As saídas líquidas registradas nos fundos de investimento no primeiro semestre deste ano bateram o montante de R$ 205 bilhões. Segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), esse maior movimento de resgates visto na indústria de fundos de investimento gerou o pior resultado da série histórica, iniciada em 2002.
No entanto, a entidade comentou em coletiva realizada nesta quinta-feira (6) que, apesar do resultado, é preciso considerar que o patrimônio líquido da indústria era menor no final de 2002 (R$ 1,5 trilhões), ante os atuais R$ 7,7 trilhões.
Comparando com o primeiro semestre de 2021, os depósitos líquidos dos investidores somaram R$ 274 bilhões, montante superior a 2019, 2020 e 2022, com R$ 167,5 bilhões, 17 bilhões e R$ 79,1 bilhões, respectivamente.
Produtos isentos de IR se destacam
De acordo com Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima, os resgates expressivos se justificam pelo fato de uma parte expressiva do dinheiro estar migrando para outros ativos de renda fixa, em especial aqueles isentos de alíquota de Imposto de Renda sobre os rendimentos.
“Na poupança também está saindo dinheiro. E essa migração se dá para produtos isentos de IR, como, Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs), debêntures incentivadas, Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs)”.
Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima
- Descubra: o que é uma empresa offshore?
Ainda segundo Rudge, o crescimento para esses tipos de produtos foi na ordem de 15% a 20% no primeiro semestre de 2023, sendo a taxa Selic ainda em 13,75% ao ano uma impulsionadora dos rendimentos destes títulos. “O que mostra também que está havendo mais uma diversificação de produtos na carteira do investidor do que uma fuga de fundos de investimento”, disse.
O dado é comprovado pelo crescimento no patrimônio líquido da industria de fundos, passando dos R$ 7,2 trilhões em junho de 2022 para R$ 7,7 trilhões em junho deste ano (7,8% de crescimento). O número de contas também registrou salto de 31,6 milhões para 35,5 milhões em igual período comparativo.
Fundos de ações e multimercados
Apesar de o Ibovespa e fundos de ações terem registrado uma boa recuperação e um certo arrefecimento de aversão à risco, fundos de ações e multimercados registraram saídas líquidas expressivas: de R$ 38,5 bilhões e R$ 53,7 bilhões, respectivamente.
Da mesma forma, por ordem crescente, fundos cambiais, de previdência e fundos de direitos creditórios (FIDCs) acumularam resgates líquidos de R$ 920,5 milhões, R$ 3 bilhões e R$ 7,6 bilhões, respectivamente, nos primeiros seis meses deste ano.
A Anbima apontou que alguns eventos específicos no começo do ano trouxeram maior volatilidade e fuga de recursos dos FIDCs, a exemplo dos casos Light (LIGT3) e Americanas (AMER3). Fundos de crédito foram impactados no começo do ano por conta da recuperação judicial das companhias.
“Com isso, investidores foram lembrados que, apesar de FIDCs serem fundos de renda fixa, eles têm um risco de crédito”.
Pedro Rudge, vice-presidente da Anbima
No entanto, foi destacado que a industria de FIDCs tem amadurecido e galgado espaço para crescer, uma vez que financiam várias empresas nos últimos cinco anos. Antes deste período, havia menos acesso à capital, de acordo com Rudge. “E os gestores estão cada vez mais vendo essa oportunidade lançando produtos nessa classe de ativos”.
Mas, apesar de uma saída expressiva de recursos em diferentes classes de fundos, há uma reciclagem de novos cotistas abrindo contas. “Quem sai dos fundos não sai completamente. Há mais uma migração”, apontou Rudge.
Agora, para uma retomada de investidores aplicando em fundos, a expectativa de queda de juros será essencial, segundo o vice-presidente da Anbima. “Olhando para frente, o comportamento e apetite dos investidores estará ligado a uma expectativa de uma queda na taxa de juros. Uma votação de arcabouço, reforma tributária, número de inflação vindo dentro do esperado, isso solidifica o entendimento de que o BC terá oportunidade de reduzir a taxa de juros”.
Ainda segundo a Anbima, vem sendo visto um melhor comportamento para os juros futuros e da própria bolsa, indicando assim que há uma tendência na queda na Selic em algum momento deste ano, “a depender da magnitude e da rapidez pra isso, vamos ver uma melhora nos números de captação”.
Fundos de índice
Os fundos de índice (ETFs), registraram nos primeiros seis meses do ano mais captações do que resgates, sendo o saldo positivo em R$ 370,1 milhões. O resultado foi puxado pelos fundos de renda fixa, com depósitos líquidos de R$ 1,1 bilhão.
No entanto, a renda fixa foi a classe mais impactada no 1° semestre de 2023, com saídas líquidas de R$ 109,9 bi. O volume representa 4% do patrimônio líquido da classe, segundo a Anbima. Dois fundos puxaram de duração baixa foram os responsáveis pelo movimento concentrado de resgates.
Já os ETFs de renda variável tiveram resgates líquidos de R$ 747,1 milhões.
Veja também
- Dois sócios, um terminal Bloomberg e um sonho: a receita de (in)sucesso das gestoras no Brasil
- Empresa apoiada por Mubadala vê ativos dobrando para US$ 100 bilhões
- Hora de acelerar para tornar o marco dos fundos realidade
- A Faria Lima aponta seu canhão de dinheiro para o mercado imobiliário em Portugal
- Gestoras brasileiras alimentam volatilidade em mercados da América Latina