. Mas o bitcoin ainda continua sendo uma ótima opção de reserva de valor, mesmo com as quedas”, afirma.
Jaguaribe também compara as perspectivas para o bitcoin em meio à crise na Ucrânia com a oscilação trazida pela pandemia. “No início da pandemia, também existiu uma forte correção que foi recuperada. Saber gerenciar os riscos é fundamental”, afirma.
Hugo Carone, analista da NuInvest, também aponta que uma eventual guerra entre Rússia e Ucrânia seria um teste importante para o bitcoin. “Vai ser o primeiro grande conflito, se de fato ocorrer, desde que o bitcoin foi criado”, comenta.
“Porém, uma situação que pode ocorrer e quero acompanhar é a corrida por moeda. Se antes isso poderia ocorrer com dólar, dessa vez eu acho que pode ser com bitcoin ou stablecoin. Mas não acho que traria impacto no volume. Qualquer movimentação na cripto tende a ser muito mais uma expectativa ou especulação do que qualquer outra coisa”, analisa Carone.
Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move, acredita que o bitcoin deve chegar a US$ 100 mil ainda em 2022, mas alerta para cuidados que o investidor deve ter.
“Muitos investidores, em uma queda, ficam assustados e paralisados. Quando se está com medo, é que é a hora de comprar. Não adianta esperar o bitcoin bater os US$ 80 mil para resolver comprar porque a euforia é grande e se entra mal posicionado quando o foguete está subindo. Quando existe uma queda apocalíptica e pessoas desesperadas, é momento de comprar, mas o mercado é muito emocional”, diz Lago.
Tensões voltando
Após alguns momentos de alívio com notícias de que a Rússia teria dado início a uma retirada de suas tropas da fronteira com a Ucrânia, a tensão voltou ao mercado.
Nesta quinta-feira (17), um porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos anunciou que a Rússia expulsou Bart Gorman, segunda autoridade diplomática norte-americana em Moscou. O governo dos EUA alertou para uma possível resposta.
Mais cedo, rebeldes apoiados pela Rússia e forças ucranianas trocaram acusações de que cada um disparou além da linha de cessar-fogo no leste da Ucrânia, despertando alarme em um momento em que países ocidentais têm alertado sobre a possibilidade de uma invasão russa.
Andrey Nousi, CFA e fundador da Nousi Finance, lembra que um possível conflito militar teria impactos negativos não somente nos mercados financeiros, mas também econômicos. “Temos problemas de inflação global e de Bancos Centrais aumentando juros e investidores sem saber o impacto disso no mercado. Um conflito militar seria bem impactante.”
Nousi aponta que uma eventual invasão russa na Ucrânia “causaria muita apreensão nas cadeias produtivas, o que faria investidores irem buscar porto seguro. Muitos buscarão tesouros do Título Americano porque são considerados seguros”.
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