ETF de ativos argentinos tem melhor desempenho do mundo em 2023

Em meio ao recente decreto do presidente eleito Javiei Milei que inclui mais de 300 medidas destinadas a desregulamentar a economia da Argentina, um fundo de índice (ETF) que acompanha 25 ações do país teve o melhor desempenho do mundo em 2023 – quando comparado a ETFs de outros países.

Segundo a “Bloomberg”, o fundo Global X MSCI Argentina (ARGT) viu seus ativos quadruplicarem no ano passado, para US$ 124 milhões. Os cotistas colheram retornos na casa dos 52,5% no período.

O maior peso da carteira do ETF (21,7%) é representado pelo gigante de e-commerce Mercado Livre, que acumulou um retorno expressivo de 80,4% em 12 meses, sendo  29% apenas em novembro – mês das eleições argentinas – contra pouco mais de 11% do Nasdaq no período. O índice Merval (que mede o desempenho das ações argentinas mais líquidas) registrou ganhos superiores a 40% no mesmo mês. 

A petroleira estatal YPF – segundo maior peso da carteira (7,2%) – chegou a subir 36% em único dia após a vitória do novo governo.

Segundo apontou ao InvestNews, Leandro Petrokas, diretor de research e sócio da Quantzed, o fim da disputa presidencial levou a uma melhora da percepção do mercado em relação ao ambiente de negócios como um todo no país vizinho, além de o discurso liberal de Milei ter agradado.

E uma prova disso é que o ETF captou cerca de US$ 30 milhões em aportes apenas em dezembro, quando o dito ultraliberal assumiu o cargo, sendo este o maior valor desde o lançamento do fundo, em 2011, segundo a Bloomberg.

Euforia passageira?

No entanto, a euforia com os ativos argentinos tem tudo para ser passageira na visão da Capital Economics, diante das dificuldades que o novo governo deve enfrentar para aprovar as reformas previstas num Congresso em que 40% é de oposição. 

Uma das propostas de Milei para a área econômica é dolarizar a Argentina – algo muito difícil de ser colocado em prática, segundo especialistas, mas que já traz perspectivas de mudanças na difícil realidade cambial do país.

Para o economista e professor de comércio exterior da FIA USP Paulo Feldmann, tornar a Argentina um país sem moeda própria o transforma também em um país sem política cambial, o que impacta diretamente na atuação da política monetária ou fiscal.

Mas outras propostas, como a extinção do Banco Central e a redução do papel do Estado via privatizações, deixam no ar mais dúvidas do que certezas sobre sua viabilidade.

Para a economista-chefe da Bloomberg Economics, Adriana Dupita, Milei terá de apresentar uma estratégia concreta para reduzir o setor público e criar uma economia mais produtiva e eficiente. 

Há uma semana, o governo argentino disse que vai oferecer títulos em dólares emitidos pelo banco central a empresas com dívidas comerciais de importações não pagas.

A dívida comercial representa uma potencial fonte de pressão na moeda, já que empresas com dívidas de curto prazo com fornecedores ou matrizes procuram cancelar essas obrigações, utilizando recursos paralisados em depósitos, dinheiro, ou títulos locais, em muitos casos emitidos pelo governo soberano.

“Com nenhum acesso ao mercado cambial, o governo está vendendo-lhes um título que gradualmente fornece os recursos, aumentando o risco de crédito, mas evitando possíveis pressões sobre o moeda”, apontou o BTG em relatório do final de dezembro. 

A carteira do ARGT

Desde que foi lançado (fevereiro de 2011) até 30 de dezembro do ano passado, o ETF acumulou alta de 5,5%. Em contrapartida, 2023 foi um ano meteórico, registrando crescimento de 52,5%, segundo o Global X ETFs.

O desempenho dos pesos pesados do portfólio, além dos planos de governo de Milei, deram um empurrão. A saber como será em 2024.