O marco legal dos criptoativos, que foi sancionado em dezembro do ano passado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), passa a valer nesta terça-feira (20). A chamada Lei das Criptomoedas define diretrizes para orientar a regulação, a proteção e defesa do consumidor. A principal vantagem, segundo especialistas ouvidos pelo InvestNews, é a proteção jurídica ao mercado.

A negociação de criptomoedas já era permitida no Brasil, mas não havia nenhuma legislação específica sobre o tema. Agora, as prestadoras de serviços de ativos virtuais somente poderão funcionar no país mediante autorização de órgão ou entidade da administração pública federal.

criptomoeda bitcoin

Para Ricardo Pegnoratto, especialista em criptoativos da Top Gain, “o ponto mais importante é o foco em trazer uma proteção jurídica para todo o ambiente, fomentando ainda mais o cenário de criptoativos no país”.

“O Hoje, o Brasil já é destaque em vários aspectos desse mercado tão jovem. E receber uma lei que amplia, facilita e regulamenta é extremamente positivo para a adesão de uma significativa parte da população que não tem contato ou aversão ao mercado cripto.”

RICARDO PEGNORATTO, eSPECIALISTA EM CRIPTOATIVOS TOP GAIN

O presidente da Associação Brasileira de Criptoeconomia (ABCripto), Bernardo Srur, também afirma que a regulamentação estabelece regras que devem trazer “maior segurança jurídica” ao mercado.

“Com a aplicação da regra e indicação do órgão regulador, em breve, todas as empresas terão que ser licenciadas pelo Banco Central ou pela CVM. As empresas que não tiverem de acordo não poderão atuar no mercado”

Bernardo srur, presidente da ABCripto

De acordo com a lei, haverá um prazo de, pelo menos, seis meses para a adaptação às novas regras. A nova legislação será válida desde empresas pequenas e startups até os grandes bancos.

Alguns países como Estados Unidos, Portugal, Emirados Árabes e Japão adotam algumas regras do mercado para a comercialização dos criptoativos, mas não existe uma legislação vigente sobre o tema. Com isso, o Brasil sai na frente de muitos países desenvolvidos.

“O setor passa a se submeter a um regime jurídico organizado, com força e instrumentos para regulação e fiscalização, ou seja, quem descumprir as novas regras estará sujeito a consequências punitivas, fora a responsabilidade civil que poderá ser apurada em juízo”, explica Mariana Reis, do Serur Advogados.

“O funcionamento das empresas que queiram atuar no setor agora passa a depender de autorização do Estado e quem não o obtiver estará atuando de maneira clandestina”, reforça.

Banco Central é o regulador das criptomoedas

Um decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na semana passada definiu o Banco Central como órgão regulador do mercado de criptoativos. O BC vai regular o funcionamento das prestadoras de serviços, criando regras para autorização prévia e supervisionando sua atuação.

Sede do BC, em Brasília 25/08/2021 REUTERS/Amanda Perobelli

Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ficou com a competência para regular aqueles criptoativos que tenham características de valores mobiliários. O decreto presidencial diferencia os criptoativos dos valores mobiliários, como ações, debêntures, bônus e contratos futuros.

“Dentre os pontos mais importantes está a atuação do Banco Central como regulador também desse mercado, bem como, a importante tipificação penal, que tentará coibir a epidemia de golpes que têm sido praticados com o pretexto da prestação de serviços na intermediação, negociação e arbitragem de ativos virtuais.”

advogado Arthur Longo Ferreira

Ferreira destaca que com a regulação, a fraude com a utilização de ativos virtuais, valores mobiliários ou ativos financeiros poderá gerar pena de reclusão, de 4 a 8 anos, e multa.

“Além disso, poderá ser enquadrado em crime contra o sistema financeiro nacional, responsabilizando a pessoa jurídica infratora. E também, será majorada pena em caso de utilização para lavagem de dinheiro, ocultação de bens e afins”, disse ele.

O que muda com a regulação?

Na prática, veja o que muda com o novo marco legal dos criptoativos no Brasil:

Para o presidente da ABCripto, Bernardo Srur, a regulação é um passo, na prática, da operacionalização da lei, e que vai aumentar o número de investidores de criptoativos no Brasil.

“Trazendo uma segurança jurídica vai ajudar a população a confiar mais no setor, a realizar mais investimentos, a procurar mais criptoativos para compor o portfólio de investimentos”, opina.

“Além disso, vai trazer mais segurança para fundos, atraindo mais investimentos tanto das empresas internacionais que querem entrar e atuar de forma regular no Brasil quanto das empresas nacionais que queriam mais segurança para investir no país.”

Já a advogada Mariana Reis diz que o principal ponto da lei é coibir esquemas de pirâmides e fraudes financeiras, que tem aumentado gradativamente no mercado de criptoativos ao redor do mundo.

“Ressalta-se, ainda, o cuidado do legislador de prever a segurança da informação e proteção de dados pessoais como uma das diretrizes expressas da prestação de serviço de ativos virtuais, de forma que a descentralização do criptoativo não deve significar aval para o descumprimento da proteção dos dados do indivíduo”, afirma Mariana.

Atualmente, o Brasil é o novo país com maior gestão de criptoativos do mundo. Segundo dados da Receita Federal, de 2019 a 2022, foram mais de R$ 500 bilhões movimentados pelo setor. Somente em 2022, foram 12,8 milhões de investidores no país.

O que são criptomoedas?

As criptomoedas são moedas digitais e recebem esse nome pois, por meio da criptografia, as transações são confirmadas. Além disso, diferentemente das moedas regulares, elas não podem ser tocadas, ou seja, só existem na internet, e funcionam de forma descentralizada, sem intervenção dos bancos centrais. Apesar de o bitcoin ser a moeda digital mais conhecida, há milhares no mundo.

Os critoativos estão inseridos no sistema blockchain, que é um tipo de livro eletrônico em que são registradas todas as transações de usuários espalhados pelo mundo. O blockchain facilita e agiliza a verificação no banco de dados, além de evitar possíveis ações invasoras no sistema, garantindo, assim, confiabilidade e segurança nas transações.

Principais criptomoedas

Hoje, há milhares as disponíveis no mundo. Confira os nomes de criptomoedas mais conhecidas e seus objetivos: