O principal índice da bolsa brasileira, Ibovespa, fechou em forte queda nesta quinta-feira (10), na contramão de Wall Street, enquanto o dólar disparou frente ao real. Temores sobre a situação fiscal em meio à transição de governo pesaram sobre o mercado. O dia foi marcado ainda por dados de inflação que vieram acima do esperado para outubro.
O Ibovespa recuou 3,35%, aos 109.775 pontos, após chegar a desvalorizar mais de 4%. Foi a maior queda diária desde setembro de 2021, segundo a Reuters. Já o dólar avançou 4,10%, negociado a R$ 5,3942, após passar de R$ 5,41 máxima do dia.
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Transição de governo
O mercado acompanhou nesta tarde ao anúncio de que o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega integrará a equipe de transição do governo eleito, agravando o humor de um mercado que já se mostrava pessimista desde o início do pregão, diante de o que os investidores enxergam como riscos de descontrole fiscal sob o mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Mantega chefiou o ministério da Fazenda durante governos anteriores do PT e não tem credibilidade aos olhos de boa parte dos mercados financeiros, principalmente depois de sua atuação na gestão da ex-presidente Dilma Roussef.
Em Brasília, o presidente eleito, Lula afirmou mais cedo que há gastos públicos que têm que ser considerados como investimentos e voltou a criticar o mecanismo de teto de gastos, afirmando que ele deve ser discutido com a mesma seriedade que questões sociais do país.
De acordo com o analista Bruno Komura, da Ouro Preto Investimentos, o mercado já estava estressado com a inflação acima das expectativas nesta quinta-feira e as sinalizações no campo fiscal na véspera, e as declarações de Lula minaram ainda mais o humor dos agentes financeiros.
Komura afirmou que a perspectiva de que despesas sociais sejam excluídas do teto de gastos permite a interpretação de que o governo teria uma “carta branca” para gastar, sem pensar em responsabilidade fiscal.
“O mercado está estressado e deve continuar por mais que tenha fluxo estrangeiro“, avaliou, observando frustração entre agentes em razão de discursos recentes envolvendo a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Transição.
Essa PEC está sendo proposta pelo futuro governo para garantir financiamento fora do teto de gastos para promessas de campanha, como a manutenção do programa social em R$ 600 e o aumento real do salário mínimo.
“A equipe de transição de Lula caminha para solucionar o impasse do orçamento com a PEC de Transição aparentemente, o que adiciona mais gastos sem apontar fontes claras de financiamento. Um mau sinal para um começo de governo”, afirmou a Guide Investimentos em relatório antes da abertura da bolsa.
IPCA acima do esperado
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,59% em outubro, após baixa de 0,29% no mês anterior, segundo dados divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A expectativa de analistas era de alta de 0,48% no mês passado, acumulando em 12 meses avanço de 6,34%, apontou pesquisa da Reuters.
Inflação nos EUA
O dia também é marcado pela repercussão dos dados de inflação nos Estados Unidos, com o mercado em busca de sinais sobre os próximos passos na política de juros do Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano.
Mais cedo, os números mostraram que os preços ao consumidor nos Estados Unidos aumentaram menos do que o esperado em outubro. O Departamento do Trabalho informou que os preços ao consumidor avançaram 7,7% nos 12 meses até outubro, enquanto o núcleo do índice, que exclui os preços voláteis de alimentos e energia, aumentou 6,3% na mesma base. Economistas consultados pela Reuters esperavam altas de 8% e 6,5%, respectivamente.
Isso alimentou expectativas de que o Fed possa reduzir o tamanho de futuras altas de juros. Para Komura, isso mostra que a economia norte-americana está desacelerando e a política monetária está surtindo efeito, o que pode levar o Fed a “pegar mais leve” na próxima reunião, reduzindo o ritmo de alta do juro para 0,5 ponto percentual.
Bolsas Mundiais
Wall Street
Os índices S&P 500 e Nasdaq dispararam nesta quinta-feira e registraram seus maiores ganhos percentuais diários em cerca de dois anos e meio, depois que um sinal de desaceleração da inflação em outubro alimentou especulações de que o Federal Reserve pode se tornar menos agressivo em seus aumentos da taxa de juros.
Ações dispararam depois que os dados mais recentes de preços ao consumidor animaram investidores preocupados com o fato de que os incrementos contínuos dos custos dos empréstimos poderiam prejudicar a economia dos Estados Unidos.
De acordo com dados preliminares, o S&P 500 ganhou 5,48%, para 3.954,10 pontos. O índice de tecnologia Nasdaq avançou 7,29%, para 11.107,66 pontos. O Dow Jones subiu 3,64%, para 33.696,52 pontos.
Ásia e Pacífico
As ações da China e de Hong Kong caíram nesta quinta-feira (10), uma vez que o agravamento da situação da Covid e dados econômicos fracos compensaram o otimismo sobre uma eventual reabertura econômica.
O índice CSI 300, que reúne as maiores companhias listadas em Xangai e Shenzhen, fechou com queda de 0,77%, enquanto o índice de Xangai caiu 0,39%. O índice Hang Seng de Hong Kong teve baixa de 1,7%.
- Em TÓQUIO, o índice Nikkei recuou 0,98%, a 27.446 pontos.
- Em HONG KONG, o índice HANG SENG caiu 1,70%, a 16.081 pontos.
- Em XANGAI, o índice SSEC perdeu 0,39%, a 3.036 pontos.
- O índice CSI300, que reúne as maiores companhias listadas em XANGAI e SHENZHEN, retrocedeu 0,77%, a 3.685 pontos.
- Em SEUL, o índice KOSPI teve desvalorização de 0,91%, a 2.402 pontos.
- Em TAIWAN, o índice TAIEX registrou baixa de 0,99%, a 13.503 pontos.
- Em CINGAPURA, o índice STRAITS TIMES valorizou-se 0,24%, a 3.173 pontos.
- Em SYDNEY o índice S&P/ASX 200 recuou 0,50%, a 6.964 pontos.
*Com informações da Reuters.
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